Fim de contrato

Bolívia redireciona gás da Argentina para o Brasil 

A manobra foi planejada devido à decisão do governo argentino de antecipar o final do contrato

Instalação de gás natural.
Instalação de gás natural - Crédito: Tauan Alencar (MME) | Foto: Tauan Alencar/MME

Após interromper o fornecimento de gás para a Argentina, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), estatal boliviana de petróleo e gás, informou nesta quinta-feira, 26 de setembro, que o seu gás será redirecionado para o Brasil.

A manobra da Bolívia foi planejada devido à decisão do governo argentino de antecipar o final do contrato, em meio a conclusão de alguns trajetos da reversão do Gasoduto Norte, obra fundamental que permitirá o transporte de gás de Vaca Muerta.

Mesmo com a antecipação, Óscar Claros Dulón, gerente de contratos de exportação de gás natural da YPFB, diz que não é um problema para a empresa, que já sabia dessa possibilidade e vinha atuando com a empresa estatal de energia da Argentina (Enarsa) para este momento.

“Sabíamos que o contrato de exportação de gás assinado com a Enarsa iria terminar antes do prazo original do contrato. Viu-se que 2024 seria o ano em que se veria essa mudança de fluxo, essa mudança de demanda. Para nós, não é problema de forma alguma porque esse gás tem mercado garantido no Brasil, um país ávido por energia”, disse Dulón.

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Para o presidente da YPFB, Armin Dorgathen Tapia, o Brasil tem uma “demanda insatisfeita muito grande” e que o mesmo gás vendido à Argentina será comercializado no Brasil por “preços competitivos”.

“O preço que a Enarsa nos pagou foi um pouco superior ao preço que a Petrobras nos paga. No entanto, houve uma desregulamentação do mercado de gás no Brasil, o que permitiu que novos players competissem na indústria do gás. Portanto, nós, como YPFB, diversificamos nosso portfólio e agora temos cerca de oito a dez clientes diferentes para fornecer gás natural no Brasil”, explicou Dulón.

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Argentina e Bolívia

A importação de gás natural da Bolívia começou em 2006, quando a Argentina enfrentou uma séria crise de fornecimento de combustíveis devido à queda da produção interna. Inicialmente, o acordo entre os países acabaria em 2026, mas acabou sendo antecipado para o final de julho deste ano em razão da diminuição do volume disponibilizado pela estatal boliviana.

O último prazo acabou sendo postergado por dois meses, porém foi novamente antecipado pela reversão do Gasoduto Norte. Dados oficiais da Entidade Reguladora de Gás da Argentina (Enargas), apontam que o país reduziu sua importação da molécula bolíviana de 7,6 milhões de m³ médios em agosto de 2023 para 3,9 milhões de m³ em agosto de 2024, parando completamente a atividade em 18 de setembro deste ano.

Decreto boliviano

Um mês antes do encerramento do contrato, o governo da Bolívia publicou decreto alterando uma regulamentação de 2007 sobre o transporte de hidrocarbonetos por dutos e inserindo uma nova função à estatal YPFB.

Segundo o texto, ficou definido que a molécula proveniente de terceiros e que atravessa o Sistema Integrado de Transporte de Gás poderá utilizar os gasodutos de exportação destinados ao mercado internacional, sob a direção do agregador de gás em trânsito, papel a ser desempenhado pela YPFB.  

Em sua nova função, a estatal será responsável por prestar, aos vendedores e compradores internacionais, os serviços de recepção, programação, transporte internacional e entrega de gás natural pelo Sistema Integrado de Transporte de Gás em Trânsito – composto pelos ativos das transportadoras YPFB Transporte, YPFB Transierra, YPFB Andina e GasTransboliviano.

Com a resolução, ficou permitido, por exemplo, o envio de gás argentino ao Brasil pelo sistema boliviano.

“Garantindo plena capacidade de transporte do gás produzido na Bolívia, a YPFB disponibilizará às operações de gás em trânsito até 4 milhões de metros cúbicos por dia de capacidade de transporte do gás argentino com destino ao Brasil, capacidade compatível com o volume máximo de exportação por gasodutos, que a Argentina atualmente tem”, explicou Óscar Claros, gerente de Contratos de Exportação de Gás Natural da petrolífera.

Conforme o texto, a estatal boliviana ainda estabelecerá o preço do serviço a ser pago pelo vendedor ou comprador internacional nas operações de gás em trânsito.

Vaca Muerta

Em comunicado, a Enarsa diz que a execução da obra correspondente à UTE Techint-Sacde está dentro do cronograma e caso o ritmo planejado seja alcançado, os prazos estabelecidos para sua operação serão cumpridos.  Em agosto, o ativo foi ligado ao gasoduto de Córdoba, com 100 quilômetros, que faz parte do projeto de reversão do Gasoduto Norte, obra fundamental que permitirá o transporte de gás de Vaca Muerta.

“Nesta primeira etapa, o gasoduto permitirá substituir a oferta de gás da Bolívia em até 5 milhões de m³ por dia. Em uma segunda fase, que estará disponível em março de 2025, poderemos aumentar a capacidade de transporte em 9 milhões de m³ por dia”, diz.

Parceria entre Petrobras e YPF argentina

Em paralelo, a Petrobras assinou nesta quinta-feira, 25 de setembro, um memorando de entendimento com a YPF da argentina, para analisar o desenvolvimento conjunto de negócios no segmento de Exploração e Produção (E&P). O MoU é um acordo não vinculante e tem duração de três anos, prorrogáveis por mais três.

A YPF é operadora do campo Rio Neuquén, na Argentina, do qual a Petrobras é parceira. Esse campo está localizado na Bacia Neuquén, umas das principais bacias sedimentares da Argentina, conhecida por seus recursos de petróleo e gás não convencionais, como shale gas e shale oil.

“Estamos sempre buscando atuar em conjunto com empresas com competências complementares às nossas e que podem auxiliar a diversificar o nosso portifólio, como a YPF, uma referência na América Latina na explotação de reservatórios não convencionais de óleo e gás”, afirmou o gerente-executivo de Exploração da petroleira brasileira, Jonilton Pessoa.