Governança

Comercializadores pedem abertura da sociedade da BBCE ao mercado

Um grupo de comercializadoras de grande representatividade no mercado, insatisfeito com aumentos no custo mínimo cobrado pela BBCE para uso de seus serviços, está se movimentando para negociar com a plataforma a abertura da sua sociedade ao mercado, com a criação da figura do associado, o que envolveria a alteração da sua governança e a instauração de um modelo de custeio semelhante ao da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

Comercializadores pedem abertura da sociedade da BBCE ao mercado

Um grupo de comercializadoras de grande representatividade no mercado, insatisfeito com aumentos no custo mínimo cobrado pela BBCE para uso de seus serviços, está se movimentando para negociar com a plataforma a abertura da sua sociedade ao mercado, com a criação da figura do associado, o que envolveria a alteração da sua governança e a instauração de um modelo de custeio semelhante ao da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

A MegaWhat teve acesso a uma carta elaborada pelo grupo de comercializadoras, em um movimento que ganhou força depois que a BBCE comunicou, em 23 de junho, a nova tabela de preços e que passou a valer em 1º de julho, com aumento de mais de 100% no preço do pacote mínimo mensal, superando o patamar de R$ 10 mil por mês.

Segundo o documento, o anúncio do reajuste dizia que a BBCE “ouviu o mercado”, o que trouxe “grande decepção e descontentamento”, pois foram desconsideradas as opiniões e necessidades de grande parte dos clientes.

A intenção do grupo “não é causar divisão, criar desconforto ou empecilho à estratégia definida pela sociedade da BBCE e sua diretoria”, mas sim chamar a atenção à sua percepção de que a plataforma “passou a imputar aos seus clientes o constante aumento de custo de sua estrutura, em uma tentativa de compensar a redução das receitas pelo momento de mercado”.

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Fontes ligadas à discussão explicaram à MegaWhat que o mercado está descontente com os aumentos de custos sem a contrapartida adequada dos serviços ou ganhos de qualidade aparentes aos usuários. O entendimento é que, em épocas de grande volatilidade de preços de energia, quando o mercado está movimentado e com maior liquidez, os sócios da BBCE capturam os lucros, mas em momentos como o atual, de preços estáveis e poucos negócios, buscam compensar a queda de receita com aumento do custo cobrado dos clientes.

A carta aponta que em “inúmeras” oportunidades, para justificar aumentos nos preços, os administradores e sócios da plataforma usaram o discurso de que a BBCE seria “do mercado” e que não haveria justificativa para que os sócios arcassem sozinhos com os custos, uma vez que a empresa é mantida pelos sócios “em benefício do mercado”.

Por isso, os signatários da carta ressaltaram a necessidade de uma “discussão madura e objetiva” sobre a real importância da plataforma de preços e sobre qual deve ser a efetiva participação do mercado no seu desenvolvimento.

Atualmente, os donos da BBCE são grandes comercializadoras do mercado. Estão em seu conselho de administração executivos das empresas Delta Energia, América Energia, Capitale, Ecom e Matrix. Além disso, são acionistas as casas Atmo, Comerc, EDP Trading, Electron, Genial, Kroma, Máxima, Nova Energia, Prime Energy, Safira, Tradener, entre outras.

A proposta, assinada por aproximadamente 30 comercializadoras, pede a abertura da sociedade da BBCE ao mercado. A ideia é iniciar uma discussão para inclusão de participantes para o desenvolvimento e fomento da plataforma, incluindo novos produtos, com a expansão para além do setor de comercialização.

Para isso, a BBCE deveria adotar um modelo de custeio semelhante ao da CCEE, criando para isso a figura do associado, o que respeitaria os atuais sócios. A governança seria alterada para incluir a figura do associado na aprovação de orçamento, estratégia, produtos e conselho da BBCE, e seriam criados critérios para elegibilidade à sociedade ou ao papel de associado.

Outra parte da proposta prevê o aumento do custo mínimo atual, mas num patamar inferior aos mais de 100% de reajuste aplicados pela BBCE no início desse mês. A carta propõe uma elevação de 66%, saindo da cota mínima de R$ 4.500 para R$ 7.500 por mês, com inclusão de produtos nessa cota, como APIs (sigla em inglês para Interface de Programação de Aplicação) e boletas eletrônicas.

Esse aumento ficaria vigente até o fim de 2023, com o compromisso de permanência dos signatários da carta.

“Acreditamos que será o tempo suficiente para discutir o formato da proposta no item 2 [abertura da sociedade], possibilitando a todos uma melhor absorção dos custos para os próximos meses e reavaliação, tanto dos sócios atuais quanto de seus clientes, com a finalidade de manter discussões e obter possível avanço na proposta de ampliação da sociedade da BBCE”, conclui a carta.

A MegaWhat apurou ainda que mais de 50 casas participaram das conversas sobre a carta, mas pelo menos dez não assinaram o documento por questões de governança (precisariam de prazo maior para obter as autorizações necessárias), enquanto outras cinco não se sentiram confortáveis com a proposta de reajuste de 66%, percentual considerado elevado para o momento atual do mercado, e devem pedir a saída da BBCE.

Procurada, a BBCE informou que não recebeu a referida comunicação. “A companhia ressalta que segue sempre aberta a ouvir e dialogar com o mercado”, disse, em comunicado enviado à reportagem.