Existe “dúvida significativa” quando a capacidade de continuidade operacional da 2W Ecobank, que tem posição de capital circulante líquido negativo e negocia com os credores iniciativas para aperfeiçoar a estrutura de capital e reverter o cenário.
O alerta foi feito em nota explicativa das demonstrações financeiras da controlada da 2W Anemus Wind referentes ao terceiro trimestre do ano passado, arquivadas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A Anemus Wind é a sociedade de propósito específico (SPE) constituída pela 2W para controlar o parque eólico Anemus, de 138,6 MW de potência. A usina está totalmente operacional desde maio do ano passado.
Segundo a nota explicativa, a situação da 2W reflete, principalmente, os “dispêndios extraordinários em ativos de geração eólica, antecipação de pagamento de juros de debêntures e gastos para implementação de estratégias de vendas no varejo”.
Negociações com credores
A crise da 2W levou a empresa a fechar um acordo em agosto com o fundo Darby International Capital, credor da companhia, que incluiu a transferência da totalidade do parque Kairós I, de 112,5 MW de potência. A operação reduziu a dívida da empresa em mais de R$ 850 milhões, e manteve com a 2W a fase 2 do projeto, de 120 MW e em fase final de construção.
Mesmo com a redução da dívida, em setembro, debenturistas da companhia declararam vencimento antecipado dos títulos, devido a não entrega das suas demonstrações financeiras. A 2W ainda está negociando com os garantidores, donos do crédito, para tentar uma composição para a realização dos pagamentos.
A Anemus Wind destacou que, apesar da situação da sua controladora, tem uma estrutura de capital condicionada exclusivamente à operação do parque eólico em questão, isolado os ativos e passivos dos da controladora, independentemente do contexto.
Ainda que sua estrutura de capital tenha as proteções da situação da 2W, o trouxe alertas quanto à continuidade da Anemus Wind, que enfrenta problemas semelhantes aos da controladora, incluindo as consequências da antecipação do vencimento das dívidas.
Prejuízo e dúvidas sobre futuro da empresa
A SPE teve prejuízo líquido de R$ 60,8 milhões nos nove primeiros meses de 2024, depois de um lucro de R$ 28,5 milhões obtido no mesmo período de 2023, refletindo em grande parte o aumento das despesas financeiras, que saíram de R$ 13,4 milhões para R$ 65,9 milhões no período.
Os números foram citados pela auditoria independente Grant Thornton no parecer das demonstrações da Anemus, que trouxe um alerta quanto à “incerteza relevante” da sua continuidade operacional.
Nas notas explicativas, a Anemus disse que prevê a reversão do cenário no curto prazo, por meio de conversas para converter a dívida em participação societária do ativo, e pelo alongamento de dívidas de curto prazo com a WEG, que têm quitação prevista até 2027.
Inadimplência da 2W na CVM
Enquanto a Anemus Wind arquivou na CVM as demonstrações financeiras do terceiro trimestre do ano passado, a 2W Ecobank foi incluída pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na lista das companhias inadimplentes pela falta de envio de informações obrigatórias. A empresa não enviou as demonstrações financeiras trimestrais de 2024.
No ano anterior, também tinha sido incluída na lista de inadimplentes pela não entrega dos números de 2023. Foi apenas em dezembro de 2024 que a 2W entregou o balanço de 2023, quando teve prejuízo de R$ 223,9 milhões, ante o lucro de R$ 89,2 milhões obtido em 2022.