Mercado energético

Redução da demanda global ajudará retomada de GD solar no Brasil pós-pandemia

Um dos muitos efeitos provocados pela pandemia do coronavírus (covid-19) foi a desaceleração dos projetos de geração distribuída (GD) solar fotovoltaica nos últimos dois meses, mas a sobreoferta global de equipamentos e a contínua tendência de redução dos custos da tecnologia reforçam as expectativas de que o segmento terá um bom desempenho em 2020.

Segundo a Greener, no primeiro trimestre deste ano, foram conectados à rede 580 MW de potência de projetos de GD da fonte solar fotovoltaica, mais que o dobro dos 250 MW conectados no mesmo intervalo de 2019. 

Desde abril, contudo, houve uma desaceleração. No acumulado no segundo trimestre, até 5 de junho, foram conectados 245 MW. Mesmo assim, o volume é maior que o conectato entre abril e maio do ano passado (220 MW). “Vimos sinais de demanda menor por equipamentos no segundo trimestre, o que é natural. Mas o investimento em solar continua tendo bons fundamentos e por isso eu acredito na retomada”, disse Marcio Takata, diretor da Greener.

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A desaceleração nos últimos meses refletiu questões como postergação de obras, por conta de medidas de isolamento social, e também o aumento do preço dos equipamentos provocado pela disparada do dólar. Segundo a Greener, 97% dos módulos são importados, e representam de 60% a 65% do custo final dos projetos. No início do ano, o dólar estava próximo de R$ 4,00, e chegou a bater o pico de R$ 5,90 em meados de maio.

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“Se a gente considerasse o repasse integral, seria um aumento de 21% no custo”, disse Tanaka. O repasse, contudo, foi menor, da ordem de 10% a 15%, pois os integradores reduziram suas margens para garantir as vendas e a retomada do mercado.

Outro motivo que tem colaborado com a redução de novas conexões de GD é a demora das distribuidoras em concluir os processos, segundo Camila Ramos, diretora e fundadora da Clean Energy Latin America (Cela), butique de investimentos que presta assessoria financeira no setor de energia renovável.

“Não estão fazendo as conexões, então realmente é muito problemático. Mas o governo espera uma retomada da economia no segundo semestre e acredito que teremos um crescimento comparável ao de 2019, o que seria um feito espetacular”, disse ela.

Segundo Ramos, o câmbio deixa os projetos mais caros, mas é uma questão conjuntural e imprevisível. Depois do pico em maio, o dólar já recuou para abaixo de R$ 5,00. De outro lado, há duas pressões de redução dos custos. “Uma é a histórica queda constante do custo da tecnologia solar, e a outra é a redução de demanda por equipamentos globalmente, principalmente em grandes mercados como a China”, disse a especialista. 

A opinião é semelhante à de Tanaka, que também vê as sobras de equipamentos no mundo como fator que ajuda a pressionar os preços e manter a atratividade dos empreendimentos. “Para os embarques do terceiro trimestre, para o qual os negócios estão sendo fechados agora, vemos tendência de redução de preços dos módulos fotovoltaicos”, disse o especialista.

O cenário de margens menores, segundo Tanaka, não deve permanecer por muito tempo. “Naturalmente isso não é sustentável. Hoje ainda falamos em um cenário de susto grande, mas o mercado vem retomando os volumes”, disse.

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