
A região Nordeste precisa ser “bonificada”, por meio do sinal locacional na tarifa, pelo volume grande de energia gerada e exportada para outras regiões do país durante a maior parte do dia.
“É preciso que o sistema elétrico nacional sinalize para os próximos investimentos e para os grandes consumidores que a energia estará aqui [Nordeste]. É preciso que a gente sinalize, inclusive, com preços”, disse o diretor de Planejamento do Banco do Nordeste (BNB), José Aldemir Freire, durante o Evex Natal.
Segundo ele, quase metade da energia produzida em alguns estados, como Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte é enviada para outras regiões do país.
“Nós não queremos ser apenas exportadores de energia para o resto do Brasil. [O setor de] energia precisa da construção de novas linhas de transmissão, é importante, e o BNB está dando foco a isso. Mas, mais do que isso, nós precisamos ampliar os investimentos nessa área e trazer carga para a região”.
Esse aumento de carga pode vir por meio de plantas de hidrogênio verde e por data centers, onde o BNB vê grande potencial, já que 90% dos dados passam pelo Nordeste, por cabos submarinos na praia do Futuro, em Fortaleza.
O executivo do BNB admitiu que são necessários investimentos expressivos na rede de transmissão para viabilizar o aumento da geração e também do consumo na região. “Precisamos avançar, fechar os gargalos, e passar da discussão de linhas de transmissão, que é apenas parte da solução, a outra parte é você ter aqui [Nordeste] grandes cargas locais”, completou Freire.
Leilões regionais de armazenamento
Com uma carteira de R$ 40 bilhões, o BNB possui linhas de financiamento para data centers e hidrogênio, além de abranger projetos de forma mais ampla, tratando da descarbonização. Em outra frente, a busca é pelo avanço por meio de leilões próprios, como os de armazenamento.
“E aí eu defendo que, em leilões de armazenamento, existam aqueles específicos para o Nordeste e para as renováveis. Não interessa sistemas de armazenamento lá no Sudeste. Eu quero sistemas de armazenamento aqui do lado da nossa geração de energia, para disponibilizar ou para jogar na rede quando você tem uma queda da geração solar e que você possa jogar essa energia”.
Impactos do curtailment
Em relação ao curtailment, por ter exposição elevada aos projetos renováveis, Freire comentou que o atraso do retorno dos investimentos para geradoras renováveis pode acabar chegando ao banco. Mas, para José Aldemir Freire, como o Banco do Nordeste está ancorado em fianças bancárias, o maior risco fica para o desenvolvimento de novos negócios e novos financiamentos para renováveis.
“Ainda não ocorreu nenhum episódio de deixarem de pagar a gente por esses cortes de energia elétrica. Mas imaginem que alguém aí entra em default, e a gente do banco, ative a fiança bancária? Vai travar. A gente não vai financiar”, explicou.
Isso porque as empresas não terão mais os recebíveis como garantias, e o agente de fiança, para quem o banco transfere o risco, ou subirá a fiança ou negará.
*Natália Bezutti viajou a convite do Evex