Por João Montenegro e Henrique Jäger*
Os desinvestimentos offshore da Petrobras voltaram a ganhar ritmo este ano, após um 2020 praticamente sem novos contratos assinados.
Em fevereiro, a estatal firmou contrato de US$ 55 milhões com a OP Energia (3R Offshore) e a DBO Energia para a venda dos campos de Peroá e Cangoá, na bacia do Espírito Santo.
Em julho, fechou acordo no valor de US$105,6 milhões com a 3R Offshore para alienação de sua participação integral no campo de Papa-Terra, na bacia de Campos, e, em setembro, concluiu a cessão de seus 10% remanescentes no campo de Lapa, na Bacia de Santos, para a TotalEnergies.
Em 2020, somente um contrato de venda de empreendimentos marítimos foi assinado, envolvendo os campos de Pescada, Arabaiana e Dentão, em águas rasas da bacia Potiguar, também para a 3R Offshore, por US$1,5 milhão.
A Petrobras segue com 55 ativos de exploração e produção offshore à venda – em sua maioria, campos maduros em águas rasas, além de alguns blocos exploratórios –, sendo que grande parte deles já se encontra em fase vinculante de desinvestimento.
A tendência é que novos contratos sejam firmados ainda este ano, tendo em vista a recuperação do preço do petróleo e o avanço dos processos de desinvestimentos, acelerando a privatização de ativos marítimos no país.
Nesse cenário, destaque para a 3R Offshore, que vai se firmando como uma das principais operadoras de ativos maduros no offshore brasileiro, em diferentes bacias e regiões do país, chegando, agora, a águas profundas por meio da descoberta de Malombe, integrado ao polo Peroá, e do campo de Papa-Terra.
A companhia é parte do grupo 3R Petroleum, que, desde 2020, adquiriu da Petrobras os polos onshore de Macau e Fazenda Belém, na bacia Potiguar, e Recôncavo e Miranga, na Bahia. Tem como acionistas os fundos de investimento em participações 3R Petroleum FIP Multiestratégia, gerido pela Starboard Asset, e Esmeralda FIP Multiestratégia.
A venda de Albacora e Albacora Leste – processo do qual a 3R também estaria participando, segundo informações publicadas pela imprensa – poderá ser o primeiro caso de uma operadora privada assumindo produção no pré-sal da bacia de Campos.
Atualmente, a TotalEnergies é a única empresa, além da Petrobras, a operar um campo com extração em tal camada geológica: Lapa, na bacia de Santos, comprado da Petrobras em 2017.
Enquanto isso, nas regiões Norte e Nordeste, a estatal brasileira planeja manter sob sua operação ativos exploratórios e de produção de águas profundas (com exceções como os campos de Piranema e Piranema Sul), ao mesmo tempo em que vende integralmente campos de águas rasas.
E, no Sudeste, a Petrobras foca em ativos de pré-sal, além de grandes complexos cujas concessões foram renovadas, como Parque das Baleias e Marlim, onde pretende instalar novos FPSOs nos próximos anos.
Segundo o atual plano de negócios da Petrobras (2021-25), seus desinvestimentos offshore responderão por mais da metade dos 600 mil barris de óleo equivalente por dia (boe/d) potencialmente descontados em função da venda de ativos de upstream da curva de produção máxima no quinquênio, de 3,3 milhões de boe/d.
Ou seja, caso tais operações se concretizem, a Petrobras chegará a 2025 produzindo 2,7 milhões de boe/d, volume inferior ao extraído em julho deste ano, que, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), chegou a 2,86 milhões de boe/d.
Assim, se considerada a projeção feita pela mesma agência para a produção brasileira em 2025, de 4,7 milhões de boe/d, a estatal responderá, naquele ano, por cerca de 60% do total, ante a presente participação de 73%.
*João Montenegro é mestre em Economia Política Internacional pela UFRJ, pesquisador do Ineep e jornalista especializado em petróleo e energia.
*Henrique Jäger é pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) e ex-presidente da Fundação Petrobras de Seguridade Social.
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