Micro e minigeração distribuída

'Eclipse Day': Quais efeitos o movimento de geradores fotovoltaicos pode ter no sistema?

Nas últimas semanas, tem circulado nas redes sociais uma mensagem sem autoria conhecida convocando o desligamento temporário das usinas de geração solar distribuída, a fim de expor a importância do segmento no atendimento energético do país. Chamado de "Eclipse Day", o movimento defende

'Eclipse Day': Quais efeitos o movimento de geradores fotovoltaicos pode ter no sistema?

Nas últimas semanas, tem circulado nas redes sociais uma mensagem sem autoria conhecida convocando o desligamento temporário das usinas de geração solar distribuída, a fim de expor a importância do segmento no atendimento energético do país.

Chamado de “Eclipse Day”, o movimento defende o desligamento das geradoras entre 11h30 e 15h30 na próxima terça-feira, 7 de março. “Já que a Aneel acha que a energia solar não é importante para o Brasil e, com o apoio dos oligopólios, está tentando exterminar um setor que gera mais de 50 mil empregos de norte a sul do país, vamos desligar todas as usinas solares de todo porte do país”, diz a mensagem, que completa questionando se “tirar uma Itaipu de energia do ar vai fazer falta”.

A mensagem não foi bem recebida nas principais lideranças nacionais da geração distribuída e da fonte solar fotovoltaica, devido ao potencial dano na reputação do setor. Além disso, a expectativa é que, mesmo que haja uma adesão considerável, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não terá dificuldades em gerir a operação neste período. Poderia haver impacto nos encargos de energia, com acionamento de termelétricas, mas as hidrelétricas estão com os reservatórios em níveis muito confortáveis, e o efeito pode ser, na verdade, uma redução do GSF dessas usinas.

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“A missão do ONS é garantir a confiabilidade lidando com variações positivas ou negativas da oferta e demanda. Estas variações podem ser caudadas por diversos fenômenos, como climáticos, físicos, ataques terorristas, cibernéticos, podem ser programados ou aleatórios. Com a situação confortável dos reservatórios e com o aviso programado do eclipse, em tese o operador deveria conseguir gerenciar o atendimento a demanda sem grandes dificuldades”, disse Luiz Barroso, presidente da PSR.

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A MegaWhat procurou o ONS, que afirmou que o Sistema Interligado Nacional (SIN) é robusto e está preparado para lidar com eventuais flutuações na disponibilidade de geração e na carga a ser atendida. 

Especialistas consultados pela reportagem afirmaram ainda que, se o movimento não tivesse marcado uma data e horário para o desligamento, o ONS poderia ter mais dificuldades na gestão da geração, mas ainda assim seria uma variação aleatória para a qual o operador está preparado para lidar.

Na semana passada, as instalações de GD solar fotovoltaica atingiram 18 GW em todo o Brasil. Já a solar fotovoltaica centralizada, de grande porte, tem 8 GW em capacidade instalada no país atualmente.

Se o ONS cumprir o esperado e exercer seu papel, o maior impacto do movimento pode acabar sendo o dano à reputação do segmento. “Obviamente isso não é forma séria de se tratar o setor elétrico e estas ações orquestradas devem ser punidas”, afirmou Barroso, da PSR.

Fontes ouvidas pela MegaWhat sob condição de anonimato afirmaram que não pretendem aderir ao movimento, mesmo que não tenha sanção prevista, pois não faria sentido deixar de gerar créditos que poderão ser abatidos do custo da conta de luz, como acontece nos sistemas de micro e minigeração distribuída (MMGD).

As principais lideranças do setor também se manifestaram de forma contrária. Guilherme Chrispim, presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), afirmou que a entidade não compactua com a iniciativa e entende que não é assim que os propósitos serão atendidos. “É preciso ser responsável com o setor elétrico brasileiro e com as pessoas. Entendemos que o caminho mais correto é sempre o do diálogo e da democracia. A geração distribuída é positiva para o sistema elétrico nacional e também para a população”, afirmou.

Hewerton Martins, presidente do Movimento Solar Livre, alertou que a iniciativa pode prejudicar os consumidores de GD, e não agrega nada aos integradores e consumidores. “Mesmo que não ocorra, a proposição pode ser usada de  ‘bode expiatório’ pelo lobby do setor elétrico para argumentar que o consumidor não deve ter o poder de gerar energia devido aos riscos para o sistema”, afirmou.

A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), por sua vez, afirmou que a iniciativa “pouco contribui para o desenvolvimento sustentável e a boa governança do setor elétrico brasileiro” e recomendou aos geradores pela não adesão à ação. “O desligamento em massa de qualquer potência instalada relevante, incluindo a da geração distribuída solar fotovoltaica (GDFV), pode trazer inúmeros prejuízos à operação do sistema elétrico, aos consumidores e às instituições”, diz a nota da Absolar.

Para a Absolar, o reconhecimento dos atributos e benefícios do segmento ao SIN é uma pauta prioritária e de extrema urgência, mas o seu desenvolvimento precisa ser ancorado no dialogo qualificado, na razoabilidade e na análise técnica dos dados.