Óleo e Gás

Aumento da oferta nacional de gás pode destravar investimentos de R$ 98 bi da indústria

A redução pela metade do volume de gás natural reinjetado nos campos de produção do país viabilizaria investimentos da ordem de R$ 98 bilhões em novos projetos das indústrias química, petroquímica e de fertilizantes, que utilizam o gás como matéria-prima de seus processos. 

Dutos da unidade de processamento de gás natural no pólo industrial de Guamaré *** Local Caption *** UPGN. Esta imagem foi utilizada no Relatório Anual Petrobras 2005, página 14. Foto utilizada no atlas de Integração do Setor de Gás Natural ao Sistema Elétrico Brasileiro, publicado pelo Gás & Energia, primeira edição, página 234.
Dutos da unidade de processamento de gás natural no pólo industrial de Guamaré *** Local Caption *** UPGN. Esta imagem foi utilizada no Relatório Anual Petrobras 2005, página 14. Foto utilizada no atlas de Integração do Setor de Gás Natural ao Sistema Elétrico Brasileiro, publicado pelo Gás & Energia, primeira edição, página 234.

A redução pela metade do volume de gás natural reinjetado nos campos de produção do país viabilizaria investimentos da ordem de R$ 98 bilhões em novos projetos das indústrias química, petroquímica e de fertilizantes, que utilizam o gás como matéria-prima de seus processos. Esses investimentos também permitiriam um aumento de R$ 402 bilhões do PIB brasileiro, além de gerar 2,8 milhões de novos empregos, aumentar em R$ 54 bilhões a massa salarial e ampliar em R$ 9 bilhões a arrecadação de impostos do país.

Os números foram apresentados na última semana pela Coalização pela Competitividade do Gás Natural Matéria-Prima ao novo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Criada há alguns meses, a coalizão reúne representantes da indústria de gás natural e dos setores químico, petroquímico e fertilizantes, com o objetivo de discutir e propor políticas públicas para aumentar a oferta e a competitividade do gás natural brasileiro.

“Nosso principal objetivo é ter gás natural em quantidade suficiente e a preços competitivos”, afirmou David Roquetti, coordenador da coalizão e representante da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi).

Reinjeção

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De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), do total de gás natural produzido no Brasil em novembro de 2022, de 140,4 milhões de metros cúbicos/dia, 51% (72,2 milhões de metros cúbicos/dia) foram reinjetados nos campos petrolíferos. Para se ter uma ideia, a média mundial de reinjeção de gás natural é da ordem de 20%, percentual que geraria a oferta necessária de gás para viabilizar os investimentos projetados pela coalizão.

Oferta abundante e custo competitivo do gás são fundamentais para os setores químico, petroquímico e de fertilizantes. No caso dos fertilizantes, o gás responde por cerca de 80% dos custos totais do processo produtivo. E a falta de oferta nacional de fertilizantes faz com que o país importe 90% do NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) utilizado internamente. Os fertilizantes, por sua vez, são essenciais para o agronegócio, setor em que o Brasil é potência mundial.

“Somos um gigante com pés de barro”, afirmou Roquetti, em relação à dependência do setor agrícola a fertilizantes externos.

Com relação ao gás natural, a pauta da coalizão é ampliar a oferta do energético,  especialmente aquele produzido no pré-sal, por meio da redução da reinjeção. Também há o interesse na ampliação da oferta de gás da Bolívia e da Argentina.

Transporte de gás

Na parte de transporte, a preocupação do grupo é como viabilizar novos sistemas de escoamento do gás do pré-sal e capilarizar a malha de dutos terrestres existente no país.

O presidente executivo da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Augusto Salomon, que participou da reunião com o ministro na última semana, disse que o objetivo do grupo é revitalizar as indústrias química, petroquímica e de fertilizantes do país, por meio do aumento da competitividade do gás natural brasileiro e a redução da dependência internacional.

Também participaram da reunião representantes da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), da Confederação Nacional do Transporte (CNT), da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) e da Transportadora de Gás do Brasil Central (TGBC), entre outros.

Plano de ação

A ampliação da produção nacional de fertilizantes deve fazer parte do plano de ação para os primeiros 100 dias do governo Lula, de acordo com a proposta do grupo técnico de Minas e Energia da equipe de transição. O grupo recomendou a formulação e a execução de um programa interministerial para estimular o aumento da oferta de insumos para a indústria nacional de fertilizantes, incluindo novas proposições regulatórias, tributárias e desenvolvimento tecnológico, entre outras. 

A equipe de transição acredita em uma participação maior da Petrobras no setor de gás natural, por meio do programa Novo Mercado de Gás, cuja reformulação foi sugerida no relatório da equipe, ou através de investimentos na infraestrutura de transporte de gás natural do país e em estações de compressão, devido à revisão do contrato do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol).

Investimentos

Salomon, da Abegás, entende ser necessário um aumento do volume de investimentos no setor de gás natural brasileiro e que, pelo perfil do governo, é provável que a Petrobras retome investimentos no segmento. “Estamos no momento de trazer investimentos para o gás natural no país. A Petrobras deve retomar o protagonismo em investimentos em infraestrutura [de gás natural]”, disse o executivo.

Os investimentos em infraestrutura para escoamento de gás natural, incluindo gasodutos e unidades de processamento de gás natural (UPGNs), podem proporcionar a redução dos volumes de reinjeção e a diminuição da necessidade de importação, reduzindo a exposição do Brasil a fatores externos com relação ao insumo, avalia o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Preços

No cenário externo, sobretudo na Europa, o alívio nos preços do gás natural liquefeito (GNL) pode ser momentâneo, de acordo com Bruno Pascon, diretor do CBIE. Tudo dependerá, explica o especialista, do comportamento da China e da Europa ao longo deste ano.

A consultoria projeta um crescimento de 4,8% do PIB chinês em 2023, contra os 2,7% estimados para o ano passado. A alta prevista para este ano pode ser ainda maior. “Não é só a questão de fim de lockdown [na China] em si. É muito mais que isso. É também a reabertura da fronteira [do país]”, acrescentou Pascon.

Segundo o especialista, o cenário internacional continua instável, sobretudo por causa dos efeitos da guerra Rússia x Ucrânia. “Qualquer movimento no mercado, estressa muito”, afirmou. “Continuamos vendo preços do gás natural descolados do preço do petróleo”.

Para a consultoria Rystad Energy, os preços do gás devem recuar em 2023 com base na tendência atual, mas permanecerão elevados em comparação com os níveis históricos, pois o déficit estrutural que começou em 2022 permanece neste ano.

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