O Mecanismo de Realocação de Energia (MRE) por meio do processo competitivo para Exportação de Vertimento Turbinável para o Uruguai e a Argentina também deveria acontecer com as hidrelétricas que não possuem excedente de geração, segundo Eduardo Takamori, diretor Financeiro da Engie Brasil.
“É um dinheiro na mesa muito grande para o setor elétrico brasileiro, dada a condição de retorno com a sobreoferta”, destacou durante teleconferência de resultados.
O procedimento começou a funcionar em janeiro deste ano, a fim de exportar para os países vizinhos o excedente da produção das hidrelétricas – que, devido à carga baixa e o bom nível dos reservatórios, acabam não usando toda o potencial de geração de energia elétrica para atendimento dos consumidores brasileiros.
Com o período mais úmido no início do ano e a geração excedente das hidrelétricas, a Engie Trading Comercializadora de Energia foi umas das autorizadas pelo Ministério de Minas Energia a exportar energia elétrica interruptível para a Argentina e para o Uruguai.
Segundo Takamori, a Engie tem avançado nas discussões sobre o assunto, levando a pauta para discussões com o governo brasileiro
“Estamos esperançosos que isso seja acolhido pelo governo, as coisas estão se alinhado”, afirmou durante teleconferência de resultados.
Transmissão
Além do setor de geração, a Engie tem olhado para o potencial do setor de transmissão. Após arrematar o lote 5 do último leilão de transmissão, que ocorreu em 30 de junho, a companhia deve adotar uma estratégia mais cautelosa no próximo certame, marcado para 15 de dezembro deste ano, e que contará com investimento estimado de R$ 21,7 bilhões, visto as suas especificidades.
“O próximo leilão é específico e tem uma série de relações entre lotes, ele foi desmembrado, e talvez tenhamos menos apetite que o leilão seguinte [março/2024], mas vamos continuar observando”, disse Takamori.
Saiba mais detalhes sobre o leilão do novo bipolo
De acordo com o executivo, apesar da posição em relação ao lote do bipolo, a companhia vê com bons olhos o leilão de transmissão previsto para 2024 e deve continuar investindo no setor, devido a possibilidade de diversificar seu portfólio.
Aquisições
Ainda na teleconferência, o executivo destacou que Engie Brasil reduziu a distribuição de dividendos para R$ 767,2 milhões, equivalente a 55% do lucro líquido da companhia no primeiro trimestre de 2023, com o objetivo de aproveitar oportunidades que apareçam no curto prazo.
Segundo o diretor financeiro, a companhia vai atuar de forma conservadora no momento, dado o cenário de preços de energia mais baixos para desenvolvimento de novos projetos de geração. Além disso, Takamori destacou que a Engie também está olhando para eventuais compras de ativos com energia já contratada.
Problemas com aerogeradores eólicos
Durante sua participação na teleconferência, Rafael Bóssio, gerente de Relações com Investidores da companhia, informou que a empresa manterá o cronograma de implantação do parque eólico Santo Agostinho, no Rio Grande do Norte.
Em julho, Engie Brasil Energia e a Siemens Energy, controladora da Siemens Gamesa, confirmaram a avaria em uma das pás de um aerogerador de 6,2 MW de potência recém-comissionado e que estava em fase de testes no complexo eólico Santo Agostinho, no Rio Grande do Norte.
Segundo ele, mesmo com o incidente de julho e um outro registrado na última sexta-feira, 4 de agosto, o parque eólico deve entrar em operação comercial até o final deste ano.
“As investigações que foram feitas, até o momento, nos dão conforto para manter a previsão de operação comercial integral. Então, tudo continua conforme cronograma”, declarou Bóssio.
Hidrogênio
A Engie tem avançado nos estudos sobre o uso do hidrogênio verde pela companhia e busca parcerias no setor. Porém, a companhia pensa em apostar no hidrogênio apenas no longo prazo.
“O hidrogênio é algo que não vai se materializar no curtíssimo prazo. Tem alguns projetos que podem avançar mais rápido, porém, como investidores de longo prazo, estamos pensando nisso como algo mais longe”, afirmou Rafel Bóssio.
Descarbonização
Ainda na teleconferência, a Engie lançou novas metas de descarbonização, por meio de seu programa Jornada pelo Clima, para cortar em 30% as emissões de gases de efeito estufa até 2030.
Engie 2T23
A Engie (EGIE3) registrou lucro líquido de R$ 733 milhões no segundo trimestre do ano, 85,6% superior ao reportado no mesmo período do ano passado.
No intervalo de abril e junho, a receita líquida somou R$ 2,61 bilhões, redução de 12,9% na mesma comparação. Segundo comunicado da Engie, a queda foi motivada, principalmente, pela conclusão da implantação dos sistemas de transmissão Gralha Azul, situado no Paraná, e Novo Estado, localizado entre Pará e Tocantins.
O Ebitda (sigla em inglês para lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização) R$ 1,71 bilhão, redução de 0,4%. Já o Ebitda ajustado, que deduzidos os efeitos do IFRS do segmento de transmissão, foi de R$ 1,90 bilhão no 2T23, um recuo de 10,9% em relação ao 2T22.
De acordo com a Engie, o Ebitda ajustado foi impactado negativamente pela redução dos volumes de vendas, por menor receita com a remuneração dos ativos de contrato e efeitos da revisão tarifária periódica dos ativos de transmissão.
“Entretanto, esses fatores foram atenuados pelo reconhecimento de valores relativos à extensão de concessão da UHE Estreito, redução de compras de energia e aumento do preço médio líquido de venda de energia”, diz a empresa.
Foram vendidos 4.253 MW médios de energia, redução de 4,1%. Neste montante foi desconsiderando as vendas no regime de cotas das UHEs Jaguara e Miranda. Adicionalmente, o preço médio dos contratos de venda de energia foi de R$ 219,80/MWh no 2T23, 1,5% superior ao 2T22.
As despesas com vendas, gerais e administrativas somaram R$ 108,5 milhões no 2T23, um crescimento de 40,5% em relação ao mesmo período de 2022.
Até 30 de junho de 2023, a dívida líquida da companhia era de R$ 13,89 bilhões, um recuo de 15% na comparação com a mesma etapa de 2022.