A Engie Brasil Energia não descartou ter interesse na compra da AES Brasil, visto pela empresa como “ativo interessante”, afirmou CEO da companhia, Eduardo Sattamini, durante teleconferência de resultados realizada nesta quarta-feira, 28 de fevereiro.
“Interesse em ativos de geração a gente sempre tem. Em algum momento, pode ser que isso se concretize. Não estou dizendo que a gente vai entrar, não vai entrar, vai fazer ou não fazer, mas é ativo de geração, é ativo de transmissão, tem bom retorno, faz sentido, agrega para o nosso portfólio, a gente olha”, destacou o executivo.
Somando um portfólio diversificado, com um total de 5,2 GW de capacidade instalada, sendo 4,5 GW em operação e mais de 700 MW em construção – com os complexos eólicos Tucano (322 MW) e Cajuína 2 (370 MW), e o parque solar AGV VII (33 MW) –, Satammini destaca que a AES tem boas usinas, principalmente no Sudeste do Brasil, e que num possível processo de venda, a Engie “tenha algum interesse”.
Incorporação Jirau
Outro ativo interessante para a Engie é a hidrelétrica de Jirau, controlada por uma sociedade de propósito específico (SPE), que tem a Eletrobras, a Mitsui e a Engie, que pode ser incorporada pela empresa após discussões com o controlador.
“No momento adequado, olharemos como é esse ativo será trazido pra dentro do nosso escopo, se será através de uma compra financiada pelo próprio controlador ou por meio de algum tipo de transação de ações, não sei ainda. Não começamos a discutir e, muito provavelmente, isso também será parte da equação discutida dentro do comitê de parte relacionada. O podemos dizer é que tem a previsão de que em algum momento isso vai acontecer, claro, que dentro da governança constituída por nós”, pontuou o CEO da companhia.
TAG
Por outro lado, Sattamini destacou que a geradora “não tem interesse e não vê necessidade” de se desfazer da TAG, subsidiária da empresa, neste momento.
Leilões
Estudando alguns lotes para participar do leilão de transmissão de março, a Engie focará na rentabilidade dos ativos e buscará uma competição sem “abrir mão dos retornos”.
A companhia também mira no certame de reserva de capacidade, porém espera um atraso em sua realização, que era prevista para abril deste ano, e que se prepara para discutir a participação de suas hidrelétricas.
O primeiro e único leilão de reserva de capacidade, realizado em 2021, foi restrito à fonte termelétrica, e o setor hídrico defende que as usinas com reservatório também possam participar – o que é o caso de ativos da Engie, que monitora o certame para contratar energia em longo prazo.
Resultados
A Engie reportou lucro líquido de R$ 948 milhões no quarto trimestre de 2023, alta de 6,4%.O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) também cresceu 9,1%, a R$ 1,7 bilhões. Por sua vez, a receita operacional líquida caiu 12,6%, a R$ 2,7 bilhões.
Segundo a companhia, a variação é resultado do decréscimo de R$ 79 milhões na receita operacional líquida das áreas de geração e venda. A energia vendida caiu 10,4%, a 3.940 MW médios, ao mesmo tempo em que o preço líquido médio de venda avançou 2,8%, a R$ 229,33/MWh. Já a produção bruta da energia elétrica cresceu 20,2%, a 6.694 MW médios.
Entre os fatores que justificam o recuo nos setores, a Engie afirma que o desempenho foi motivado, substancialmente, pela combinação da queda de R$ 170 milhões na receita com contratos de venda de energia nos ambientes regulado e livre, resultado da redução de quantidade de energia vendida, atenuada pelo acréscimo do preço médio líquido de venda.
O decréscimo de R$ 12 milhões na remuneração dos ativos financeiros de concessão correspondentes à parcela do pagamento pela outorga das concessões das UHEs Jaguara e Miranda referente à energia destinada ao Ambiente de Contratação Regulada (ACR), pela redução da inflação entre os períodos analisados, também impactou no resultado.
Também houve uma redução de R$ 252 milhões no segmento de transmissão e de R$ 60 milhões em trading.
A companhia destaca ainda que o resultado foi suavizado pelo acréscimo de receita nas operações realizadas no mercado de curto prazo. No quarto trimestre, a receita líquida decorrente de transações de curto prazo, principalmente as realizadas no âmbito da Câmara de Comercialização de Energia (CCEE), alcançou R$ 144 milhões, alta de 251% em relação aos R$ 41 milhões registrados em igual etapa do ano anterior.
“Vendemos energia sempre em volumes anuais e procuramos atender o mercado, acelerando em momentos de preço melhor e reduzindo em termos de preço mais baixo. Isso garante um preço muito resiliente a movimentos de curto prazo. Quando olhamos o nosso preço médio, ele está se mantendo, mesmo em ambientes de preços mais baixos, que a gente tem vivido com esse excesso de oferta”, falou Sattamini.
Preços 2024
Questionado sobre a expectativa de preços para este ano, o executivo destacou o cenário hidrológico atual, que apesar de confortável passou por um período úmido mais fraco, e o aumento acima do esperado da demanda devem ditar os preços do mercado de longo prazo, com possibilidade de gerar uma “janela de vendas”.
“Então, fica a grande expectativa de como é que o período úmido vai se comportar até abril e como é que isso pode refletir nos preços dos anos futuros. Esperamos um ano animado, com boas janelas de oportunidades de vendas, mas, obviamente, o preço de longo prazo vai depender bastante do comportamento hidrológico e do consumo nos próximos anos”, pontuou.
>> Carga pressiona preços da energia e AES Brasil acredita em tendência de alta no longo prazo.
E o hidrogênio?
Uma das formas de incrementar a demanda seria por meio da produção do hidrogênio verde, mercado que a Engie procura desenvolver projetos, mas com cautela porque o país ainda não tem uma regulamentação para estimular a atividade.
>> Meta do país é viabilizar de dois a três grandes projetos de hidrogênio até 2030, conta Barral.
“Discutimos no Congresso e nas associações formas de fazer com que essa indústria saia do papel, porque ela é uma grande consumidora de energia, é eletrointensiva. Estamos trabalhando em alguns projetos industriais que podem vir a ser economicamente viáveis, desde que a gente tenha a valorização da redução do carbono. Mas a gente ainda precisa de um arcabouço regulatório que venha facilitar o negócio e esperamos alguma evolução durante esse ano”, finalizou o CEO.