
A postergação do leilão exclusivo de sistemas de armazenamento por baterias para 2026 pode ser necessária diante da indefinição sobre as regras de aplicação e remuneração desses sistemas. Em entrevista à MegaWhat, o CTO da Huawei Digital Power, Roberto Valer, falou sobre o assunto ao destacar a importância das baterias para a expansão das energias renováveis no Brasil.
“Todo mundo quer o leilão para já, mas com o cronograma atual é impossível desenvolver projetos. O gargalo das baterias não está na tecnologia, mas na falta de regras. Hoje, conseguimos instalar sistemas em seis meses ou um ano. As baterias poderiam competir com térmicas que tiveram contratos antecipados de 2026 para 2025, por exemplo. É uma tecnologia consolidada, capaz de fornecer potência e estabilidade à rede elétrica”, afirmou o executivo.
Com experiência em projetos internacionais, Valer apontou a necessidade de regras claras para o segmento, garantindo segurança aos investidores e orientação dos modelos de negócio. Em edital, o executivo ressalta ser urgente definir a classificação das baterias, (sistêmicas ou locacionais), sinal locacional no certame, modelos de despacho e a outorga.
Valer também enfatizou a importância de estabelecer critérios para a remuneração de serviços ancilares, já que a portaria que trata do leilão não esclarece como as baterias poderão participar desse mecanismo.
“Países como o Chile se arrependeram por não definirem previamente como os serviços ancilares seriam tratados. Neste país, baterias de grande escala instaladas não conseguiram contribuir com o sistema durante um apagão recente”, exemplificou.
Experiência com armazenamento no Brasil
Apesar das incertezas regulatórias, a Huawei já tem sistemas de baterias instalados em projetos específicos no Brasil. Como exemplo, o executivo citou as três usinas solares fotovoltaicas, com 1,2 GW de capacidade total, da Enel Green Power, Newave Energia e CTG, localizadas em Arinos, em Minas Gerais.
A empresa também atende outros clientes, observando diferentes perfis e estratégias para enfrentar desafios como o curtailment (corte na geração).
Segundo o CTO, muitos clientes estão instalando sistemas de armazenamento onde há menor pagamento de encargos, o que “nem sempre representa a melhor atuação do sistema”. Outros optam por modelos contratuais que seguem o perfil de geração ou que adotam uma abordagem flat, no qual se mantém um volume fixo de energia ao longo do dia.
Participação no leilão de Sistemas Isolados
A Huawei Digital Power também demonstra interesse no leilão dos Sistemas Isolados, previsto para setembro de 2025. O certame conta com 241 projetos cadastrados, totalizando 1.870 MW em potência, dos quais cerca de 61% envolvem usinas híbridas (termelétricas + solar fotovoltaica, com ou sem baterias).
Segundo Valer, a Huawei pretende participar por meio de parcerias estratégicas.
Soluções em baterias para C&I e elétricos
Roberto Valer ainda compara as baterias de armazenamento como “canivetes suíços”, por sua versatilidade de aplicações. Isso porque, elas podem ser usadas para armazenar energia a partir do sol, do vento e de térmicas. Além disso, podem ser utilizadas em indústrias e no setor automotivo, com no caso dos veículos elétricos.
No início de junho, a empresa assinou protocolo de intenções com a prefeitura de São Paulo para implementar Battery Energy Storage System nas garagens de ônibus elétricos.
Na última semana, a Huawei lançou um novo sistema de armazenamento de energia voltado a projetos de grande escala nos segmentos de comércio e indústria (C&I). O equipamento inclui módulos de 7 kWh, que podem ser combinados até 21 kWh, além de um modelo de 215 kWh projetado para demandas de alta capacidade.
Resultados e expansão da Huawei no setor de energia
Durante evento da empresa, o presidente da Huawei no Brasil, Gao Kexin, destacou os resultados de 2024: a companhia atingiu receita de R$ 118 bilhões, com crescimento de 22%. O executivo reforçou o papel estratégico da área de pesquisa e desenvolvimento para a inovação em soluções de energia.
Kexin também lembrou que a Huawei já instalou 14 GW em inversores no Brasil, de um total de 330 GW em nível global, e tem planos de expandir sua atuação nos mercados de armazenamento de energia, infraestrutura para data centers e rede de carregamento para veículos pesados.
“Nosso crescimento está ligado ao compromisso de longo prazo com o Brasil. Com o avanço das renováveis, as tecnologias de armazenamento da Huawei serão essenciais para garantir estabilidade ao sistema elétrico nacional. Além disso, nossas soluções de data center já estão presentes em mais de 1.000 projetos de grande escala ao redor do mundo, com 1,8 milhão de racks instalados”, concluiu.