O Brasil viveu a maior queda absoluta do mundo nas emissões do setor elétrico em 2022, após um aumento recorde causado pela geração termelétrica no ano anterior. A análise é do think tank britânico Ember, na quarta edição do relatório anual Global Electricity Review, que avalia 78 países, representando 93% da demanda global de eletricidade.
De acordo com o estudo, o mix elétrico brasileiro emitiu 69 milhões de toneladas de CO2 no ano passado, uma queda de 34% (-36 MtCO2) em relação a 2021, quando emitiu 105 milhões de toneladas. Apenas a Ucrânia, em guerra, viu declínio percentual comparável (-38%), com a segunda maior redução nas emissões (-14 MtCO2).
A organização afirma que a redução de emissões do Brasil no último ano ocorreu, principalmente, devido à diminuição do acionamento de termelétricas em função do aumento, de um ano para o outro, da geração hidrelétrica (+65 TWh, +18%). A hidreletricidade em 2021 (363 TWh) atingiu seu nível mais baixo desde 2015, e com a volta das chuvas em 2022, alcançou o nível mais alto desde 2011 (428 TWh).
Conforme dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o Brasil gerou 89% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis em 2022, o que inclui também 63% de energia hidrelétrica e 12% de energia eólica. Os combustíveis fósseis representavam 11% da geração brasileira em 2022, principalmente o gás (7%).
O relatório ainda fala que as termelétricas foram acionadas de maneira emergencial em 2021 “porque o planejamento energético nacional falhou em incorporar a variabilidade gerada pela mudança climática e em buscar antecipadamente alternativas mais limpas e baratas”.
Outro fator que contribuiu para a queda de emissões da rede brasileira no período foi o crescimento da geração eólica (+8,5 TWh, +12%) e do solar (+5 TWh, +30%) e que, juntas, As permitiram uma substituição da energia fóssil, principalmente do gás (46%; -42 TWh).
“A crise global do gás em 2022 deixou claro que combustíveis fósseis caros não podem ser confiáveis para a segurança energética a curto ou longo prazos”, avalia a analista sênior de eletricidade da Ember, Małgorzata Wiatros-Motyka, principal autora da pesquisa.
“Este é o efeito sanfona das emissões do setor elétrico brasileiro: a maior queda do mundo em 2022 precedida por uma das maiores altas em 2021”, observa o pesquisador do Instituto ClimaInfo, Shigueo Watanabe Jr., que ressalta que o Brasil precisa enfrentar o lobby fóssil para manter as emissões do setor elétrico neste patamar baixo.
A geração no mundo
A solar foi a fonte de eletricidade que mais cresceu no mundo pelo 18° ano consecutivo, aumentando 24% de um ano para outro e adicionando eletricidade suficiente para abastecer toda a África do Sul. A geração eólica aumentou 17% em 2022, o suficiente para energizar quase todo o Reino Unido.
Apesar da crise mundial do gás e dos temores de um retorno ao carvão, o aumento das gerações eólica e solar limitou o uso de carvão, que subiu apenas 1,1% em 2022. A geração global de energia a gás caiu muito ligeiramente em 2022 (-0,2%). Em geral, a think thank aponta que isso ainda significou que as emissões globais do setor elétrico aumentaram em 1,3% em 2022, atingindo um recorde histórico.
A Ember estima que o ano passado pode ter sido o “pico” das emissões de eletricidade e o último ano de crescimento da energia elétrica fóssil, com a eletricidade renovável atendendo a todo o crescimento da demanda em 2023. Como resultado, haveria uma pequena queda na geração de eletricidade fóssil (-0,3%) neste ano, com quedas maiores nos anos subsequentes, à medida que a implantação eólica e solar se acelera.