Giorgio Seigne escreve: A economia digital e o armazenamento energético

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Publicado

22/Jul/2022 17:06 BRT

 

Por: Giorgio Seigne*

O advento da economia digital levará o setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no Brasil a passar por uma verdadeira revolução tecnológica nos próximos 5 anos. Um dos grandes avanços no curto e médio prazo é a democratização do acesso às soluções de armazenamento de energia. Residências, comércios, indústrias e agronegócio serão imersos na evolução do uso da energia. Todavia, os setores de larga escala, como distribuidoras e transmissoras e toda a matriz de geração renovável, serão os percursores dessa revolução fundada no uso dos sistemas de armazenamento.

Em virtude do desenvolvimento tecnológico em diversos segmentos da cadeia produtiva global, existe a exigência por uma maior confiabilidade no uso de energia. Isso remete ao trinômio conhecido como 3D da energia: descentralização, distribuição e descarbonização, que está atrelado ao uso de geração por fontes renováveis inevitavelmente combinadas a um sistema de armazenamento de energia (BESS). Neste sentido, já há uma corrida no mercado nacional para reforçar a segurança do suprimento energético tanto da geração de energia, quanto nos sistemas de linhas de transmissão e redes de distribuição. A hibridação da geração renovável também será uma modalidade chave dentro do trinômio, diferentes fontes trabalhando juntas para uma melhor eficiência e descarbonização no setor, apoiados em um sistema de armazenamento de energia.

O mercado de armazenamento energético no país aposta também na maior confiabilidade do suprimento de energia elétrica para as áreas relacionadas à internet 5G, à crescente infraestrutura para veículos elétricos, aos grandes data centers, ao mercado cripto e ao blockchain, dentre diversos segmentos. A versatilidade de um BESS pode responder de forma eficaz a uma maior demanda energética e, ao mesmo tempo, garantir a segurança e qualidade da energia que equipamentos mais sensíveis solicitam. Dentro de uma economia predominantemente digital e energicamente dependente, o que irá atestar o amparo à expansão de sistemas e equipamentos inclusos nestes novos segmentos são os sistemas estacionários de armazenamento de energia e sua inteligência.

Uma das áreas mais promissoras no Brasil é a dos sistemas de armazenamento de energia elétrica de grande porte, capazes de prestar diversos serviços importantes ao sistema elétrico quando inseridos na matriz energética nacional, predominantemente renovável. O consórcio formado pela YOU.ON Energia, especializada em sistemas de armazenamento de energia (BESS), e a TS Infraestrutura, importante executora de obras de engenharia e infraestrutura, assinado recentemente com a ISA Cteep, maior transmissora privada de energia do País, vai fornecer e instalar o primeiro projeto de armazenamento de energia em baterias em larga escala na América Latina, para suporte às subestações no setor de transmissão. O investimento autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é de cerca de R$ 146 milhões e a previsão de entrega da obra é novembro de 2022.

O projeto, a ser implantado na subestação de Registro (SP), da ISA Cteep, é um passo importante na criação da regulação do setor elétrico quanto à inserção de sistemas de armazenamento de energia na matriz energética brasileira. A Aneel não apenas aprovou o projeto, mas também se mostrou interessada na replicabilidade dessa tecnologia por outros players da área de transmissão e distribuição.

Fato é que há uma necessidade premente no País de ampliação dos investimentos em fontes renováveis combinadas com sistemas de armazenamento energético, justamente para trazer mais segurança e blindagem contra as oscilações de preços dos derivados de petróleo no mercado internacional. A agenda de ESG e a tão sonhada transição energética sustentável no planeta passam inevitavelmente pela utilização das tecnologias de armazenamento eletroquímico de energia.

Também existe uma movimentação enorme no campo de sistemas residenciais. A nova legislação favorece a adoção de sistemas acoplados com geração fotovoltaica, por exemplo. O setor do agronegócio também clama por soluções mais sustentáveis e inteligentes, as quais serão perfeitamente atendidas pelos sistemas de armazenamento de energia. Um dos exemplos nesse segmento é a eletrificação de pivôs de irrigação apoiada num sistema híbrido combinando solar e armazenamento”, explica.

Outra necessidade é trazer segurança energética, estabilidade e sustentabilidade aos sistemas isolados e remotos desconectados do Sistema Interligado Nacional (SIN) e que utilizam em sua grande maioria os geradores à diesel para atender, de forma precária, comunidades sem acesso à energia elétrica. Somente na região amazônica mais de dois milhões de pessoas vivem nessa situação de isolamento. Assim, substituir esse modelo atual, que é poluente, logisticamente caro e ineficaz, pela tecnologia de baterias de lítio é indispensável, não somente do ponto de vista ambiental, mas principalmente sob a ótica socioeconômica.

*Giorgio Seigne é CEO da YOU.ON Energia

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