Uma carreira de muito orgulho e presente nos momentos-chave de mudança estrutural do setor elétrico. Assim, Roseane Santos, conselheira da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), traçou a sua trajetória profissional, participando da centralização jurídica de um conjunto de distribuidoras em processo de privatização, do RE-SEB e na entrega das primeiras regras e procedimentos do mercado livre de energia.
Confira abaixo a entrevista com a executiva:
MegaWhat: Como você começou no setor?
Roseane Santos: Comecei no setor na verdade na empresa Cerj, uma distribuidora de energia elétrica, que hoje é da Enel , e logo após a privatização. Fui a primeira advogada contratada na Cerj após a privatização pela Chilectra, e fui contratada para atuar na área de contratos, para coordenar.
MW: Quais as principais conquistas da sua carreira?
RS: Olha é difícil falar assim, mas vou falar três, de naturezas diferentes. Uma que foi de cunho bem gerencial e estratégico que foi ter assumido como head do Legal do grupo Neoenergia e reestruturar todo o grupo. O grupo na verdade ele se chamava Guarariana, passou para Neoenergia, e o jurídico do time era muito descentralizado porque era praticamente um jurídico para cada distribuidora. Como vocês sabem, a Neoenergia cresceu muito, eu fiz parte por oito anos desse time, e eu criei um time muito coeso, totalmente voltado para a holding, com os melhores resultados possíveis sob o ponto de vista gestão. Essa é uma conquista que tenho muito orgulho.,
No setor elétrico eu tive muito orgulho de participar do RE-SEB, foi a primeira grande transformação do setor, e eu acho que o que me deu mais orgulho, se eu pudesse falar de uma coisa que marcou muito a minha vida, foi ter sido a integrante do comitê técnico à época, e depois ter sido chamada e convidada para ser a consultora jurídica da Asmae, que foi a antecessora da CCEE. Fui a primeira consultora jurídica e tive uma oportunidade e desafio imenso, porque na época estavam sendo feitos os procedimentos e as regras (do mercado), então a gente tinha prazo para entrar. E foi um trabalho de entrega, que junto com outros – consultores, engenheiros, e todos os tipos de profissionais -, a gente tinha um prazo para entregar as primeiras regras e os primeiros procedimentos de mercado, e eu fiz parte desse projeto. Entreguei isso com muito afinco e eu tenho muito orgulho de ter participado desse momento do setor elétrico
MW: E hoje, como é estar à frente de um cargo de diretoria?
RS: É extremamente desafiador. Eu digo que nós somos movidos a desafios. É um prazer, um orgulho, no fundo você tem uma grande responsabilidade porque você está representando aqui um forte de confiança de todas as pessoas que elegem o conselheiro. A CCEE tem procurado cada vez mais atuar como protagonista, trazendo, identificando e somando soluções para o setor elétrico brasileiro de uma maneira geral. Nós temos muito desafios e estamos num momento de muita mudança no setor: temos todo o movimento da modernização do setor, o PLS 232 caminhando, agora com a MP 988, a gente tem muito por fazer, muito por trabalhar… diria que essa evolução da transição energética, o momento dos quatro Ds, de toda essa dinamização da matriz, entrada de preço horário, concorrência e entrada de derivativos. A gente está num momento que o desafio é enorme, tem muito trabalho para fazer e eu me sinto muito feliz em poder somar e participar desse momento, ocupando essa posição e tentando dar o meu melhor e o que eu puder para que todo o setor elétrico ganhe.
MW: Qual foi a sua principal colaboração para o setor?
RS: A CCEE sempre trabalha com cinco temas estratégicos, um para cada conselheiro, e o meu tema é o de segurança de mercado. É um tema de um enorme desafio, porque é um tema em que a gente hoje tem uma questão muito séria que os contratos são registrados contra pagamentos, a gente não consegue antever, não tem previsibilidade de informações de modo que a gente possa antever eventual risco de default que possa ser grave, ou não – enfim, default é default – e a gente entende que precisa evoluir. Então, a gente soltou recentemente três notas técnicas com benchmark no mercado financeiro – que é um mercado bastante maduro e respeitado, inclusive internacionalmente – nossa estrutura de Bolsa de Valores, e de Comissão de Valores Imobiliários (CVM) e de bancos também, e eu estou fazendo um trabalho bastante inovador e transformador, que é necessário para o setor. A gente precisa trabalhar e avançar na frente da segurança, porque a gente não pode ter um setor tão relevante para a infraestrutura, no qual o tema de segurança de mercado não acompanha essa evolução. A gente tem a abertura de mercado que está para acontecer – já vem acontecendo de maneira gradual – e o tema de segurança está externamente voltado para a abertura de mercado junto com a entrada do PLD horário. Então acho que essa é a minha principal missão.
A gente entregou agora três notas técnicas que são bastante transformadoras, vai dar muito o que falar – as pessoas têm conversado bastante sobre elas – e a ideia é que a CCEE coloque o tema em pauta, coloque o tema em discussão, sempre aberta para encontrar uma solução de consenso, de comum acordo e que de fato traga uma segurança de mercado de primeiro mundo e operadores de mercado de primeiro mundo.
MW: Como é ser uma mulher num setor tão masculino?
RS: É uma experiência muito diferenciada. Posso dizer que no início foi mais difícil, mas acho que hoje em dia o setor elétrico está bastante evoluído, bem mais inclusivo no aspecto feminino do que foi quando eu comecei. Você aprende a lidar no dia a dia com o símbolo predominante masculino e eu acho que os homens de maneira geral, pelo menos no setor, eles têm nos ouvido. Então, acho que temos grandes exemplos de mulheres no setor elétrico, acho que temos que incentivar esse movimento de inclusão da mulher no setor elétrico brasileiro. É um orgulho fazer parte do setor elétrico, ser uma mulher de representatividade no setor e, na verdade, impulsionar que outras mulheres também trafeguem no setor
MW: A luta por igualdade de cargos e salários ainda é uma realidade para mulheres no setor?
RS: Olha, na CCEE nós não temos essa desigualdade. Somos uma empresa bastante inclusiva e eu não vejo, não é uma realidade que eu acompanhe essa diferença salarial na CCEE.
MW: Em 2021, o seu trabalho deve estar pautado em cima de quais discussões?
RS: Como eu disse, o meu trabalho específico como sponsor é o tema de segurança de mercado que está muito vinculada à abertura de mercado. Mas não são só esses os temas que virão por aí: a gente tem o desenho comercial da separação de lastro e energia, que é um tema que estou bastante atuante porque sou responsável no Sistema Interligado Nacional (SIN) pela frente da transição dos contratos legados de lastro e energia. A EPE ela é a entidade sponsor do tema, mas a CCEE está como responsável em cuidar da transição dos contratos legados de lastro de energia.
A gente tem outros temas desafiadores, como: a própria diversificação da matriz e o equilíbrio das fontes, acho que esse é um grande desafio; a questão do varejista, acho que vem com força, que tem a ver com a questão da abertura do mercado; e a própria discussão que do modelo de oferta de preços, se vai ser por custo, se vai ser por oferta, e é a discussão que vem por aí que está a cargo da nossa conselheira Talita Porto. Acho que esses são os principais temas que virão por aí: desenho de lastro e energia, segurança de mercado; abertura de mercado; a sustentabilidade da distribuição; e tem um evento de curto prazo, que está para acontecer também que é Itaipu – vai ser um grande debate nacional, porque o Anexo C está para terminar, não é (um tema) da CCEE, é um tema do Brasil, mas é um tema que vai ser bastante relevante ao longo dos próximos anos.