Vanessa Gonçalves escreve - LCOE: Análise e assertividade na migração e adoção de energia

MegaWhat

Autor

MegaWhat

Publicado

09/Fev/2024 17:45 BRT

 

Por: Vanessa Gonçalves*

Muito tem se falado sobre a transição para fontes renováveis e próprias. O sistema de energia que eu utilizo ainda é compensatório? O investimento feito para a adoção de uma fonte própria retornará posteriormente? Consigo integrar diferentes fontes de energia dentro de um único sistema?

Ainda que essas e outras dúvidas sejam comumente encontradas, as respostas para elas ainda são bem complexas. Com a Lei 14.300, que entrou em vigor em janeiro deste ano e altera o sistema de compensação de crédito de energia, a complexidade aumenta ainda mais - principalmente em relação à tarifa sobre Fio B e Fio A, como projetos de autoconsumo remoto maiores que 500 kW e geração compartilhada quando um consumidor tiver 25% ou mais dos créditos.

Porém, a solução para a comparação assertiva entre custo e produção de energia já é existente e está cada vez mais presente no mercado. O LCOE (Levelized Cost of Energy, ou Custo Nivelado de Energia, numa tradução livre) é uma métrica extremamente comum dentro das grandes usinas e deve passar, agora, a fazer parte das mais diferentes áreas que estão, direta ou indiretamente, envolvidas com este setor.

Esse indicador foi desenvolvido para avaliar as diferentes fontes de energia e entender qual o melhor custo-benefício dentre as fontes disponíveis para a implantação de um projeto, considerando os mais diferentes meios de comparação. É possível, assim, equiparar diferentes tecnologias utilizadas dentro da mesma fonte de energia. Por exemplo, uma usina que possua determinada tecnologia de módulo, estrutura e inversores, pode ser comparada com outra tecnologia que tenha o custo de aquisição mais baixo.

Entretanto, por ser extremamente ramificado, o LCOE não é uma métrica direta e objetiva e necessita personalização para cada caso. Somente por este caminho, é possível comparar diferentes cenários simultaneamente.

Nele, estão envolvidos todos os custos do projeto incluindo capex (investimentos) e opex (tudo que envolve a operação e manutenção da planta, como funcionamento e substituição de equipamento, ajustes necessários). Além disso, o valor residual (vinculado a um valor de depreciação) e o rendimento da usina também são fatores considerados.

Para empresas interessadas em atuar com geração de energia de grande porte, todos esses fatores precisam ser avaliados de maneira equiparável. O recorte de análise feito apenas por Watt-pico, que determina apenas a potência, passa a ser insuficiente já que as grandezas analisadas são bem mais superficiais. 

A seguir, temos um indicativo sobre as principais premissas analisadas na métrica do LCOE: 

 

Capex = Custo de construção da usina [R$];

Opex = Custo de operação da usina ao longo de sua vida útil [R$];

Residual = Valor dos equipamentos ao final da vida útil [R$];

Energia Produzida = Energia total produzida ao longo da vida útil da usina [MWh].

Fica claro, a partir da fórmula acima, que o LCOE retorna um valor em R$/MWh ou R$/kWh, que é um valor mais palpável ao consumidor de energia, que está acostumado a ver este valor em sua fatura de energia todos os meses.

Dentro da realidade dos sistemas fotovoltaicos, os fatores genéricos citados acima são atrelados aos fatores específicos da fonte de energia, como: condições climáticas, condições de instalação do local, tipo de tecnologia escolhida para módulos, inversores e estrutura metálica (estrutura fixa ou tracker), disposição geral do parque, periodicidade da manutenção da usina, entre outros pontos. 

Com a análise do LCOE é possível avaliar, por exemplo, o que se tornaria mais viável: utilizar módulos fotovoltaicos de maior potência e com um custo em R$/Wp superior ou módulos de menor potência e um custo em R$/Wp inferior, que utilizarão mais área total.

Uma outra análise muito recorrente é sobre o uso de estrutura metálica com o sistema de rastreadores, o que seria mais viável: utilizar uma área menor de implantação com uma estrutura de eixo fixo e que terá uma performance menor, ou uma solução com ocupação de uma área maior, utilizando tracker e entregando uma maior performance? 

As diversas premissas envolvidas nessas questões precisam ser avaliadas, desde o custo com o aluguel da propriedade que será utilizada aos impactos que determinada solução retornará na manutenção, por exemplo. 

Assim, as soluções deixam de ser óbvias e passam a necessitar de uma análise minuciosa das condições de controle do projeto. Ou seja, a solução com menor CAPEX pode não ser a solução com menor LCOE e a solução com maior eficiência pode não ser a que possui maior viabilidade. 

Compreendendo a complexidade da análise de adoção, é possível aumentar a qualidade do serviço oferecido, frente contrária ao efeito massivo utilizado para manter a competitividade do mercado - diminuindo o valor e, consequentemente, a qualidade do serviço.

Empresas que buscarem uma forma de se reinventar e se atualizar dentro do segmento conseguirão, de forma mais clara, exemplificar para o cliente que o produto com o custo de aquisição mais baixo não é, necessariamente, o produto que compensa no viés de energia e, dessa maneira, manter a qualidade de entrega.

Fica evidente, portanto, que a análise pela métrica do LCOE é um importante parâmetro para a tomada de decisão frente às definições de arquitetura de projeto. Embora não seja o único parâmetro a ser utilizado, ele tem extrema relevância, pois indica ao cliente e ao investidor o custo da energia gerada por essa usina (R$/MWh). 

A solução que possui o menor LCOE, consequentemente, possui o menor custo de energia gerada, sendo, portanto, a solução mais otimizada economicamente e tecnicamente.


*Vanessa Gonçalves, Gerente de Engenharia Solar da Connectoway

Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e data da publicação.

As opiniões publicadas não refletem necessariamente a opinião da MegaWhat.

Outras opiniões: 

Marcos Madureira escreve: O clima muda e todos temos que nos adequar

Maria João Rolim e Alice Khouri escrevem: O marco da UE e o que esperar de 2024 na sustentabilidade corporativa

Deloitte escreve: Armazenamento de energia de longa duração é tecnologia crucial para a descarbonização

- Christiano Vieira escreve: Desafios na operação do SIN.

- Antonio Carlos de Carvalho escreve: CIGRE-Brasil, um think thank para discutir o futuro do setor elétrico.


(Alterado em 16/02/2024, às 11h15, por pedido da autora)