Em reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) realizada nesta quinta-feira, 19 de setembro, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) recomendou a adoção do horário de verão em função do período de seca que o país enfrenta. A recomendação foi aprovada pelo comitê, mas o Ministério de Minas e Energia (MME) ainda vai avaliar os impactos da mudança junto a outras pastas e a setores como hospitalar, aeroviário e indústria. O MME também deve analisar outras alternativas para garantir confiabilidade ao sistema com modicidade tarifária.
Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a decisão sobre o horário de verão deve ser tomada em até dez dias, por meio de decreto presidencial. Mesmo assim, em função das eleições, o novo horário só deve entrar em vigor depois do segundo turno, marcado para 27 de outubro.
Embora o pico da carga esteja entre 14h e 16h – portanto, fora do período que pode ser impactado pela mudança nos relógios – a recomendação se explica para um melhor aproveitamento da energia solar fotovoltaica, que atualmente atende cerca de 20% da carga e cuja geração cai a partir das 18h.
“Entre 18h e 21h, temos que despachar quase a totalidade o nosso parque térmico. Isso custa mais e estressa mais o sistema. No setor elétrico você sempre tem que contar com fato superveniente. Temos que manter uma folga, uma segurança para que a gente não tenha nenhum incidente mais grave no setor elétrico”, disse Alexandre Silveira.
‘Não há risco de desabastecimento‘
O ministro reiterou que não há risco de desabastecimento, com os níveis dos reservatórios a cerca de 55%. A situação de segurança seria resultado de medidas tomadas anteriormente pelo CMSE, como a redução da vazão das usinas Porto Primavera e Jupiá, decisão que teria poupado cerca de 11% dos reservatórios, “em especial no Sudeste”, segundo Silveira.
Assim, a recomendação pelo horário de verão é um “indicativo”. “Se apontasse diretamente para risco energético, nós não teríamos nenhuma dúvida que que, baseado na ciência, decretaríamos de imediato [o horário de verão]”, disse o ministro.
Ele também reconheceu que o horário de verão “é pouco relevante” do ponto de vista econômico, com a principal vantagem no aumento da confiabilidade do sistema. O CMSE avalia que, a depender da duração do horário de verão, caso adotado, a economia pode girar em torno de R$ 400 milhões, com redução de 2,5 GW no acionamento de térmicas. Este abastecimento seria suprido pela energia solar na hora adiantada.
A adoção do horário de verão também colaboraria, segundo Silveira, com o planejamento energético para 2025 e 2026.
Outras medidas na mesa
Apesar da recomendação do CMSE para a adoção do horário de verão, Silveira informou que o MME deve estudar outras possibilidades com menor impacto para a população e que também proporcionem confiabilidade e segurança ao sistema.
Algumas das alternativas estudadas são o aumento do vertimento de Belo Monte no período entre 18h e 21h e uma maior utilização das linhas de transmissão existentes, incluindo a linha de Itaipu Binacional.
Pior índice pluviométrico da série histórica
Apesar de o MME afastar o risco de crise energética, há um sinal de alerta ligado porque o país passa por uma grave crise hídrica. Segundo Silveira, 2024 tem os piores índices pluviométricos da série histórica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), iniciada em 1950. A queda nos níveis também estaria ocorrendo de forma “muito acentuada”, segundo o ministro. O Cemaden também participou da reunião no CMSE nesta quinta-feira.