
A Cemig projeta uma exposição líquida de 700 MW médios devido às diferenças de preços entre os submercados do Sudeste e Nordeste no primeiro trimestre de 2025. Caso seja concretizado, o volume será menor em relação ao reportado no último trimestre do ano passado, quando a empresa registrou uma redução de 61% no seu lucro de comercialização, com efeito negativo de R$ 21,3 milhões, devido à exposição de, aproximadamente, 820 MW médios.
Com um portfólio de projetos predominante no Nordeste, a companhia tem sua energia contratada no Sudeste e ficou sujeita à disparada do PLD dos submercados Sudeste/Centro-Oeste e Sul e ao seu descolamento prolongado em relação aos preços no Norte e Nordeste.
“Nós temos uma exposição à diferença de preços. Temos um volume maior do Nordeste e passamos por uma exposição no quarto trimestre do ano passado, mas foi sazonalizado. Para este primeiro trimestre, esperamos alguma coisa próxima a 700 MW médios, que estão sofrendo essa exposição”, disse Marcus Vinicius, superintendente de Planejamento da Comercialização da companhia em teleconferência para apresentação de resultados do quarto trimestre de 2024.
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Privatização ou não
Em relação aos debates sobre o Programa Pleno Pagamento da Dívida dos Estados (Propag), Reinaldo Passarelli, presidente da companhia, disse que a empresa está recebendo ofícios e dialogando com o acionista controlador, por meio da Secretária de Desenvolvimento Econômico, para esclarecimento de quais regras se aplicam para transferência.
Em fevereiro, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) informou que aguardará na regulamentação do programa para iniciar a discussão sobre privatizar ou não a Cemig e a Copasa. A afirmação foi feita pelo presidente da Casa, deputado Tadeu Leite (MDB), que destacou o benefício do programa em relação ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) proposto pelo governo do estado, que acumula uma dívida de R$ 160 bilhões com a União.
Sancionado em janeiro pelo governo, o Propag cria regras flexíveis para pagamento das dívidas do estado com a União, acumuladas em R$ 760 bilhões, e era visto pela administração mineira como uma forma de ganhar fôlego via federalização de ativos estaduais, incluindo a Cemig e a Copasa, até a sua sanção. A mudança no ponto de vista ocorreu depois de 13 vetos da União ao programa e que podem, segundo a administração estadual, obrigar o estado a pagar R$ 5 bilhões a mais entre 2025 e 2026.
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Desinvestimentos e dividendos
Enquanto participa de debates sobre o seu futuro, Marco Soligo, vice-presidente de participações da empresa, destacou que a companhia segue trabalhando em seus desinvestimentos na Taesa, na hidrelétrica de Belo Monte e na consolidação de participação em empresas menores.
A companhia também pretende propor dividendos adicionais de R$ 1,88 bilhão em Assembleia Geral Ordinária (AGO), prevista para abril.
Resultados do 4T24
A empresa encerrou o quarto trimestre de 2024 com lucro líquido de R$ 998 milhões, queda de 47,1% ante o reportado em igual intervalo de 2023. No acumulado de 2024, o lucro líquido foi de R$ 7,1 bilhões, alta de 23,4% ante 2023.
O desempenho foi impactado, entre outros fatores, pela redução de 61% no lucro de comercialização, chegando a R$21,3 milhões, devido à exposição de, aproximadamente, 820 MW médios por conta da diferença de preços entre submercados.
Também houve um resultado de equivalência patrimonial menor em R$ 106,4 milhões, em função de piora no resultado de Belo Monte e à ausência de registro de equivalência da Aliança Energia, após a venda da participação no terceiro trimestre de 2024, bem como de redução de 1% na energia distribuída pela Cemig Distribuição e queda de R$ 26,7 milhões no lucro da Gasmig.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciação) somou R$ 1,914 bilhão, redução de 21,9%. Por segmento, a área de distribuição respondeu por 47,3% do indicador, seguido por geração (26,5%), transmissão (9,6%), gás (8,8%) e comercialização (7,7%).
Em contraste, a receita líquida cresceu 12,3% nos últimos três meses do ano, para R$ 11,777 bilhões.
A receita bruta com energia vendida a consumidores finais foi de R$ 8.250,7 milhões no período, em comparação a R$ 7.682,5 milhões no mesmo período de 2023, representando um aumento de 7,4%, apesar da redução de 4% no volume de energia. De acordo com a empresa, a variação é explicada, principalmente, pelo reajuste tarifário da distribuição, em vigor em 28 de maio de 2024, com efeito médio de 7,32%.
A receita de transmissão foi de R$ 343,6 milhões, alta de R$ 33,6 milhões, influenciado pelo aumento de 55,5% (+R$ 51,6 milhões) na receita de construção, decorrente, principalmente, do maior volume investido em obras de reforços e melhorias e da implantação do lote 1 do leilão 02/2022.
Já a receita bruta de fornecimento de gás totalizou R$ 988,4 milhões, queda em relação aos R$ 953 milhões do mesmo período do ano anterior, devido a maior tarifa vigente.
Distribuição
O fornecimento de energia para clientes cativos somado à energia transportada para clientes livres e distribuidoras, excluindo a energia compensada pela geração distribuída (GD), totalizou 12.317 GWh, uma redução de 1%.
O desempenho é decorrente, principalmente, do menor consumo das classes rural (-131,8 GWh ou -15,8%), comercial (-102,1 GWh ou -5,9%) e serviços públicos (-80,3 GWh ou – 8,8%) em função de migração para GD, temperaturas mais amenas e maior volume de chuvas, reduzindo a necessidade de irrigação.
Em contrapartida, a classe industrial apresentou aumento de consumo (+205,7 GWh ou +3,7%) com o crescimento da produção industrial. A redução de 1% no total de energia distribuída resulta da redução de 8,9% (-564,5 GWh) no consumo do mercado cativo, parcialmente compensada pelo aumento de 7,2% (+436,9 GWh) no uso da rede pelos clientes livres.
Vendas
A energia vendida pela Cemig Geração e Transmissão e pela holding, excluindo Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, apresentou alta de 2,5%, sendo que a energia faturada pela Cemig GT totalizou 5.526 GWh (incluindo energia de cotas), redução de 5,8%. A queda ocorreu em função da transferência de contratos de vendas para a Cemig holding.