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'Nova 3R' deve aproveitar sinergia de mais de US$ 1 bi após fusão

Com incorporação da Enauta, empresa pretende focar em operações de baixo risco e otimizar sinergias

Diretoria da 3R Petroleum após integração com Enauta
Diretoria da então 3R Petroleum no escritório da empresa, após integração com Enauta. Brava Energia, novo nome da empresa, foi anunciado ao mercado na última sexta-feira, 30 de agosto. | MegaWhat

Após uma negociação ágil, que resultou em uma bem-sucedida integração de negócios com a Enauta, a 3R planeja fechar seu novo planejamento estratégico até novembro deste ano, com foco em ativos de baixo risco e retorno mais rápido, a fim de usufruir as sinergias operacionais, que devem superar US$ 1,2 bilhão.

Segundo Decio Oddone, que é o presidente da nova empresa, não houve planejamento entre as partes até a autorização da transação por parte do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Agora é que a gente vai se debruçar sobre essas questões”, disse a jornalistas nesta sexta-feira, 2 de agosto – segundo dia da nova empresa.

Mesmo assim, já há algumas diretrizes no radar. A nova empresa deve se concentrar em ativos de baixo risco e retorno mais rápido. A empresa deve assumir alguns riscos exploratórios, mais concentrados em áreas próximas a onde a empresa já tem atividades e infraestrutura. “Tem blocos ao redor de campos de nossa produção. Isso é baixo risco”, disse Rodrigo Pizarro, que agora é diretor Financeiro da empresa.

O diretor de Operações Carlos Mastrangelo lembra que em 2023, enquanto a Enauta perfurava poços para Atlanta, um trabalho exploratório em região próxima encontrou nova acumulação, que foi chamada Atlanta NE e tem cerca de 230 milhões de barris de óleo.

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A orientação para projetos de menor risco também deve significar que ativos da Enauta novas fronteiras, como nas bacias de Pará-Maranhão, e Sergipe-Alagoas, não devem ser trabalhados no momento.

Sinergias operacionais

A nova diretoria da 3R avalia que as companhias se integraram em um momento limiar a grandes entregas. Do lado da Enauta, a chegada do FPSO Atlanta, com capacidade para 50 mil barris de óleo por dia, abre caminho para um salto na produção do campo de mesmo nome – atualmente, Atlanta produz 20 mil barris por dia, com o FPSO Petrojarl.

A nova plataforma já está com as conexões submarinas concluídas, mas aguarda autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para começar a operar.

Segundo os executivos, todas as exigências do Ibama já foram cumpridas, e falta apenas uma visita final do órgão para liberar a plataforma. Tal visita já estaria agendada e seria compatível com o planejamento de primeiro óleo para agosto. Entretanto, a “operação padrão” da ANP pode atrasar o cronograma – o que não assusta a empresa, pois a Enauta já havia preparado um “plano B”, com extensão das atividades de Petrojarl.

Quando começar a operar, o FPSO Atlanta deve manter os atuais níveis de produção do campo, na casa de 20 mil barris de óleo por dia. O pico de produção do FPSO Atlanta, inicialmente, estava previsto para primeiro trimestre de 2025. Os executivos não detalharam qual seria a quantidade de barris produzida neste momento.

Já a 3R, que adquiriu ativos da Petrobras, só concluiu a transação de duas reservas importantes há poucos meses: o Polo Potiguar foi concluído em junho de 2023 e Papa Terra em dezembro de 2022. “A 3R teve pouco tempo ainda para absorver esses ativos, entendê-los e melhorá-los”, avalia Pizarro.

Apesar de não darem previsões de produção, os executivos avaliam que a produção combinada das empresas no segundo trimestre de 2024 teria superado a marca de 80 mil barris de óleo equivalente por dia.

A produção e a rentabilidade devem ser otimizadas com a integração. As sinergias operacionais “facilmente identificadas” devem significar, logo no começo da operação, ganhos de US$ 1,2 bilhão. Pizarro também avalia que haverá ganhos em ratings, “provavelmente no curto prazo”, que tornarão os financiamentos mais baratos para a empresa.

Do lado comercial, a integração de Enauta e 3R proporciona uma produção complementar, com óleos de qualidades diferentes. Há, ainda, a capacidade de armazenagem da companhia – a 3R tem capacidade de estocagem para quase dois milhões de barris no Rio Grande do Norte e, com a operação do FPSO Atlanta, mais 1,6 milhão de barris poderão ser estocados.

“Tem uma série de oportunidades para você trazer flexibilidade e eficiência logística na forma como você comercializa esse petróleo”, avalia Pizarro. Em gás natural, a nova empresa deve estar entre as maiores produtoras da molécula, sendo boa parte em campos de gás não associado ao petróleo, complementa o executivo.

Parcerias com PetroReconcavo

No radar da nova empresa, também continua a ideia de uma parceria com a PetroReconcavo para compartilhamento de estruturas na unidade de processamento de gás natural (UPGN) de Guamaré, no Rio Grande do Norte. O ativo pertence à 3R, mas também processa gás da PetroReconcavo produzido na região.

A UPGN tem capacidade total de processar até 5,7 milhões de m³ de gás natural por dia e é dividida em três unidades, das quais apenas uma está sendo usada.

Segundo Pizarro, a projeção é que com o tempo a produção da 3R e da PetroReconcavo ultrapassem a capacidade em uso atualmente. Com a necessidade de ampliar a capacidade de processamento, é mais vantajoso para ambas as companhias dividir os custos destas melhorias do que cada empresa ter sua própria unidade.

Cortes

A empresa também avalia que haverá “sobreposições” de funções, e prepara um pacote de saída para executar os cortes de pessoal até o fim de setembro. “A partir do final de setembro, a equipe está formada e aí é operação normal”, disse Oddone.

Em relação às sobreposições de funções, “o que é mais fácil de visualizar nesse primeiro momento são as principais gerências”, avalia Oddone.

Reunião do Conselho

O novo conselho de administração da companhia se reuniu pela primeira vez nesta quinta-feira, 1º de agosto. Segundo os diretores, a reunião foi “de organização”, com aprovação de renúncias e eleição dos novos diretores e conselheiros.

A empresa deve mudar de nome, mas por enquanto continuará se chamando 3R. A Enauta e suas subsidiárias foram incorporadas à 3R, que agora é a única empresa listada em bolsa.

A nova companhia será uma “corporation”, sem acionista de referência. Segundo os executivos, o maior acionista é o banco Bradesco, que tem 12% da nova organização.

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