A Engie pretende cumprir o plano de investir R$ 8,5 bilhões no Brasil entre 2025 e 2027, mesmo com os impactos do curtailment e eventuais reflexos da guerra no Oriente Médio sobre a cadeia de suprimentos e logística globais.
Em outra ponta, poderá participar do leilão de reserva de capacidade (LRCap) com a expansão de até 2 GW na capacidade instalada de suas hidrelétricas, se conseguir equacionar a renovação das concessões desses projetos.
Nos próximos anos, vencem concessões de grandes usinas, incluindo Salto Santiago (1,42 GW), Salto Osório (1,078 GW), Itá (1,45 GW) e Machadinho (1,14 GW), da Engie, além de Água Vermelha (1,4 GW), da Auren, e Lajeado (902 MW), da EDP.
Se os preços do leilão do certame forem interessantes, a questão técnica será menos desafiadora do que a questão do vencimento de outorgas, disse o Managing Director de Infraestrutura da Engie no Brasil, Gustavo Labanca.
“As nossas concessões, a maioria delas vence no horizonte 2030. Então, teria que ver que tipo de mecanismo a gente poderia ter para essa parcela ter um prazo mais longo”, disse Labanca a jornalistas nesta segunda-feira, 23 de junho, após o Engie Day, no Rio de Janeiro.
🎧 Leilão sob risco e curtailment em alta após vetos derrubados
O executivo destacou a importância de o leilão ocorrer ainda neste ano, mas reconheceu que “a cada semana que passa, fica mais difícil”. Outro ponto de interesse da companhia é o leilão de baterias, mas que segundo o Ministério de Minas e Energia (MME) deve acontecer depois do LRCap.
A Engie já tem experiência com a tecnologia de armazenamento em baterias em países como Estados Unidos e Chile, e teria interesse em trazê-la ao Brasil. Entre os pontos-chave para isso, está a viabilidade econômica dos projetos e o modelo de negócios, que poderia estar mais voltado a serviços na transmissão ou como complementaridade na geração renovável.
Engie: curtailment, GD e térmicas inflexíveis
Ainda no cenário nacional, os cortes de geração são vistos com mais atenção pela empresa. “Você tem uma sobreoferta e isso acaba também atrasando novos investimentos no setor. É óbvio que para poder tomar uma decisão de investimento em um projeto novo, tem que ter uma viabilidade econômica”, disse Labanca.
Na última semana, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) divulgou relatório que aponta que os cortes por falta de demanda podem chegar a 96% dos 20 GW estimados para curtailment durante o dia em 2029. Parte desta questão está relacionada à expansão MMGD, que deve chegar a 53 GW de capacidade instalada ao fim da década.
Para Gustavo Labanca, a Medida Provisória (MP) 1.300 poderia resolver parte da questão, com o fim dos subsídios para a MMGD. Entretanto, o executivo avalia que outras estratégias precisariam ser postas em prática para resolver o curtailment.
“Não é só melhorando a transmissão, mas também você tem que ter, quem sabe, até também o corte do lado da distribuída. Você tem os DSOs, que também poderiam estar promovendo algum tipo de corte em determinado momento do dia em geração. É urgente resolver a questão do curtailment”, disse o executivo da Engie.
Além da MMGD, outra complicação para o curtailment está na derrubada dos vetos da lei das eólicas offshore, que trouxe de volta a contratação de térmicas inflexíveis. “O sistema não precisa de térmicas inflexíveis. Quando você coloca uma térmica inflexível, você está deslocando oferta de outras fontes. Isso pode acelerar ainda mais o curtailment. Preocupa a volta desse jabuti, é ruim”, avaliou Labanca.
Conflito no Oriente Médio
“Quando a gente fala de guerra, a questão da cadeia de suprimentos e de logística pode impactar, mas ainda é cedo para a gente falar de uma consequência clara”, disse o Managing Director de Infraestrutura da Engie no Brasil,
“Quando você aumenta a volatilidade, aumenta a insegurança, você tem aquela questão de ser um pouco mais conservador. Algumas empresas, não é o caso da Engie, acabam também adiando decisão de investimento para esperar o cenário se normalizar. A gente tem o nosso programa de investimentos e espera cumprir”, concluiu o executivo..
Entre os projetos da Engie no país, estão as linhas de transmissão Asa Branca, com mil quilômetros de linha entre a Bahia e o Espírito Santo, e Graúna, conquistada no segundo leilão de transmissão de 2024, com 780 quilômetros de extensão que devem reforçar o escoamento de energia entre os subsistemas Sul e Sudeste/Centro-Oeste do país.
A empresa também tem plantas eólicas e solares em fase final de implementação, como o conjunto eólico Serra do Assuruá, na Bahia, e o solar fotovoltaico Assú Sol, no Rio Grande do Norte, além de outros projetos de geração renovável em desenvolvimento. Globalmente, a empresa pretende ampliar a capacidade de geração renovável dos atuais 31 GW para 95 GW até 2030.
“Esses programas continuam a todo vapor, não tem impacto nenhum com a situação geopolítica. Mas gera algum tipo de preocupação com a cadeia de suprimentos, com certeza, porque acaba impactando o processo de produção”, disse Labanca.