Por: Olívia Nunes*
Depois de um mês de setembro de temperaturas elevadas em grande parte do país, outubro e agora novembro, decepcionaram aqueles que esperavam uma primavera com termômetros elevados.
Diferente do ano de 2020, onde houve uma demora no início do período chuvoso, neste ano de 2021, as chuvas retornaram a grande parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) já no mês de outubro.
Embora não tenha entrado nenhuma massa de ar polar mais intensa pelo continente, que deixasse as temperaturas mais baixas, as chuvas mais constantes e a maior quantidade de nuvens, mantiveram as temperaturas estáveis. Lembrando que a nebulosidade funciona como um cobertor para a atmosfera. Ela impede a entrada de radiação solar mais intensa, ou seja, não deixa as temperaturas subirem tanto. Mas também impede a perda de radiação terrestre, isto é, as temperaturas não caem tanto ao longo das madrugadas.
Em meados do mês de outubro a NOAA (National Oceanographic and Atmospheric Administration), confirmou a ocorrência do fenômeno La Niña, com mais de 85% probabilidade de duração até o fim do verão no Hemisfério Sul.
Uma das características do fenômeno no Brasil é a maior concentração de umidade entre as regiões Norte e Nordeste, parte disso causado pela intensificação dos ventos alísios e da presença da Zona de Convergência Intertropical, que favorece um aumento na nebulosidade e, por consequência, na chuva destas áreas.
Nas últimas semanas foi possível verificar um aumento no volume de chuvas sobre o centro e norte do SIN, com frentes frias avançando rapidamente pelo Sul e Sudeste e evoluindo de forma mais lenta no litoral da Bahia.
Para o Sudeste e Centro-Oeste, o período de La Niña é marcado por uma grande imprevisibilidade. Não quer dizer ausência de chuvas, mas distribuição mais concentrada ao norte das duas regiões e pancadas de chuva menos constantes ao centro e sul destas áreas.
No entanto, as temperaturas também têm se mostrado mais baixas do que o habitual em parte do Sul e do Sudeste. Daí vem outra caraterística da La Niña: a mudança na inclinação do jato polar, ou seja, ventos em níveis mais elevados da atmosfera, que carregam as massas de ar frio para o Brasil, deslocam as mesmas para o mar durante a ocorrência do fenômeno. E o que isto quer dizer?
Considerando que as frentes frias têm “estacionado” no litoral da Bahia e as massas de ar polar têm ficado no litoral do Sul e do Sudeste, os ventos mais frios e úmidos ficaram mais constantes sobre o leste destas regiões, trazendo temperaturas mais baixas.
Vale ressaltar, também, que há uma incidência maior de ocorrência da formação de ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul) em anos de La Niña. O que acaba justamente deixando os dias mais encobertos e com temperaturas mais amenas.
Impactos da temperatura no PLD
Se a temperatura não sobe tanto, o uso de equipamentos como ar condicionado e ventiladores acaba diminuindo. Com isto, a carga diminui. Uma vez que as chuvas retornaram de forma mais regular, mesmo com os índices de reservatório ainda não tendo se recuperado, já que viemos de um período seco e o último período úmido foi de chuvas abaixo da média, o preço acaba sendo impactado, uma vez que a oferta se torna maior que a procura.
Apenas o Sul segue com chuvas mais irregulares, mas os prognósticos de persistência nas chuvas um pouco mais volumosas nos demais submercados, têm feito com que o preço fique mais baixo.
Para um horizonte mais próximo, ainda no mês de dezembro, a expectativa é que as chuvas sigam constantes sobre os principais reservatórios do país, o que mantém os preços em baixa. No entanto, um cenário mais estendido indica que os meses de janeiro e fevereiro de 2022 serão com chuvas abaixo da média histórica. Em termos absolutos, as afluências seguem elevadas.
Mas com menos chuva, teremos menos nebulosidade, as temperaturas tendem a ficar mais altas, a carga aumenta e o preço volta a subir. Em março de 2022 as chuvas voltam a ficar mais próximas da normalidade, mas a tendência a partir de abril é para um novo período seco.
É possível verificar todas as projeções para os próximos seis meses nas análises da plataforma.
*Olívia Nunes é analista de Tempo e Vazão da MegaWhat, mestre em Meteorologia e Micrometeorologia pela Universidade de São Paulo (USP).
Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e data da publicação.
As opiniões publicadas não refletem necessariamente a opinião da MegaWhat.
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