Agentes do mercado de gás natural liquefeito (GNL) e de estocagem de gás natural apresentaram na ROG.e (antiga Rio Oil & Gas) suas soluções para uma maior flexibilidade de gás no país. Segundo informações do Ministério de Minas e Energia (MME), a malha de transporte brasileira tem cerca de 9,4 mil quilômetros, concentrados na costa. O transporte dutoviário tem ainda regulação rigorosa, que prevê obrigações de carregamento e retirada.
“Um dos entraves para esse mercado de gás natural não se desenvolver é a falta de flexibilidade”, disse o presidente da GNLink, Marcelo Rodrigues, em painel na ROG.e nesta quarta-feira, 24 de setembro. A empresa tem três plantas de GNL no país, e prevê dobrar este número até 2026.
Segundo Rodrigues, o negócio atende até mesmo as concessionárias. “É importante dizer quem são nossos clientes. São as distribuidoras de gás natural, que têm desafios imensos de puxar gasodutos de distribuição”, disse. Indústria e setor automotivo também recebem o GNL da companhia.
A GNLink não é produtora de gás, e atua apenas na parte logística. No modelo da empresa, o gás liquefeito é transportado em caminhões para regiões que não são atendidas por gasodutos, ou para clientes que não têm contrato com as distribuidoras. Outras empresas, como a GNL Brasil, atuam em formato parecido. Saiba mais sobre o GNL de pequena escala na GasNews.
Origem aposta em estocagem de gás
Outra possibilidade para dar mais flexibilidade é a estocagem de gás natural. O negócio consiste em utilizar formações geológicas como campos depletados, aquíferos ou cavernas salinas para armazenar gás natural.
O Brasil está prestes a ter seu primeiro negócio nesta área, por meio de uma joint-venture entre Origem Energia e a Transportadora Associada de Gás (TAG), que deve ter investimento faseado de US$ 200 milhões da TAG, enquanto a Origem entrará com os campos depletados do Polo Alagoas.
Sem estocagem de gás, toda a carga que é produzida precisa ser injetada na rede para consumo, ou reinjetada nos campos. Por isso, na prática, os gasodutos acabam funcionando como uma espécie de armazenagem informal de gás, mas a capacidade e os prazos são limitados.
“A estocagem é uma infraestrutura de balanceamento para absorver as variações de oferta e demanda que nunca estão casadas”, disse a diretora Comercial da Origem, Flávia Barros. A executiva explicou que a oferta de gás é orientada pela operação das empresas – e, no caso das atividades offshore, estão muito atreladas à produção de petróleo, já que o gás vem associado ao óleo. Do lado da demanda, a variação estaria ligada à sazonalidade da indústria e a questões como despacho térmico.
“Não temos um mercado nesse momento que pode reagir de forma dinâmica quando tem um pouco a mais ou a menos de gás. Se tem a mais, tem que cortar produção, se tem a menos tem que importar GNL”, disse o diretor Técnico da Origem Energia, Nathan Biddle, em painel da ROG.e nesta quarta-feira, 25 de setembro.
Assim, a estocagem poderia absorver as variações, recebendo gás quando houver maior produção e disponibilizando o estoque quando houver menor produção ou maior demanda. Do lado do consumidor, as vantagens estariam na possibilidade de assumir contratos inflexíveis, mais baratos, com a possibilidade de estocar quando houver demanda menor e retirar o gás quando a demanda aumentar.
Mercado pode criar novos modelos
A GNL Brasil é uma das formas de escoamento do gás da Eneva, produtora de gás onshore e geradora de energia que criou um modelo de negócios no país para monetização do gás com base na geração térmica.
No Complexo Parnaíba, a empresa construiu uma planta de 1,9 GW próxima aos reservatórios de gás natural e, no projeto Azulão-Jaguatirica, a empresa leva por via rodoviária o gás produzido no campo de Azulão, no Amazonas, para abastecer a térmica Jaguatirica II, de 141 MW e localizada em Roraima.
“Se tiver regulação e incentivos adequados, tem investidores, apetite, vontade, capacidade técnica, regulatória, de engenharia e geologia para desenvolver o potencial do gás do Brasil”, disse o diretor Executivo de Relações Externas da Eneva, Aurélio Amaral, em painel no dia 24 de setembro.
Nathan Biddle, da Origem Energia, fez análise parecida em painel no dia 25 de setembro. O executivo reconheceu que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) desempenha um papel “muito robusto, muito bom”, mas acredita que o mercado pode apontar algumas soluções.
“Não podemos esperar um planejamento para resolver todos os nossos problemas de gás. O mercado pode fazer isso. Não podemos ficar esperando achando que alguém vai ter a solução para tudo”, disse o executivo.