De janeiro a agosto deste ano, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registrou 210 perturbações em linhas de transmissão da rede básica provocadas por queimadas, sendo 174 delas apenas no mês de agosto.
Considerando a soma dos oito primeiros meses de 2023, as queimadas foram a causa de 50 ocorrências em linhas de transmissão, sendo 29 delas no mês de agosto. Na soma dos 12 meses de 2023, o valor total chegou a 195 ocorrências por queimadas, abaixo do já computado em 2024.
Christiano Vieira, diretor de Operação do ONS, reforça que os meses de agosto a outubro são os mais críticos na questão e que, na média, nos últimos dez anos, 12% dessas ocorrências, são relacionadas a queimadas.
“Nesses 12%, em média, 1,5% envolvem perda de carga”, explica Vieira que complementa que é um número baixo, e que “o sistema é muito robusto e tem uma confiabilidade bastante elevada para atendimento da carga”.
As interrupções nos últimos dois meses
Segundo relatórios do ONS de acompanhamento mensal de perturbação do Sistema Interligado Nacional, em julho de 2024, as queimadas ou fogo sob a linha foram responsáveis por 6,7% das interrupções, o menor índice entre as demais divisões: demais causas (40,5%); acidental – serviços/testes; falha (9,11%); vegetação (6,8%) e animais, pássaros e insetos (6,8%).
Contudo, em agosto, as queimadas passam a ocupar a maior parcela das causas de interrupção, sendo 49% (105) das ocorrências que envolveram fogo sob a linha, além de 7% (16) com fogo sob a linha, mas fora da faixa de servidão.
Em ambos os meses, apenas a região Sul não teve perturbações por motivo de queimada.
Um dos casos, de 26 de agosto, uma queimada provocou o desligamento total das subestações Timóteo 1 e 2, da hidrelétrica Sá Carvalho e da linha de transmissão 230 kV Baguari/Governador Valadares 2 C1, afetando o suprimento de 138 MW em Minas Gerais.
O ONS ainda detalha desligamentos por queimadas em agosto em linhas da ISA Cteep e Copel no estado de São Paulo, Eletronorte, em Mato Grosso, Furnas, entre Goiás e DF, entre outras.
Monitoramento e a operação do SIN
O monitoramento das instalações do Sistema Interligado Nacional (SIN) é realizado por meio de um serviço contratado com base em imagens de satélites. Em tempo real, a equipe de operadores nas salas de controle realiza o acompanhamento.
O serviço engloba diagramas com os corredores das faixas, as faixas de servidão onde as linhas estão instaladas e, havendo a sinalização de uma queimada numa região próxima a essas linhas, é tomada a medida operativa mais adequada.
“Dependendo da ocorrência e da condição do momento, a equipe faz a análise e toma a medida operativa mais adequada. Em geral, envolvendo o desligamento, é realizado o religamento de linhas, o remanejamento de fluxos, até a normalização da situação”, disse Christiano Vieira.
‘Apagão’ no Acre e Rondônia
Em agosto, a perda do sistema de transmissão em corrente contínua do Complexo Madeira, além do sistema de transmissão em 230 kV que interliga os estados do Acre e Rondônia ao Sistema Interligado Nacional (SIN), interrompeu 980 MW de carga nos estados do Acre e Rondônia.
Na oportunidade, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse a jornalistas que um agente relatou “uma queimada muito forte” em um dos ativos afetados. O episódio envolveu diversos agentes, linhas e sistemas, como o de Jauru-Vilhena, que conecta a região do Acre-Rondônia ao norte do Mato Grosso.
Conforme explicou Christiano Vieira, inicialmente foi constatada uma queimada na região de São Paulo, levando ao desligamento automático por proteção. Após o controle da situação, foi religado o circuito afetado.
Na sequência, houve um desligamento do Bipolo 1. O Bipolo 2, que estava desligado por uma conveniência operativa, em função desses eventos externos, optou-se por fazer a manobra e fazer a transmissão da potência para ele e na sequência para o Bipolo 3 e depois o 4.
“E aí houve um blackout quando terminou o procedimento, quando transferiu a potência para o Bipolo 4. E isso que está sendo investigado. O relatório é sobre o porquê, e que condições é que levaram a uma transferência dentro de um procedimento que era ordinário, levaram a uma situação de blackout. Esse é um objetivo do relatório, de análise dessa perturbação específica, e assim que concluído, vai ser amplamente divulgado”, detalhou o diretor de Operações do ONS.
Em São Paulo
Entre os dias 1º e 26 de agosto, 13.451 focos de incêndio afetaram as principais linhas de transmissão da ISA Cteep no estado de São Paulo, conforme dados da Climatempo. Segundo a transmissora, esse número representa uma alta de 946% no comparativo com o mesmo período de 2023, quando 1.286 focos de incêndio foram identificados.
A empresa de transmissão é responsável por cerca de 95% da energia transmitida no estado e destaca que, somente no dia 23 de agosto, os incêndios provocaram os desligamentos de 18 linhas de transmissão e mais de três horas de indisponibilidade no fornecimento de energia elétrica em diferentes regiões do estado.
“A ISA Cteep esclarece que não houve danos em suas estruturas” e reforça que redobrou “seus esforços com foco na prevenção de queimadas. As ações incluem desde a inspeção até a conservação das faixas de segurança das linhas de transmissão, além de campanhas de comunicação digital e sensibilização de proprietários em campo, com a finalidade de conscientizar a população”.
Queimadas no país
As queimadas têm sido causa de preocupação nas cinco regiões brasileiras, principalmente nos últimos dois meses. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) aponta 91.113 focos de queimadas em julho e agosto no país, principalmente nos estados do Mato Grosso (18,8%), Pará (18,7%) e Amazonas (16%).
Diante dos casos cada vez mais devastadores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto nº 12.173, publicado na edição da última quarta-feira, 11 de setembro, no Diário Oficial da União.
O texto cria o Comitê Nacional de Manejo Integrado do Fogo e sobre o Centro Integrado Multiagência de Coordenação Operacional Federal.