A fabricante de pás eólicas Aeris Energy acredita que um leilão emergencial poderia ajudar a indústria eólica brasileira no curto prazo. Para isso, tem dialogado com Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio do Fundo Clima, para tentar readequar o cenário do país.
“Tem uma boa vontade, porque realmente eles [governo] estão bem-intencionados. Obviamente que o nosso negócio não é um navio, você não vira em um segundo. Então, é uma coisa mais complexa que tem todo um trabalho. Mas, estamos olhando e unindo todas as forças e eu vejo um futuro promissor”, disse José Azevedo, diretor Financeiro e de Relações com investidores da empresa, em entrevista à MegaWhat.
Com uma menor demanda no Brasil, a fabricante vê nas restrições impostas pelos Estados Unidos e Europa à China nos incentivos fiscais para implementação de novos parques eólicos e repowering de antigos uma “janela de oportunidades”. Atualmente, a Aeris possui uma carteira de contratos (backlog) de R$ 10 bilhões no longo prazo, distribuídos entre o Brasil e o exterior.
“Olhando para este ano e para 2025, o Brasil está com menos demanda. Por isso, começamos a olhar lá para fora. Estamos olhando simultaneamente para as duas [áreas], só que nós temos uma capacidade de produção. Em 2023, estivemos quase no limite no Brasil e não conseguimos direcionar para fora. Pensando para 2025, começamos olhar para a exportação, até para compensar aqui”, afirmou Azevedo.
Em teleconferência com investidores em maio, Alexandre Negrão, CEO da companhia, já havia destacado que o volume de projetos eólicos nos mercados norte-americano e europeu tem voltado a crescer após o estabelecimento de regimes como o Inflation Reduction Act (IRA) e o European Green Deal, levando à expectativa dessas regiões chegarem aos 50 GW nos próximos cinco anos. Os regimes buscam ajudar no cumprimento das metas de descarbonização e levou a fabricante a estudar uma possível entrada em ambas as regiões.
Com essa perspectiva, a Aeris acredita que as reduções de importação da Europa ao gás natural e petróleo da Rússia e as limitações impostas aos fornecedores chineses de turbinas eólicas realizados pela Comissão Europeia e pelos Estados Unidos, com foco em “lidar com os preços baratos”, pode ser outro elemento impulsionador da demanda.
“Esse é o raciocínio que fazemos. Além disso, nós acreditamos que o mundo vai ficar com falta de pá em 2026. Tem alguma coisa estocada, mas essa demanda e os compromissos firmados no âmbito da COP28 e do Acordo de Paris podem subir os pedidos. Mesmo que não venha tudo, vem uma boa parte”, ressaltou o executivo.
A ideia inicial é aproveitar a capacidade de produção ociosa na fábrica localizada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), no Ceará. A falta de demanda da fábrica levou a empresa a demitir mais de 1.500 funcionários.
“Agora, nós temos uma capacidade ociosa aqui. Faz sentido exportar. Fora que mão de obra não é fácil de arrumar lá, como é aqui. Por que não existe nenhuma fábrica de pás nos Estados Unidos? Está tudo fechado, por enquanto, mesmo com o IRA. [Sobre as dispensas], demitimos 1.500 pessoas, mas temos cerca de 6.400. Infelizmente, é uma situação muito chata. Porém, a nossa expectativa é recontratar todo mundo em 2026, quando prevemos um cenário de crescimento novamente”, afirmou o diretor Financeiro.
Para chegar competitiva em outros países, a fabricante de pás eólicas tem defendido o retorno de um dos pacotes relacionados à exportação que estava em vigor no país entre 2018 e 2019 e tornava o transporte de materiais da cadeia “mais barato”. Na visão do executivo, a volta poderia ajudar a Aeris e outras empresas a chegarem nos EUA mais competitivas em relação à Índia, por exemplo, que tem uma mão de obra mais barata.
“Isso sem dúvida que nos ajudaria. Isso é um incentivo importante para tornar viável. Até porque nós concorremos com o Índia que tem mão de obra muito mais barata. Tem que compensar em alguma coisa”, destacou o executivo.
Incentivos para melhorias
Enquanto aguarda um crescimento na demanda, a Aeris vê na manutenção e no repowering, que envolve a substituição de turbinas ou componentes antigos, de eólicas obsoletas uma oportunidade de negócio ainda em expansão no mercado internacional. A fabricante possui uma divisão especializada, a Aeris Service, que utiliza conhecimento e infraestrutura na fabricação de pás para o mercado de O&M de aerogeradores e deve representar entre 7% e 10% da receita da empresa.
“Manutenções preventivas e corretivas, inspeções fotográficas, pinturas, limpeza e outros reparos de pás eólicas vem crescendo. Também temos o repowering que é, normalmente, aumentar um metro na pá. Vemos isso como uma oportunidade para nós, porque, como somos fabricantes, entendemos do processo e as empresas acabam por nos priorizar na contratação por conta disso”, disse Azevedo.
Segundo o executivo, um dos mercados potenciais é o norte-americano, com parques eólicos com mais de 20 anos de operação, que precisam de melhorias. Os Estados Unidos tinham, até 2021, um crédito fiscal destinado à produção (PTC) tratando do assunto, e no qual permitia que proprietários reivindicassem um crédito de imposto de renda federal sobre cada quilowatt-hora de eletricidade vendida a uma parte não relacionada por um período de dez anos, após uma instalação é colocado em serviço.
O PTC envolvia o descomissionamento e a remoção das turbinas existentes e sua substituição por turbinas mais novas no mesmo local do projeto, desde que pelo menos 80% do valor do imóvel seja novo. Após o fim do incentivo, o repowering foi inserido no IRA. Conforme previsão da American Clean Power Association (ACP) e do Wood Mackenzie, é esperada a repotencialização de mais de 30 GW, ou 20%, da frota existente de energia eólica onshore dos EUA até o final de 2028.