Por: Fernanda Pires*
Historicamente, o setor elétrico foi marcado por uma escassa presença feminina, mas, felizmente, essa realidade vem se modificando graças à consolidação da agenda de Inclusão e Diversidade na estratégia das organizações. Na EDP, desde 2015, quando fortalecemos um processo de transformação cultural, temos buscado ampliar nossas ações afirmativas com vistas à geração de oportunidades e promoção da inclusão de grupos minorizados, como as mulheres.
Entendemos que a desigualdade de gênero é um desafio social, cultural e histórico de dimensões estruturais, e requer ação conjunta e propositiva por parte de todos os stakeholders da cadeia de valor, sociedade, cultura organizacional e negócio. Todos ganham com a diversidade e, mais especificamente, com a maior representatividade de gênero nas organizações. Isso nos fez definir as metas de 30% de mulheres no quadro geral e 20% nas posições de liderança até 2022. Esses compromissos fortalecem nossas ações afirmativas para aumentar a participação na EDP.
Partimos do princípio de que a pequena presença feminina não significa ausência de interesse. Muitas vezes, o ambiente com predominância masculina desencoraja as mulheres a ingressar no segmento, além de contribuir para a manutenção de estereótipos de gênero associados às profissões. Foi neste contexto que surgiu a primeira Escola de Eletricistas exclusiva para mulheres, em 2018, em São Paulo.
Nossa tese se comprovou quando recebemos 550 inscrições para selecionar apenas 16 candidatas. Na atual edição, no Espírito Santo, a concorrência foi ainda maior: 3400 candidatas para 32 vagas. O programa é realizado em parceria com o Serviço Nacional da Indústria (SENAI) de maneira gratuita. Para evitar a evasão, as alunas recebem ajuda financeira. Após a conclusão, elas obtêm um certificado e são contempladas em nosso radar de talentos, o que lhes permite participar de processos de seleção da EDP e de parceiros.
Como resultado, ampliamos em 6 vezes o número de eletricistas mulheres no quadro desde a implementação do programa, em 2018. Além disso, já capacitamos mais de 60 profissionais para o mercado. A escola é um exemplo prático de investimento em programas de formação profissional para grupos sub-representados.
No âmbito da agenda de Inclusão e Diversidade, destaca-se ainda a meta de R$ 1 milhão de investimento em programas para desenvolver colaboradores de grupos sub-representados até 2022. Um exemplo é o Conexão Mulheres EDP, formação que visa fortalecer uma rede de mulheres a partir de uma jornada de autoconhecimento e sororidade na Companhia. A iniciativa contempla temas como vieses de gênero, liderança estratégica e síndrome da impostora, além de módulos de mentoria.
Tornar a EDP uma empresa mais diversa é um desafio que passa por diversos outros fatores, como realizar mudanças no processo seletivo. Neste sentido, estabelecemos como meta assegurar que pelo menos 50% de todas as contratações da Companhia sejam provenientes de grupos minorizados (mulheres, negros, pessoas com deficiência, 50+, LGBTQIAP+). Dessa forma, adotamos como prática que a primeira lista de selecionáveis seja formada por profissionais de grupos minorizados, valorizando sempre a interseccionalidade entre os candidatos. Nossa política também prevê que, em caso de empate de habilidades entre finalistas, pessoas de grupos sub-representados serão priorizadas.
Estas medidas contribuem para a ascensão de mulheres na Empresa. Além da base, as mudanças atingem também o topo e já são percebidas. Atualmente, estamos entre as cinco empresas brasileiras listadas em Bolsa com o maior percentual de participação feminina no Conselho de Administração – 33%, ou o triplo da média nacional – o que nos fez ser reconhecidos com o selo Women on Board, iniciativa apoiada pela ONU Mulheres Brasil.
Entendemos que as iniciativas em prol da equidade de gênero também precisam ocorrer de dentro para fora. Por isso, aderimos ao Movimento Mulher 360, que atua junto a diversas empresas do setor privado no engajamento de ações concretas de empoderamento econômico do público feminino, além de expandir essa atuação para mulheres nas comunidades e cadeia de fornecedores. Firmamos também parcerias com organizações como o Instituto das Pretas e Cruzando Histórias para fortalecer uma agenda de apoio ao empreendedorismo periférico e formação em escuta ativa para acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade social.
Acreditamos que o setor elétrico só conseguirá reforçar a inovação e criatividade na medida em que tiver cada vez mais diversidade – o que inclui ações afirmativas para ampliar a presença de mulheres. Além disso, é fundamental assegurar um ambiente de segurança psicológica e pertencimento, onde todas as pessoas se sintam acolhidas e valorizadas em suas individualidades. Como parte deste ecossistema, reafirmamos nosso compromisso de fomentar condições e promover iniciativas concretas para fortalecer a agenda de equidade de gênero no setor como um todo.
* Fernanda Pires é vice-presidente de Pessoas e ESG da EDP no Brasil.
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