A fabricante de pás eólicas Aeris Energy está estudando uma possível entrada nos mercados da Europa e dos Estados Unidos, buscando suprir demandas voltadas à descarbonização dos países nos próximos cinco anos. Além da demanda, a empresa destaca como oportunidade a produção local nos Estados Unidos, dado o regime de incentivos concedido pelo governo.
De acordo com Alexandre Negrão, CEO da companhia, o volume de projetos eólicos nos mercados norte-americano e europeu tem voltado a crescer após o estabelecimento de regimes de incentivos, como o Inflation Reduction Act (IRA) e o European Green Deal, levando à expectativa dessas regiões de chegarem aos 50 GW nos próximos cinco anos. Além disso, restrições devem ser impostas pelas áreas contra equipamentos chineses.
“O nosso foco está no mercado americano e no europeu, que devem pular dos atuais 22 GW para algo perto de 50 GW, e estamos nos preparando para capturar essa demanda. Temos conversas já em andamento, tanto com os clientes atuais, quanto com novos clientes para exportação para esses países. Aquilo que a gente não conseguir capturar, inicialmente, com a exportação, vamos estudar uma possível entrada nesses mercados estratégicos”, disse o CEO da companhia em teleconferência de resultados nesta quarta-feira, 15 de maio.
Em outubro do ano passado, em evento sobre o setor, o CEO da Aeris já havia falado sobre a importância do regime de incentivos norte-americanos para aumentar a demanda por eólicas. Na ocasião, Negrão disse que, com incentivos, o Brasil poderia atender a demanda do mercado dos EUA e sugeriu que estímulos fossem pensados ou retornados no país, como, por exemplo, um dos pacotes relacionados à exportação entre 2018 e 2019, que tornava o transporte de materiais da cadeia “mais barato”, fazendo com que as empresas, como a Aeris, chegassem no território americano mais competitivas.
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Aeris no Brasil
Na visão do executivo, a indústria eólica no Brasil deve passar por desafios em 2024 e 2025, dada a queda nas vendas do setor em consequência do preço da energia mais baixo e do cenário de juros elevado, levando a taxas de retorno “comprimidas” dos projetos. Para Alexandre Negrão, a demanda do Brasil e de outros países da América Latina devem somar 6 GW ao ano nos próximos cinco anos.
“Com esse cenário, os desenvolvedores estão contratando e instalando menos. O setor [brasileiro] terá dois anos desafiadores, com possível retomada em 2026. Temos que deixar a empresa preparada para passar por esse momento. Hoje, estudamos uma adequação da empresa, da parte operacional e da estrutura de capital”, destacou Negrão.
Resultados
A Aeris apresentou prejuízo líquido de R$ 41,2 milhões no primeiro trimestre de 2024 versus lucro líquido de R$ 15,7 milhões contabilizados na comparação anual.
A fabricante também reportou queda na receita líquida, de 20,9%, que alcançou R$ 515,4 milhões. Por outro lado, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos e amortização) ajustado somou R$ 42,5 milhões, recuo de 69,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Segundo a Aeris, o desempenho é resultado da redução de 23,2% no volume de pás produzidas (em MW equivalentes) no período, devido ao descomissionamento de cinco linhas no trimestre, e com saldo total de dez linhas maduras no período.
As receitas também foram pressionadas pela queda nos resultados da sua unidade de serviços, impulsionadas por uma sazonalidade mais fraca no mercado norte-americano. Já a receita de venda de pás para o mercado interno foi de R$ 499,6 milhões, queda de 21,1% na mesma base de comparação. Para atender o mercado interno, a produção de pás eólicas somou 616 MW, uma diminuição de 10,98%, reflexo das linhas descontinuadas da Siemens Gamesa.
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No período não ocorreram exportações de pás. Já a receita em serviços somou R$ 15,8 milhões, queda de 16,8%.
Na etapa, as despesas financeiras líquidas foram de R$ 54,9 milhões, uma redução de 38,7%, devido especialmente à redução de juros sobre empréstimos e financiamentos. A alavancagem líquida, medida pelo indicador dívida líquida/Ebitda, atingiu 3,3 vezes, versus 3,2 x do período anterior.
“Começamos em novembro [de 2023] um follow-on e estamos dando continuidade. Nós estamos trabalhando junto com bancos de fomento brasileiros para fazer um reperfilamento da dívida. Nós também estamos avaliando a questão de capitalização e a possibilidade de transformar ativos como prédios, por exemplo, em caixa”, falou José Azevedo, diretor Financeiro e de Relações com Investidores, sobre a alavancagem.
Além de procurar melhorar o perfil da dívida, para os próximos meses a companhia projeta a pré-operação de duas novas linhas de produção, com previsão de amadurecimento dentro de 12 meses. As potenciais ordens cobertas por contratos de longo prazo totalizam 2.563 sets de pás eólicas, com potência equivalente a 12,2 GW. De acordo com a companhia, essa demanda tem potencial para gerar R$ 10 bilhões em receita líquida no longo prazo.