O crescimento expressivo da geração renovável projetada para os próximos anos, combinado ao fato de o custo médio da energia eólica e solar no Brasil estar entre US$ 30 e 40 por MWh, abaixo da média global, devem levar a uma redução significativa nos preços dos contratos de compra de energia (PPA, na sigla em inglês) no longo prazo no Brasil. A conclusão é do relatório assinado pelos analistas do Itaú BBA, Marcelo Sá, Filipe Andrade, Luiza Candido e Matheus Marques, e enviado a clientes.
No relatório, os analistas apontam que a tendência de baixa nos PPAs favorece o desenvolvimento de projetos voltados para produção de hidrogênio verde, que exigem geração renovável estável e a preços competitivos.
“Esperamos um forte crescimento na capacidade renovável até 2025, já que muitas empresas estão correndo contra o relógio para construir ativos e iniciar as operações a tempo de aproveitar subsídios. A partir de 2026, esperamos uma adição de capacidade muito menor, dado o provável excesso de oferta, o que levaria os preços dos contratos de compra de energia (PPA, na sigla em inglês) a níveis muito baixos”, escreveram os analistas.
Citando estudo da consultoria McKinsey, o relatório do banco aponta que o custo da energia eólica pode chegar a um patamar entre US$ 20 e US$24/MWh em 2030, caindo para US$ 17 a US$ 21/MWh até 2040. Já o custo da fonte solar fotovoltaica pode cair de US$ 17 a US$21/MWh em 2030 para US$ 13 a US$ 17 até 2040.
Caso o cenário se confirme, os analistas do Itaú BBA acreditam que o Brasil terá um setor de renováveis competitivo, pois existem alguns estados do Nordeste que possuem recursos de solar e eólica que favorecem o desenvolvimento de projetos híbridos. A expansão do segmento será fundamental para a expansão do hidrogênio verde brasileiro, que vai servir, inicialmente, para abastecer o mercado interno, chegando a aproximadamente 3,2 milhões de toneladas até 2030.
Mencionado a pesquisa da norueguesa Rystad Energy, o Itaú BBA estima um aumento na produção de amônia para fertilizantes e para segmento de refino de petróleo, que devem responder por cerca de 80% da demanda total no período previsto. A indústria do aço também deve ganhar destaque no longo prazo, sendo a segunda maior demanda no país até 2040. Igualmente, o setor de transporte apresentará maior procura pelo hidrogênio verde.
“Os clusters industriais podem oferecer uma grande oportunidade para desenvolver este mercado interno, aproveitando as vastas recursos energéticos e infraestrutura logística existente e, portanto, com potencial para criar centros de hidrogênio”, dizem os analistas.
De acordo com a análise, até o momento, foram anunciados três projetos brasileiros ligados ao hidrogênio verde: Os portos do Pecém, no Ceará, de Suape, em Pernambuco, e do Açu, no Rio de Janeiro. Os empreendimentos ainda estão em estágio inicial, mas se avançarem poderão contribuir para impulsionar o mercado interno de hidrogênio, dadas as suas localizações.
Atualmente, a demanda por hidrogênio no Brasil está em 2,5 milhões de toneladas, e vem principalmente de refinarias e unidades de fertilizantes. Para que essa demanda seja atendida por hidrogênio verde, produzido a partir de energia renovável, os analistas estimam que o Brasil teria que construir 32 GW em energia solar e em eólicas onshore e offshore, demandando R$ 161 bilhões em investimentos.
“O Brasil não precisa construir nova capacidade de geração nos próximos cinco anos, visto o atual cenário de superoferta. No entanto, a longo prazo, acreditamos que a demanda por hidrogênio verde exigirá mais investimentos em novas capacidades renováveis”, conclui os analistas.