Deloitte escreve: Armazenamento de energia de longa duração é tecnologia crucial para a descarbonização

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Publicado

19/Jan/2024 17:20 BRT


Por: Luiz Caselli, Maria Emilia Peres e Victor Bacarin*

A transição para fontes de energia limpa é uma prioridade global, e que está cada vez mais presente na agenda da sociedade, à medida que o mundo inteiro enfrenta a urgente necessidade de combater as mudanças climáticas e reduzir as emissões de carbono. Nesse contexto, o Armazenamento de Energia de Longa Duração (LDES, sigla em inglês para “Long Duration Energy Storage”) está emergindo como uma tecnologia crucial para garantir a confiabilidade das redes elétricas e fornecer energia limpa.

O LDES refere-se a tecnologias que podem armazenar energia por longos períodos, normalmente de 8 - 12 horas a várias semanas ou meses, permitindo acumular energia durante os períodos de geração abundante e disponibilizá-la quando a produção é baixa, sendo essenciais em fontes de energia limpas, como solar ou eólica, que são inerentemente intermitentes. Estas tecnologias têm aplicações diversas, como fornecer energia de backup limpa para minas remotas, centros de dados, edifícios e fazendas isoladas, podendo, até mesmo, possibilitar o calor limpo para processos industriais. Este pode ser um bom momento para se avaliar e testar o LDES. Para atender às necessidades de armazenamento, no entanto, é necessário que se invista em soluções econômicas e de longo prazo.

Um levantamento da Deloitte feito a partir da base de dados do ecossistema GreenSpace Tech, hub global focado em descarbonização da economia que liga tecnologias climáticas à indústria, o setor de geração e distribuição de energia elétrica lidera a demanda por LDES. Os Estados Unidos, por exemplo, estabeleceram a ambiciosa meta de alcançar 100% de eletricidade limpa até 2035, o que poderia exigir uma capacidade de LDES de 100 a 680 Gigawatts (GW), um salto bastante relevante em relação aos atuais 9 GW de capacidade de bateria em escala de rede.

O governo dos EUA reconheceu a importância do armazenamento de longa duração, oferecendo incentivos e financiamento substancial de US$ 350 milhões para demonstrações de projetos de LDES. Os investidores, reconhecendo essa oportunidade, têm apostado em startups de LDES, aumentando os investimentos de US$ 218 milhões em 2019 para US$ 1,2 bilhão em 2022, de acordo com a base de dados de mais de 3 mil empresas que constam da base do GreenSpace Tech.

Atualmente, há uma variedade de tecnologias de LDES sendo estudadas e adotadas, incluindo baterias de fluxo, baterias de ânodo metálico, soluções térmicas e soluções mecânicas, como ar comprimido. Estas tecnologias oferecem flexibilidade para atender às necessidades específicas de diferentes setores e geografias. Para se ter uma ideia, as baterias de ferro-ar, que são uma opção de energia verde que vem sendo estudada nos EUA, serão capazes de descarregar energia por cerca de quatro dias seguidos, muito mais do que a capacidade padrão de quatro horas das baterias de íons lítio. Outras tecnologias de LDES estão sendo adotadas no setor de energia e em outros.

Embora a busca pela descarbonização das redes elétricas e da indústria pesada esteja criando demanda por armazenamento de longa duração, o mercado é limitado pelos custos dos sistemas, que mesmo com as reduções significativas nos últimos anos devido ao crescimento da adoção, ainda se encontram em patamares muitas vezes mais altos do que o necessário para que o LDES alcance uma ampla adoção. Além disso, enquanto os modelos de negócios para armazenamento de curta duração na rede estão bastante desenvolvidos, um mercado para os serviços que o LDES pode fornecer de forma única ainda não se consolidou, o que dificulta o acesso a investimentos para alguns desenvolvedores. Por outro lado, diversos estudos preveem uma contínua tendência de queda nos custos de LDES, impulsionada pelo apoio regulatório, investimentos e desenvolvimentos tecnológicos, semelhante à tendência de redução dos preços das baterias de íons de lítio ao longo da última década. Com base nessas tendências, prevê-se que as tecnologias de LDES poderão ver uma adoção acelerada após 2030.

As organizações brasileiras e de todo o mundo devem ficar atentas e começar a avaliar tais tecnologias e casos de uso mais relevantes para seus respectivos setores. Outros estudos recentes da Deloitte apontam que empresas, governos e sociedade civil precisam agir rapidamente no combate às mudanças climáticas. Um estudo deste ano da empresa, por exemplo, mostra que a energia gerada pelo hidrogênio verde pode acrescentar US$ 1,4 trilhão anual à economia global até 2050. Outro levantamento, do ano passado, revela que as mudanças climáticas podem causar perdas de US$ 17 trilhões na América do Sul até 2070. Diante dessas perspectivas, torna-se mais urgente, a cada dia, considerar os investimentos em tecnologias para a descarbonização.

* Luiz Caselli, sócio da área de Strategy, Analytics e M&A da Deloitte; Maria Emília Peres é Líder das Ofertas Integradas da Deloitte Brasil para Clima, Sustentabilidade & Equidade e do GreenSpace Tech da Deloitte e Victor Bacarin, consultor sênior da área de Strategy, Analytics e M&A da Deloitte. 

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