Opinião da Comunidade

Segurança jurídica e visão de futuro: o que o cancelamento do leilão de capacidade nos ensina sobre o setor elétrico brasileiro 

Gabriel Cavados fala sobre leilão
Gabriel Cavados fala sobre leilão

Por Gabriel Cavados*

O cancelamento do leilão de capacidade, anunciado recentemente pelo Ministério de Minas e Energia (MME), pode ser interpretado como um revés à primeira vista. Mas, analisado com atenção, o episódio revela pontos estruturais que precisam ser enfrentados — e também abre caminhos para avanços regulatórios necessários ao futuro do sistema elétrico brasileiro. 

A principal controvérsia girou em torno da fórmula de precificação — o fator A — publicada após o encerramento do prazo de cadastramento dos projetos. Embora represente um avanço relevante ao introduzir o conceito de flexibilidade como atributo valorizado na contratação, o timing da divulgação comprometeu a previsibilidade do processo, levando à judicialização e, por consequência, à suspensão do certame. 

A Wärtsilä considera o fator a um importante passo à frente. Mesmo com peso ainda modesto na fórmula, ele sinaliza a intenção do governo em construir um sistema mais responsivo, capaz de lidar com a variabilidade das fontes renováveis variáveis. Em um cenário em que a confiabilidade e a capacidade de resposta são tão estratégicas quanto o preço por MWh, valorizar atributos de flexibilidade é o caminho correto. 

Estamos prontos — inclusive para 2028 

Apesar da incerteza regulatória temporária, seguimos prontos. A Wärtsilä mantém total capacidade de atender aos projetos com entrega até 2028, mesmo se o novo leilão ocorrer apenas no primeiro trimestre de 2026. Temos soluções em geração térmica flexível — prontas para operar com gás natural, biocombustíveis e preparadas para blends de hidrogênio — com rápida instalação e confiabilidade técnica já comprovada em diversos países. 

Essa não é uma promessa vazia — é baseada em fatos concretos. 

Em 2021, o Brasil viveu uma das piores crises hídricas da história recente. Em resposta à urgência do momento, o governo realizou um leilão emergencial, com cronogramas extremamente desafiadores. A Wärtsilä venceu a concorrência com três projetos movidos a gás natural — Linhares, Tevisa e Povoação — e entregou as usinas em menos de nove meses, dentro da janela exigida, mesmo enfrentando uma série de gargalos logísticos, atrasos de carga internacional e uma greve portuária. 

Foram mobilizadas mais de 600 pessoas, importados equipamentos diretamente da Finlândia, montados sistemas críticos no campo, e organizadas operações em dois turnos. A primeira planta entrou em operação comercial em julho de 2022 — um marco de eficiência operacional e coordenação global. Isso é entrega em regime Fast Track. E é o que nos torna uma das únicas empresas com capacidade real de assumir compromissos energéticos com prazos críticos e alto nível de exigência técnica. 

Seguimos apoiando nossos parceiros e clientes, muitos dos quais permanecem ativos e confiantes na necessidade estratégica de contratação de potência. E reforçamos nosso compromisso em contribuir com a próxima audiência pública, defendendo melhorias e ajustes que garantam um leilão competitivo, transparente e alinhado aos desafios reais do setor. 

Mais previsibilidade, mais confiança 

A instabilidade regulatória é sempre um desafio — mas não é inédita nem exclusiva do Brasil. O importante é que as lições desse episódio levem a um processo mais transparente e previsível. A Wärtsilä permanece engajada com o desenvolvimento do setor energético brasileiro, oferecendo soluções confiáveis para a transição energética e construindo, junto com governo e sociedade, um modelo de contratação que reflita as reais necessidades do sistema. 

Acreditamos que a retomada do leilão, feita com diálogo e solidez técnica, será não apenas possível — mas essencial para garantir segurança energética e competitividade no médio e longo prazo. 

* Gabriel Cavados é diretor de Vendas de Projetos na Wärtsilä