Baterias

Antes do leilão, Atlas estuda regras para estruturar sistemas de baterias no Brasil

BESS del Desierto. Foto: Atlas Renewable Energy.
BESS del Desierto. Foto: Atlas Renewable Energy.

Com uma experiência em baterias bem-sucedida no Chile, a partir de contratos de compra de energia de longo prazo (PPAs, na sigla em inglês), a Atlas Renewable Energy vê oportunidades de desenvolvimento da tecnologia no Brasil em seus parques além daquelas que devem surgir com o de reserva de capacidade anunciado pelo governo.

“Na nossa visão, se a regulação for mais abrangente, você não fica dependente de um leilão para viabilizar a tecnologia. A nossa posição é que a regulação seja mais abrangente e permita o uso da bateria, por exemplo, com projetos existentes ou novos projetos, independente de um leilão”, disse o country manager da Atlas no Brasil, Fábio Bortoluzo, durante a inauguração do projeto BESS del Desierto na última quinta-feira, 24 de abril.

A empresa espera que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) conclua em maio a regulamentação dos sistemas de armazenamento, e acredita que a tecnologia tem potencial para ser competitiva e vencer leilões de baterias ou de reserva de capacidade, até mesmo competindo com outras fontes.

“[O leilão] é importante também, um driver até para a gente desenvolver linhas de financiamento com os bancos de fomento e mercado de capitais poderem aprender e ter uma primeira oportunidade num molde de leilão. É melhor que a gente possa fazer outros tipos de investimento que não só o leilão”, completou Bortoluzo.

Sinais de preço antes do leilão

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A experiência chilena já teve início com sinais de preço e através do empilhamento de receitas. Segundo a Atlas, com sinais econômicos viáveis e contratos de fornecimento de energia estabelecidos, foi possível buscar a financiabilidade dos projetos.

“O Chile já tem uma maturidade de mercado, com a disponibilidade desse empilhamento de receitas, com um mercado livre de grandes consumidores já em pleno desenvolvimento. No momento que vem a tecnologia, num custo de investimento mais competitivo e decrescente, você teve todos os ingredientes para viabilizar as baterias”, disse o country manager da Atlas no Brasil.

Para o CEO da Atlas Renewable Energy, Carlos Uchoa Barrera, os sistemas de armazenamento por baterias são uma realidade escalável.

“Esta planta não é apenas o maior sistema de armazenamento independente do Chile, possivelmente o maior da América Latina, mas é uma peça-chave na transição global para um sistema elétrico mais flexível, resiliente e limpo. Com este projeto, o que antes era uma limitação técnica agora se transforma em uma vantagem competitiva”, disse Barrera.

Contrato de baterias para mobilidade elétrica

Do lado dos contratos, Vania Toro, gerente-geral da Emoac, a comercializadora de energia da empresa chilena Copec que firmou contrato de compra de energia com o projeto chileno BESS del Desierto, foi necessário acreditar e impulsionar essa ideia alguns anos antes.

“Não se conhecia bem a lógica operacional desses sistemas de armazenamento. O acesso ao financiamento bancário era complicado. A própria regulamentação não estava completamente definida. Mas, ainda assim, junto com a Atlas, tivemos a convicção de que este era o caminho necessário para o sistema elétrico”, disse Vania Toro na inauguração do empreendimento.

A BESS del Desierto conta com 320 baterias e está instalada junto à usina solar Sol del Desierto (244 MWp), também da Atlas, no município de Maria Elena, na região de Antofagasta. O conjunto de baterias tem capacidade de 200 MW a cada quatro horas, com capacidade de armazenamento de 800 MWh.

“Nos permite aproveitar o enorme potencial de energia solar do norte do país para usá-lo em outros horários. Quero contar que grande parte dessa energia será utilizada pela Copec-Emoac para abastecer o transporte público, em mais de 27 eletropostos com essa energia”, disse a executiva.

Os 200 MW instalados nas baterias e 800 MWh de armazenamento após ciclos de quatro horas, permitirão abastecer aproximadamente 2.500 ônibus elétricos, que poderão rodar cerca de 69 mil km cada por ano.

“Isso equivale a percorrer o Chile 14 ou 15 vezes. Esses ônibus são carregados à noite, pois durante o dia estão circulando. Por isso, esse projeto fecha um ciclo virtuoso de inovação, eficiência e bem-estar social — o que buscamos como país”, completou Vania Toro.

*A jornalista viajou ao Chile a convite da Atlas Renewable Energy Brasil