Apesar de ter volumes de gás suficientes para exportação, a Argentina não deve conseguir enviar suas moléculas ao Brasil com volume e preços competitivos nos próximos anos, avalia a presidente da Transportadora Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), Angélica Laureano.
No começo de abril, a Matrix Energia, TotalEnergies e YPFB promoveram a primeira importação do gás argentino, em uma operação piloto interruptível, no volume total de 4,5 milhões de m³ enviado ao logo de alguns dias.
“No longo prazo, não tenho condições de trazê-lo de forma firme. Talvez chegue aqui em 2029, por aí, porque antes disso é muito difícil que ele chegue de forma competitiva em volumes razoáveis”, disse a executiva durante o Fórum Brasileiro de Líderes em Energia, nesta quarta-feira, 9 de abril, no Rio de Janeiro.
A executiva destacou que esta primeira remessa foi interruptível e sazonal, com volumes que não devem estar disponíveis durante o inverno argentino. Além disso, o país também estabelece um preço alto pela molécula para exportação.
Na Bolívia, as tarifas cobradas pela YPFB para viabilizar a passagem do gás são altas, “entre US$ 1,5 e US$ 2 por milhão de BTU”, comentou Laureano. “É uma tarifa alta que, somada à tarifa do transporte na Argentina, mais a molécula, chega à fronteira com o Brasil num preço que não é minimamente competitivo com o gás da Bolívia”, avaliou.
Infraestrutura para o gás
Além dos altos custos, falta infraestrutura na Argentina para o envio de volumes de gás mais expressivos. “Vaca Muerta tem muito volume de gás. A questão é que, para esse gás de Vaca Muerta chegar ao Brasil, ele tem que passar por alguns dutos que não têm capacidade para trazer os tais 10 milhões de m³. Precisa ter investimento nesse duto para que ele tenha capacidade para trazer esse gás, passar pela Bolívia e aí chegar ao Brasil”, contou a executiva.
No fim de 2024, o Ministério de Minas e Energia (MME) avaliou que seria possível importar 10 milhões de m³ do país vizinho ao fim de 2025. Laureano complementa que, no Brasil, os dutos da TBG têm capacidade de 32 milhões de m³ e, portanto, conseguiriam receber os volumes adicionais sem problemas.
Uma solução para este impasse seria um grande comprador que viabilizasse os investimentos para a construção desta infraestrutura. Apesar do grande número de comercializadoras que têm recebido aval da agência reguladora para importar gás da Argentina, estas iniciativas ainda não são suficientes para justificar os investimentos necessários.
“Não basta comprar o contrato por um mês, ele tem que comprar um contrato para transportar um volume de gás por um período de tempo longo, que viabilize o investimento que precisa ser feito lá”, disse.
Assim, a executiva avalia que para que o gás argentino chegue ao Brasil em grandes volumes e de forma firme e competitiva, ainda faltam alguns passos. “Nós precisamos de negociações bilaterais Brasil-Argentina sobre o destravamento desse preço mínimo de venda dessa molécula para exportação, precisamos do destravamento dos investimentos necessários, seja para esse gás vir via Bolívia, seja para esse gás vir via a TSB [Transportadora Sul-Brasileira de Gás], que é uma outra alternativa. Ou pelo Paraguai”, concluiu.
Atualmente, a única rota que já possibilita a movimentação das moléculas, mesmo com as limitações apresentadas, é pela Bolívia, com a inversão do fluxo de gás entre Bolívia e Argentina. As rotas pelo Paraguai ou pelo Uruguai, via TSB, requerem a construção de centenas de quilômetros de dutos, ainda inexistentes.