Praticar o modelo de paridade de preços de importação (PPI) não é justificável e é uma ‘estupidez’ para países autossuficientes na produção de petróleo. A declaração foi dada pelo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que afirmou que os novos valores referência passaram ‘no teste’ e não são necessários para que a empresa tenha lucro.
“O PPI é a maior estupidez que um país pode praticar não sendo um importador, e autossuficiente em petróleo. [Em muitos governos] foi buscado a autossuficiência do país. Então, quando se chega à autossuficiência, por que você vai praticar a paridade de importação de refinarias da Alemanha ou num terminal do Texas? Mais os preços do frete e das despesas? Era isso que a gente estava pagando. Igualar ao preço do importador é igualar ao preço do concorrente mais ineficiente”, disse o Prates durante audiência realizada nesta quarta-feira, 16 de agosto, no Senado para debater as políticas de preços e abastecimentos da empresa.
Na audiência, o executivo destacou que, além da autossuficiência, a prática de preços anterior alinhada à volatilidade estrangeira já justifica a alteração na política de preços praticados pela companhia, e que desde 2017 a Petrobras sofreu 118 reajustes nos preços. “Quem que vive com isso? […] Isso não tem a ver com ideologia, é lógica pura: não deu certo”.
Em maio deste ano, foi anunciado o fim da paridade de preços de importação do petróleo e dos combustíveis derivados, como a gasolina e diesel, pela estatal, que teve como premissa preços competitivos por polo de venda, em equilíbrio com os mercados nacionais e internacionais. Do término do PPI até agora foram realizados pela empresa quatro reduções no preço da gasolina, enquanto o preço do diesel teve apenas uma redução.
Nesta semana, a Petrobras aumentou os preços da gasolina e do diesel, sob o argumento que evitaria o repasse a volatilidade conjuntural do mercado internacional e da taxa de câmbio. Apesar da elevação dos preços, Prates afirmou na audiência que a nova política “passou no teste”.
“Qual era o teste que se propunha? ‘Quero ver na hora que subir o preço lá fora, se [a Petrobras] vai fazer o ajuste’. Fizemos. Portanto, a política passou no teste e vamos fazer [reajuste] quando for necessário”, disse Jean Paul, referindo-se às falas de críticos da nova política de preços do governo.
Apesar de passar na avaliação da estatal, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) calcula que as principais refinarias da estatal acumulam uma defasagem média de 26% para a gasolina e de 28% para o diesel, em relação aos preços praticados mercado internacional. Já analistas de óleo e gás da XP Research afirmam que a defasagem gira em torno de 45% para gasolina e em 31% para o diesel.
“Não adiante dizer: ‘ah, a Petrobras ontem ajustou e mesmo assim ficou defasado em relação ao preço do consultor tal, do centro não sei de quantas, da Abicom. Esses preços de referência não são os preços que a Petrobras pratica e não são os preços que a Petrobras precisa praticar para ter lucro. Temos eficiência e vantagens competitivas”, disse Prates.
Na audiência, ele explicou que os reajustes realizados nesta semana estão dentro da volatilidade do mercado e levam em consideração o modelo aplicado pela petroleira, em que o preço é definido conforme a relação do valor marginal e do custo alternativo do cliente, para proteger a companhia das oscilações sem gerar prejuízo.
Em agosto foram divulgados os resultados da empresa desde o anúncio do fim do PPI, e nos quais, a Petrobras teve lucro líquido de R$ 28,8 bilhões no segundo trimestre do ano, retração de 47% na comparação com o lucro de R$ 54,33 bilhões na base anual, refletindo a redução dos preços do petróleo no período, uma vez que no mesmo período do ano passado os efeitos da guerra entre Ucrânia e Rússia ainda impulsionavam a alta da commodity a patamares elevados.
Para o presidente da Petrobras, o PPI interessa somente aos importadores, o que explica o aumento expressivo do número de agentes que atuam nesse ramo.
Ele ainda destacou que os preços são definidos pela empresa e que não há interferências por parte do governo.