Opinião da Comunidade

Vitor Campos escreve: O caso do Texas: quanto custa estar sem eletricidade?

Vitor Campos escreve: O caso do Texas: quanto custa estar sem eletricidade?

Por: Vitor Campos

O inverno texano trouxe um grande problema para o estado do Texas: falta de eletricidade. Por dias a população do estado viveu momentos delicados com o rigoroso inverno e, para agravar, 4 milhões ficaram sem energia quando o operador elétrico local (Ercot) decidiu resolver o problema da alta demanda por eletricidade e falta de geração com uma espécie de rodízio do fornecimento de eletricidade. A alta demanda foi principalmente provocada pelo uso intenso de aquecedores, fundamentais para sobrevivência ao frio intenso. Para piorar, geradores eólicos ficaram congelados (segunda maior fonte de eletricidade do estado) e o fornecimento de gás natural ficou limitado, inclusive, impactando o México.

A figura 1* mostra o preço spot de energia no momento de pico de demanda. Afinal, quanto custa ficar sem eletricidade? Uma máxima do setor elétrico é dizer que a energia mais cara é a falta dela, e está correto. Imagine o que a população do Texas passou com limitação de eletricidade para uso de aquecedores. Mesmo que você tivesse todo o dinheiro do mundo, não poderia ser suprido por conta das limitações do sistema e falta de planejamento.

*Figura 1 – Preço da energia no Texas chega ao teto regulatório: US$ 9000/MWh

Fonte: Ercot, 2021. Créditos: @sonalcpatel

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Os Estados Unidos não têm um Sistema Interligado Nacional (SIN) nem uma operação centralizada como no Brasil, o que dificulta a importação de energia. Porém o Brasil não está blindado contra a falta de energia pontual, como vimos recentemente no Amapá. É possível solucionar estes problemas pontuais de duas maneiras: diminuindo a demanda e/ou aumentando a oferta até o equilíbrio. Existem mecanismos como o mercado de capacidade e resposta da demanda para atingir tal objetivo.

O mercado de capacidade, também chamado de reserva de geração, é utilizado em vários países para aumentar a confiabilidade do sistema, ou seja, uma margem que seja capaz de suprir o sistema em situações de alta demanda e perda de capacidade de geração. A resposta da demanda dá o sinal econômico necessário para que a demanda responda às oscilações no preço spot, de maneira voluntária, diminuindo o consumo em troca de remuneração. O pool PJM (Pennsylvania, New Jersey e Maryland Interconnection) conta com um mercado de capacidade desde 1998 em que a oferta de capacidade é de responsabilidade dos geradores e tem funcionado muito bem, sendo considerado uma referência. Portanto, uma lição para o Brasil é modernizar o setor com mecanismo de mercado, sinal regulatório e segurança jurídica adequados que estimulem os investimentos privados necessários.

Vitor Campos é analista Regulatório da Thymos Energia


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