Aumento da carga

Governo aposta em eletrificação para impulsionar demanda por energia

Segundo cálculos do MME, eletrificação na indústria e nos transportes pode dobrar participação da eletricidade na matriz energética brasileira

Governo aposta em eletrificação para impulsionar demanda por energia

A participação da eletricidade na matriz energética brasileira deve passar dos atuais 18% para até 45% até 2050, “se a gente caminhar bem no sentido da transição energética”, disse o secretário de Transição Energética e Planejamento do Ministério de Minas e Energia (MME), Thiago Barral.

O crescimento deve vir, sobretudo, com a eletrificação da indústria e dos transportes – setores que, hoje, correspondem a 63% do consumo de outras formas de energia no país.

“Isso significa que temos um outro setor elétrico inteiro para desenvolver e só vamos fazer isso de forma competitiva e satisfatória se tivermos capacidade de atualizar nossos marcos legais e regulatórios. A estratégia do setor elétrico que nos trouxe até aqui não necessariamente vai nos levar a esse desenvolvimento”, disse Barral em audiência pública sobre transformação energética e desenvolvimento econômico e social, realizada nesta quinta-feira, 4 de julho, na Câmara dos Deputados.

Entre os desafios para a modernização, o secretário mencionou a revisão dos subsídios e a necessidade de potência e flexibilidade, do lado da oferta. Pela demanda, Barral projeta um consumidor que busca cada vez mais liberdade e customização do fornecimento de energia ao seu perfil de consumo, o que tende a ser cada vez mais factível com a digitalização e novas tecnologias, na visão do secretário. 

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Uma prova desta busca por maior liberdade seria o porte da geração distribuída (GD) no Brasil, que já responde por 69%, ou 27,6 GW, da capacidade de geração solar fotovoltaica – que, por sua vez, é a fonte que mais cresce no país. “O crescimento da GD traz desafios para a gestão elétrica, sobretudo em relação a distribuição, mas evidencia esse papel protagonista do consumidor que está em busca de mais liberdade e do que lhe atende melhor, sobretudo em relação a custo”, avaliou Barral.

Requisitos do sistema

Questionado sobre o custo que as térmicas representam em um sistema com participação cada vez maior de fontes intermitentes, Thiago Barral avaliou ser preciso aperfeiçoar os sinais de preço tanto da geração, mas também de transmissão e distribuição, para chegar ao melhor custo final ao consumidor.

Ele avalia ser importante pensar em requisitos do sistema, em vez de atributos da fonte, para uma avaliação mais ágil e focada no consumidor. “E aí as fontes têm características que vão responder esses requisitos de forma mais ou menos barata”, disse.

Para ele, alguns dos fatores de precificação mais urgentes seriam energia, potência e flexibilidade Com isso, seria possível criar mecanismos de granulidade temporal, ou seja, no momento em que a energia, potência ou flexibilidade for mais escassa, o preço aumenta.

“A parte de emissões [de carbono] talvez não precisemos embutir no preço da energia porque temos hoje o mercado de carbono que pode oferecer uma visão mais racional”, avaliou.

Motivações da transição energética

A audiência pública na Câmara recebeu outros agentes do mercado. Presidente da Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, defendeu que a transição energética não deve ser vista como um fim em si mesma, mas como uma forma de alcançar “uma sociedade mais próspera e justa”.

Segundo ele, a perda desta visão pode fazer com que as discussões sobre transição energética sejam “capturadas” por interesses particulares – o que teria acontecido nos mercados de energia elétrica e gás natural, na visão de Pedrosa.

“Eólica offshore, abertura do mercado livre, hidrogênio verde, [nada disso] é um fim em si mesmo. Vamos exportar hidrogênio com subsídio pago pelo consumidor brasileiro para descarbonizar a indústria europeia que vem competir conosco? Temos que orientar a discussão para aproveitar a oportunidade da transição energética”, declarou.

Para ele, a modernização do setor é importante. “Temos energia sobrando no Brasil, que volta como sobrecusto ao consumidor, na forma da sobrecontratação das distribuidoras. A operação do sistema está ruim”, avalia.