Os patamares mais baixos do preço da energia e o potencial ainda a ser explorado nas eólicas onshore reduziram o entusiasmo dos agentes sobre as eólicas offshore.
“A Total avalia [as eólicas offshore] com cautela e interesse. É uma indústria emergente, não podemos confundir com óleo e gás”, disse o Country Chair da TotalEnergies no Brasil, Charles Fernandes. A declaração foi feita durante o Prumo Day, que ocorreu nesta quarta-feira, 30 de agosto.
Para a Neoenergia, a falta de regulação e a atual sobreoferta no mercado brasileiro são desafios para o desenvolvimento das eólicas em alto-mar. “Ainda não temos regulação e estamos falando de uma tecnologia que vai demorar anos para ser realidade no Brasil porque temos muito onshore ainda, uma sobreoferta enorme agora”, disse o CEO da companhia, Eduardo Capelastegui.
A regulação também foi mencionada por Fernandes, da TotalEnergies, que avalia que o arcabouço regulatório deve atrair investidores de longo prazo, “compromissados com o desenvolvimento da cadeia”.
O vice-presidente de Engenharia de Expansão da Eletrobras, Ítalo Freitas, avalia que os atuais preços baixos da energia frearam os projetos de eólica offshore, mas a pausa pode ser temporária. “A eólica offshore será inevitável a partir do momento em que a eólica onshore tiver fatores de capacidade mais reduzidos”, disse Freitas, citando fatores de capacidade das usinas offshore acima de 60%. “Mas para tudo isso tem que ter a hidráulica ali segurando o sistema. Se não tiver isso, vamos ver cada vez mais apagões como os que tivemos”, finalizou, em relação ao apagão do dia 15 de agosto.
Em relação à eólica offshore, Rodrigo Agostinho, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) destacou a necessidade de regulamentação para o segmento durante sessão na Câmara dos Deputados. Atualmente, o instituto possui 78 projetos em licenciamento, num total de 189 GW, sendo que apenas dois apresentaram estudo de impacto ambiental.
“A gente verifica muita sobreposição de empreendimentos na mesma área. E não é um projeto ao lado do outro, é um projeto em cima do outro, o que cria um problema enorme. Por isso, temos que ter que ter uma regra e estamos trabalhando junto com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática, no âmbito do planejamento espacial marítimo, em estratégias para vencer esse desafio”, disse Agostinho para parlamentares.
O potencial do Brasil para geração renovável, inclusive para hidrogênio verde, foi celebrado nos painéis durante o Prumo Day como uma grande vantagem para o país no contexto de transição energética. Na mesma medida, a remuneração das hidrelétricas foi tema reforçado pelos participantes.
“Não é segredo nenhum que teremos que remunerar a disponibilidade das hidrelétricas para funcionarem como bateria para modular a intermitência. Esse é um dos assuntos urgentes”, disse o diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados e ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy. Ele também classificou como prioritária a rede de distribuição. “Tem que pensar a distribuição, a última milha do fio numa economia cada vez mais eletrificada. Se esquecer a remuneração do fio, a energia não vai chegar ao consumidor. Ter essa coerência na regulação é fundamental e urgente”, disse.
“O apagão claramente está relacionado à falta de inércia do sistema, que precisa ter uma compensação e as hidrelétricas são as únicas que podem ajudar o sistema. Mas precisa redirecionar as hidrelétricas e remunerá-las para fazerem esse serviço”, disse Ítalo Freitas, da Eletrobras.
Colaborou Natália Bezutti