Na Argentina, uma grande reserva de óleo e gás não-convencionais está depositada na formação Vaca Muerta, entre as províncias de Neuquén, Rio Negro, La Pampa e Mendoza. Diante da demanda crescente por gás no Brasil, é importante para o país encontrar outra fonte que substitua o gás boliviano.
E o gás não-convencional de Vaca Muerta, na Argentina, tem sido apontado como possível substituto. As reservas abundantes e o baixo custo de exploração – estimado entre US$ 1,60 e US$ 2,30 o milhão de BTU pela consultoria Gas Energy Latin America – são vantagens.
Segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos (EIA), as reservas de Vaca Muera são de 308 trilhões de pés cúbicos (TCF) – para comparação, as reservas conhecidas brasileiras somam cerca de 12 TCF.
Segundo a petroleira argentina Tecpetrol, Vaca Muerta poderá ter um pico de produção na casa dos 450 milhões de m³ por dia durante 20 anos. Este montante é bastante superior ao consumo argentino, que somente deve alcançar os 300 milhões de m³ por dia na década de 2040 – atualmente, não chega a 200 milhões de m³/dia.
Assim, deve sobrar bastante gás para abastecer outros mercados. A infraestrutura, entretanto, é um desafio, já que Vaca Muerta fica distante dos maiores centros consumidores. O Gasoduto Presidente Nestor Kirchner (GPNK) deve solucionar este acesso, mas a obra é complexa. A primeira fase, que compreende 570 km de dutos, foi inaugurada em julho de 2023 e levou o gás até província de Buenos Aires, na cidade de Salliqueló.
Ainda é previsto outro trecho, de mais 520 quilômetros, até a comuna de San Jeronimo, na província de Santa Fe. A expectativa é que o trecho seja licitado neste mês.
Enquanto isso, o governo argentino busca apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) e para isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deu declarações favoráveis à participação do BNDES, embora nenhum acordo formal tenha sido divulgado até o momento.
Este segundo trecho do GPNK poderá trazer o gás para mais próximo do Brasil. Uma possibilidade de conexão está na cidade de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. A Transportadora Sulbrasileira de Gás (TSG) tem 25 km que ligam Uruguaiana (RS) à rede argentina da Transportadora de Gás del Mercosur (TGM), e mais 25 km de dutos que ligam Canoas (RS) à malha da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG). Falta, entretanto, uma rota de 565 km para unir as duas extremidades.
Com tantos investimentos estruturais, a Tecpetrol estima que custo do gás chegaria a US$ 5,60 o milhão de BTU até Uruguaiana, US$ 6,50 o milhão de BTU até Porto Alegre e US$ 7,20 até São Paulo. Além do custo, há a questão do prazo, já que muitas obras ainda precisariam ser iniciadas.
Outra alternativa, que depende apenas do segundo trecho do GPNK, seria aproveitar as estruturas de conexão entre Argentina e Bolívia e, daí, trazer o gás para o Brasil pelo gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol). Embora o custo não represente uma grande vantagem, pois segundo a Tecpetrol o gás chegaria a São Paulo custando US$ 7,70 o milhão de BTU, o benefício é que a maior parte da estrutura já está pronta. E, com a queda nas exportações bolivianas, o Gasbol deverá ficar cada vez mais ocioso.
Por que a importação de gás de Vaca Muerta pode ser importante para o Brasil
O Brasil tem uma situação de baixa oferta de gás natural, com importante complementação do gás importado. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME), em 2022 a demanda pelo combustível foi de 67,9 milhões de m³ por dia. A produção nacional (já descontadas perdas como reinjeção, consumo da própria plataforma e queimas de segurança) foi de 47,56 milhões de m³ por dia.
A oferta interna é complementada por importações, sobretudo da Bolívia, que em 2022 enviou ao Brasil 17,5 milhões de m³ de gás natural por dia – montante bastante superior ao da regaseificação de gás natural liquefeito (GNL), que foi de apenas 6,5 milhões de m³ por dia.
Apesar de representar uma parcela relevante para o mercado brasileiro, a oferta de gás boliviano tem se reduzido ano a ano. Em 2007, por exemplo, foram importadas 27,5 milhões de m³ por dia da Bolívia. E, segundo estudo do Instituto de Energia da PUC-Rio (IEPUC), as exportações de gás boliviano para o Brasil devem se encerrar em 2030. Este declínio ocorre porque as reservas existentes no país vizinho estão se esgotando, e as campanhas exploratórias para descoberta de novas fronteiras são insuficientes.
O estudo da Tecpetrol foi apresentado pelo gerente de Desenvolvimento de Gás Natural da empresa, Carlos Rabuffetti e os preços da Gas Energy Latin America foram apresentados pelo sócio-diretor da consultoria, Alvaro Rios, durante o Rio Pipeline 2023. Os valores não incluem impostos.