Opinião da Comunidade

Carla Damasceno escreve: Avanços, desafios e celebrações das mulheres no setor eletroenergético

Por: Carla Damasceno Peixoto O Dia da Mulher teve origem nos movimentos de operárias do fim do século 19 e início do 20, principalmente nos Estados Unidos, Europa e Rússia. Foram promovidas várias manifestações e lutas das mulheres por igualdade de direitos trabalhistas e melhores condições de vida. Frente à estas manifestações, a Organização das Nações Unidas oficializou em 1975 a data de 08 de março como sendo o Dia Internacional das Mulheres.

Carla Damasceno escreve: Avanços, desafios e celebrações das mulheres no setor eletroenergético

Por: Carla Damasceno Peixoto*

O Dia da Mulher teve origem nos movimentos de operárias do fim do século 19 e início do 20, principalmente nos Estados Unidos, Europa e Rússia. Foram promovidas várias manifestações e lutas das mulheres por igualdade de direitos trabalhistas e melhores condições de vida. Frente à estas manifestações, a Organização das Nações Unidas oficializou em 1975 a data de 08 de março como sendo o Dia Internacional das Mulheres.

Mesmo com todas as evoluções da mulher no mercado de trabalho ao logo dos anos, a mulher ainda não se encontra em condições de igualdade em relação aos homens, pois continua existindo muito preconceito, discriminação, e principalmente desigualdade salarial.

Outra questão que acompanha a mulher é a sua “terceira jornada”. Normalmente, além de cumprir suas tarefas na empresa, ela precisa cuidar dos afazeres domésticos. Isso acontece em quase 90% dos casos. Entretanto, já constatamos com alívio que se iniciou a conscientização de parte dos homens na contribuição e partilha das tarefas domésticas, principalmente na nova geração.

O mundo, agora com mais força, anda apostando nos valores femininos, como a capacidade de trabalho em equipe, a persuasão e a cooperação, e estudando a sua integração ao mercado de trabalho.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE Minuto Mega Minuto Mega

Tal a relevância deste tema que levou a professora doutora da Universidade de Economia de Harvard, US, a elaborar um estudo sobre a participação das mulheres americanas no trabalho ao longo dos séculos e a conquistar o Prêmio Nobel em Ciências Econômicas em 2023, tornando-a a terceira mulher a ganhar este prêmio e a primeira a fazê-lo sozinha. Os resultados de sua excelente pesquisa contribuem para a compreensão das desigualdades de gênero ao longo do tempo e dos padrões de participação das mulheres não apenas no mercado de trabalho, mas também dentro da família. Conhecendo essas questões será possível avançar na inclusão das mulheres em todas as áreas de trabalho.

A ONU, por sua vez, está altamente engajada neste assunto e desde 2015 estabeleceu os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, dentre eles o de número 5, que trata da igualdade de gênero. A redação oficial é “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”. A ONU entende que a ação em uma área afetará os resultados nas outras e que os respectivos desenvolvimentos contribuem para o equilíbrio da sustentabilidade social, econômica e ambiental.

No Brasil a participação das mulheres teve crescimento nos pós I e II Guerras Mundiais e depois aumentou com o fortalecimento do terceiro setor (serviço), após o crescimento do segundo setor (industrial). Embora ainda lenta, a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro vem se ampliando, conforme comprovam as estatísticas – as mulheres atualmente estão conseguindo emprego com maior facilidade e seus rendimentos crescem a um ritmo mais acelerado – já ocupam postos nos tribunais superiores, ministérios, CEOs de grandes empresas e organizações de pesquisa em tecnologia de vanguarda, trabalham em poços de petróleo, pilotam jatos e comandam tropas.

Cabe ressaltar nesta história a expoente trajetória da primeira engenheira negra do Brasil e do Paraná – Enedina Alves Marques. Nascida em Curitiba em 1913, superou a pobreza e o preconceito para se tornar engenheira. Seus pais se separam e ela foi morar e trabalhar na infância em uma residência familiar, seu patrão a incentivou nos estudos e foi alfabetizada aos 12 anos. Já formada como professora, realizou o curso de pré-engenharia a fim de prestar os exames de ingresso na Faculdade de Engenharia do Paraná. Para tal, trabalhava de dia como professora, realizava trabalhos domésticos em outra residência de família na qual morava, frequentava o curso preparatório a noite e na madrugada copiava o conteúdo dos livros que não tinha condições de adquirir. Em 1940, ingressou na Faculdade de Engenharia do Paraná e se formou em 1945 aos 32 anos de idade, enfrentando discriminação durante seus estudos. Em seguida a formatura, Enedina começou a trabalhar na Secretaria de Viação e Obras Públicas do Paraná, onde se manteve até se aposentar em 1962, exercendo as funções de chefe da seção de hidráulica, chefe da divisão de estatística, realizou o levantamento topográfico da Usina Capivari-Cachoeira, participou da construção da Usina Parigot de Souza, do Colégio Estadual do Paraná e da Casa do Estudante em Curitiba. Também exerceu o serviço de engenharia na Secretaria de Educação e Cultura. Tendo o seu trabalho e capacidade técnica reconhecidos por governadores da época. Enedina Alves Marques é um exemplo inspirador de superação e determinação, que ultrapassou barreiras e se destacou pela grande competência em um campo dominado por homens brancos. Sua trajetória é um testemunho da importância da educação, da persistência e da luta contra a discriminação racial e de gênero. (Fonte: Revista Eletrônica Conhecimento Interativo, ISSN 1809-3442, volume 15, nº2, 21/12/2021)

Portanto, com todo o suporte no Brasil e no mundo, o futuro da inclusão de mulheres é bastante promissor.

Pouco a pouco as mulheres vêm ampliando seu espaço na economia nacional com destaque para o setor eletroenergético. Sim, o setor de energia arrancou na frente, apresentando grandes oportunidades e caminhos já percorridos por mulheres expoentes cuja coragem pontuou suas trajetórias com grandes conquistas e que inspiram a seguir na busca de contribuição neste setor brasileiro com tranquilidade e sabedoria e, a cada vez mais, em passos firmes, deixando pegadas verdes. A escolha e a perseverança em trilhar caminhos com desafios, alcançando recompensas, cabe a mulher – se liderança ou se a carreira de especialista – ela pode ser o que quiser.

Apesar do setor eletroenergético ainda ser de predominância masculina, refletindo padrões de gênero enraizados na sociedade, ao longo dos últimos anos, as políticas de inclusão nas esferas públicas e privadas, fomentam programas de capacitação e de mudança gradual nas mentalidades, proporcionando oportunidades para as mulheres ingressarem e avançarem em carreiras nesse campo.

Na geração elétrica as mulheres realizam avanços significativos quer seja na operação de usinas hidrelétricas, termelétricas, eólicas ou solares, alcançando posições em todas as etapas do processo de geração, desde o projeto passando pela construção, operação e manutenção, com maior participação na área das energias renováveis.

Nos setores de distribuição e transmissão de energia, as mulheres também têm ampliado sua presença devido a programas de incentivo e inclusão instituídos pela maioria das empresas do setor. Com habilidades técnicas e de liderança, elas têm desempenhado papéis-chave também nos projetos, construção, operação e manutenção das subestações, linhas e redes, contribuindo para a confiabilidade e eficiência do sistema elétrico brasileiro.

Muito importante são as iniciativas de algumas universidades e instituições de ensino brasileiras, que verificando o número reduzido de mulheres em seus quadros nas carreiras de ciência, tecnologia, computação, matemática e engenharia, têm realizado programas e grupos de trabalho para atrair a participação das mulheres, incluindo ações e parcerias com o ensino médio.

Apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam desafios no setor de energia, incluindo desigualdades salariais, falta de representação em cargos de liderança e questões relacionadas à conciliação entre trabalho e vida pessoal. No entanto, esses desafios têm sido reconhecidos e estão sendo abordados por meio de políticas de diversidade, programas de mentoria e iniciativas para promover um ambiente de trabalho mais inclusivo.

À medida que o setor eletroenergético continua a evoluir e a enfrentar novos desafios, a participação das mulheres já desempenha um papel fundamental na busca por soluções inovadoras e sustentáveis. Promover a diversidade de gênero não apenas fortalece as equipes de trabalho, trazendo diferentes perspectivas e habilidades, mas também é essencial para garantir a equidade e a justiça dentro do país.

Assim, o CIGRE-Brasil, organização sem fins lucrativos, cuja missão é compartilhar conhecimento e experiências nos seus Comitês de Estudos relativos as 16 áreas do setor eletroenergético, convida as mulheres a planejarem suas carreiras e a investir em capacitação e na parceria com os colegas de trabalho homens. Juntos se chega mais rápido, com maiores níveis de qualidade e segurança, neste ambiente de urgência que abrange a transição energética sustentável.

O CIGRE-Brasil trará comemorações na semana da mulher com ações em homenagem às mulheres memoráveis do setor, no passado e no presente, em parceria com o Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, culminando com um webinar em parceria com o Women in Energy do CIGRE Internacional no dia 08/03/2024.

* Carla Damasceno Peixoto é coordenadora do Comitê de Mulheres CIGRE-BR*

Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e data da publicação.

As opiniões publicadas não refletem necessariamente a opinião da MegaWhat.

Outras opiniões: 

– Douglas Ludwig escreve – Mercado livre de energia: como modelos do exterior podem inspirar a modalidade no Brasil

– Alexandre Vidigal escreve: Eletromobilidade – paradoxos e precipitação

Arthur Sousa escreve: Reidi é novo impulso para GD

– Marcos Madureira escreve: O clima muda e todos temos que nos adequar

– Maria João Rolim e Alice Khouri escrevem: O marco da UE e o que esperar de 2024 na sustentabilidade corporativa