Juliana Chade escreve: CMO nas alturas e as eólicas salvando a pátria

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Publicado

06/Ago/2021 19:58 BRT

Por Juliana Chade*

A situação não está das melhores em termos de hidrologia, muito pelo contrário, tivemos o pior cenário de afluências do histórico nos últimos meses no Sistema Interligado Nacional (SIN). Os reservatórios das principais usinas do Sudeste estão com níveis mais baixos comparados aos últimos anos. Para se ter uma ideia, as principais bacias do Sudeste (Grande e Paranaíba) apresentaram redução de 30% do volume dos reservatórios, quando comparado com 2020. Se não fosse a melhora que houve em 2020 nas afluências do Nordeste, a grande geração eólica apresentando recordes na região, adicionado a pandemia do Covid-19, com um menor consumo de energia no passado, estaríamos mais próximos de um racionamento em 2021.

Dados estes fatos de baixa hidrologia, há muita necessidade de despacho térmico por ordem de mérito, e como não está sendo suficiente, o CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) também autorizou desde outubro de 2020 a geração de usinas térmicas fora do mérito para o atendimento da carga. Estas usinas geram para que se preserve mais água nos reservatórios das hidrelétricas, no entanto, os encargos pagos pelos consumidores têm subido muito.

Por conta destes fatores, o CMO (Custo Marginal da Operação), base para a formação do PLD chegou ao recorde de aproximadamente 2500 R$/MWh. O PLD está no teto regulatório desde o início de julho de 2021, em 583,88 R$/MWh. O PLD em 2021 passou a ser dado de forma horária e apesar de estarmos com preços no teto, tivemos PLD piso no Nordeste em 3 horas de agosto devido à grande geração eólica.

E o que pode se esperar nos próximos meses?

Um importante fator é a previsão meteorológica. Historicamente com o fenômeno La Niña, que representa esfriamento das águas do Oceano Pacífico, há redução das chuvas no Sul e no Sul da região Sudeste. Este foi o fenômeno que presenciamos recentemente e que ajudou para esta escassez nas afluências.

Hoje estamos em neutralidade, mas há previsão de um novo La Niña a partir de outubro. Um La Niña clássico, traz influências como descritas a pouco. Já um La Niña Modoki, com um aquecimento em uma região próxima ao do Peru, pode trazer de volta mais chuvas para a parte Sul do Brasil, melhorando a situação das afluências.

O ONS está tomando todas as medidas possíveis para evitar um racionamento, como restrições hidráulicas para evitar ainda mais a redução dos níveis dos reservatórios. Podemos ter ainda um problema de potência no final do ano, com chances de não atendimento da demanda de ponta, caso as afluências realmente não venham. Questões como aumento do limite de intercâmbio da região Norte/Nordeste para o Sudeste/Sul, mesmo com maior risco, estão sendo avaliadas para ter o benefício do atendimento energético.

Depois, é só esperar São Pedro fazer o papel dele.

* Juliana Chade é gerente de estudos de mercado e projeções de preços na MegaWhat. Acumula passagens por AES Eletropaulo, AES Tietê, Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e Comerc Energia, desde 2003. É Mestre e Doutora em Energia pela Universidade de São Paulo (USP).


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