Por: João Sanches
Com a pressão mundial da conscientização do capitalismo ecológico, cada vez mais nos deparamos com a adoção de medidas que visam reduzir os impactos ambientais causados pela sociedade.
Nesse sentido, um dos conceitos que mais têm crescido nas empresas em âmbito global e mudado o direcionamento dos investimentos é o ESG (Environmental, Social and Governance), que tem como objetivo representar um conjunto de fatores e critérios que tornam a filosofia de qualquer investimento mais sustentável, no sentido de valorizar questões ambientais, sociais e de governança corporativa e incorporar essas ações dentro das organizações.
A Moody’s, uma das principais agências de classificação de risco de crédito do mundo, por exemplo, apontou os critérios ESG como fatores relevantes em 33% das 7.637 avaliações do setor privado publicadas em 2019.
É, portanto, neste contexto que também ganha relevância os certificados de energia renovável, também chamados de RECs. Existem algumas opções no mercado, porém o mais importante no Brasil com alcance global é o do Instituto Totum. Os certificados supervisionados e auditados pela entidade são do sistema global I-REC (International REC Standard). Cada certificado representa 1 megawatt/hora de energia que foi injetada na rede a partir de uma fonte de geração de energia renovável (eólica, fotovoltaica, hidráulica ou biomassa) homologada em um determinado período, funciona como um carimbo simbólico da energia consumida.
Como principal benefício, a aquisição dos RECs permite a rastreabilidade da energia consumida e são reconhecidos internacionalmente, podendo ser utilizados para o cumprimento de iniciativas e metas de sustentabilidade, como a Iniciativa Global RE 100, o Escopo 2 do Programa Brasileiro GHG Protocol e a Certificação Leed. Os certificados também servem para melhorar os indicadores em programas de reporte, como o Carbon Disclosure Program (CDP), Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o Down Jones Sustainability Index (DJSI).
Já para os emitentes do certificado, o registro no I-REC é uma forma de obter uma receita adicional. Essa receita serve de incentivo direto para que o produtor continue investindo em geração de energia renovável e em programas de sustentabilidade.
De acordo com o próprio Instituto Totum, este é um mercado em expansão. Impulsionados por acordos internacionais de redução de carbono e em investimentos de empresas em ESG, o Brasil dobrou a emissão de certificados I-REC. Segundo dados da entidade, em 2019 foram 2,5 milhões, já em 2020 o número ficou em aproximadamente 4 milhões, com 153 empreendimentos certificados. A projeção para 2021 é de fechar o ano com mais de 8 milhões de certificados emitidos e 200 usinas. Os números colocam o país atrás apenas da China.
Os números estão intrinsecamente ligados ao aumento de usinas homologadas a emitirem certificados. Passou de 50 em 2018 para 106 até setembro do mesmo ano. Essas centrais somam uma potência aproximada de 7.000 MW, fazendo o Brasil liderar o ranking mundial da categoria, seguido por China e Índia, com respectivamente 80 usinas (5.000 MW) e 37 usinas (1.000 MW) que atendem os requisitos do padrão global de compra de energia limpa.
Porém, mesmo com o crescimento das ofertas dos certificados, o Brasil ainda possui o desafio de dar vazão aos RECs emitidos no mercado nacional. A demanda ainda é baixa em comparação com a oferta e em relação ao mercado mundial.
Apesar dos desafios enfrentados pelo mercado nacional de certificados de energias renováveis, o crescimento vivenciado nos últimos anos beneficia tanto geradores quanto consumidores desse tipo de energia. Além desses benefícios, a certificação incentiva o uso e a produção de energia renovável no país, colaborando com o combate à mudança do clima.
Além disso, o mercado e a sociedade estão cobrando cada vez mais das empresas que elas sejam protagonistas em assuntos relativos à sustentabilidade. Para se ter ideia, segundo pesquisa da Union + Webster, 87% da população brasileira prefere comprar produtos e serviços de empresas sustentáveis. Já 70% dos entrevistados afirmaram que não se importam em pagar um pouco mais por isso.
O acordo de Paris também prevê metas audaciosas para os países para a redução de emissão de carbono. Portanto, terão vantagens competitivas as empresas que adquirirem energia renovável por meio de certificados homologados, que é uma das formas mais práticas e econômicas de atingir os objetivos ESG, como forma até mesmo de zerar a emissão de carbono.
Por fim, nosso País possui enorme potencial de fontes renováveis e tem a oportunidade de se consolidar na liderança mundial, desse mercado com potencial altamente lucrativo. Chegou a hora e a vez do Brasil ser o protagonista mundial na corrida pela sustentabilidade.
João Sanches é CEO e fundador da Trinity Energia. Bacharel em administração de empresas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e Certificate in Financial Management (CFM) pelo Insper. É especialista e estrategista da mesa de operações de comercialização e gestão de riscos no Ambiente de Contratação Livre (ACL).
Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e data da publicação.
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