Conhecida principalmente por sua atuação na área nuclear, a gigante russa Rosatom estuda participar do leilão de energia nova do tipo “A-5” com projetos de geração a partir da recuperação energética de resíduos sólidos urbanos, conhecidos como “waste-to-energy”. A empresa, que possui experiência em projetos do tipo na Rússia, vai conversar com potenciais parceiros no Brasil para avaliar a possibilidade de participar da licitação, marcada para 30 de setembro e que negociará contratos para início de fornecimento em 2026.
“Estamos ansiosos para encontrar parceiros aqui e talvez participar dessas licitações nesse tipo de geração”, afirmou Ivan Dybov, presidente da Rosatom para a América Latina, em entrevista à MegaWhat. “Podemos fornecer a tecnologia, podemos fornecer algumas condições de financiamento [para projetos]. Como será um leilão e há competidores, não posso fornecer muitas informações sobre isso, mas já há soluções financeiras sobre como podemos fazer esse projeto e vamos falar com potenciais parceiros para acelerar e talvez participar em parceria com companhias no leilão”.
Medicina nuclear
Uma das maiores companhias integradas de tecnologias nucleares do mundo, a Rosatom possui, desde 2015, um escritório no Rio de Janeiro, que também funciona como sede do grupo para a América Latina.
Neste mês, a companhia, por meio da subsidiária Isotope JSC, fechou acordo de cinco anos com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para o fornecimento ao Brasil dos isótopos médicos Lutécio-177 e Actínio-225, destinados à área de radiofarmácia.
“Nós já temos um relacionamento de longo prazo com a Ipen”, disse Dybov. “E acreditamos que podemos contribuir para o mercado de medicina nuclear porque é muito importante para o tratamento contra o câncer. Estamos muito felizes em trabalhar com o Brasil nesta direção”.
Segundo o executivo, por enquanto o setor de medicina nuclear é a principal área de atuação do grupo na América Latina, com negócios em andamento também na Argentina, Chile e México. Dependendo do crescimento do mercado, a companhia pode, no futuro, produzir os isótopos no Brasil, em cooperação com empresas locais.
Energia nuclear
O maior foco do conglomerado russo no Brasil, porém, é a energia nuclear. A companhia avalia participar da concorrência internacional para a contratação da empresa que ficará responsável pelo “EPC” (sigla em inglês para engenharia, suprimentos e construção) da conclusão da usina nuclear de Angra 3, prevista para 2022, e de futuros projetos de novas usinas no país.
“Temos muita experiência em fazer projetos no modelo de EPC. Por exemplo, na Hungria, estamos fazendo isso agora”, explicou o executivo. A companhia possui um portfólio de projetos fora da Rússia com 35 unidades de energia em diferentes estágios de implementação em 12 países,
Com relação a futuros projetos de geração de energia, o Plano Nacional de Energia (PNE) 2050, lançado pelo governo brasileiro no ano passado, prevê 10 gigawatts (GW) em novas usinas nucleares nas próximas três décadas. O documento, no entanto, não define o porte dos projetos.
“O que vemos como positivo é que o Brasil já anunciou planos para construir novas usinas nucleares. Isso é realmente interessante para nós”, disse Dybov. “Acredito que será uma oportunidade muito boa para cooperar com a indústria brasileira, ter experiência para trabalhar não só com medicina nuclear, que é muito importante para nós, mas no setor de energia, em um grande nível de cooperação, não só no Brasil, mas em países vizinhos”.
A companhia também enxerga oportunidades para atividade de mineração de urânio no Brasil, em parceria com a Indústrias Nucleares do Brasil (INB). As duas empresas inclusive já assinaram uma carta de intenções nesse sentido. A participação de empresas privadas e estrangeiras na mineração de urânio, porém, ainda depende de mudança na legislação brasileira.
* Reportagem atualizada às 21h50.