Planejamento

Empresas já mapeiam eventos extremos, mas prever a frequência ainda é desafio, diz PwC

A completa evacuação de cidades próximas diante do então iminente rompimento da barragem 14 de Julho e o desligamento do abastecimento de energia elétrica por segurança em regiões alagadas foram algumas das medidas tomadas pelas empresas de energia no Rio Grande do Sul que mostram que setor está mais preparado para eventos climáticos extremos. A avaliação é do sócio da PwC Brasil Adriano Correia, que pondera, contudo, a gravidade da situação mesmo com os investimentos feitos previamente, o que chama a atenção para a importância de entender a recorrência de eventos extremos como esse.

Empresas já mapeiam eventos extremos, mas prever a frequência ainda é desafio, diz PwC

A completa evacuação de cidades próximas diante do então iminente rompimento da barragem 14 de Julho e o desligamento do abastecimento de energia elétrica por segurança em regiões alagadas foram algumas das medidas tomadas pelas empresas de energia no Rio Grande do Sul que mostram que setor está mais preparado para eventos climáticos extremos. A avaliação é do sócio da PwC Brasil Adriano Correia, que pondera, contudo, a gravidade da situação mesmo com os investimentos feitos previamente, o que chama a atenção para a importância de entender a recorrência de eventos extremos como esse.

“Muitas das ocorrências não estão relacionadas ao sistema elétrico, e sim a desabamento de casas, a inundação. Que eu tenha conhecimento, não houve nenhuma morte em função de empresas do setor elétrico. Até agora, não identificaram vazamento de óleo ou outra substância que poderia ser mais nociva ao meio ambiente em função das chuvas, o que também mostra a segurança que a operação tem sido mantida”, avalia ele. “Os riscos foram identificados, existiu um plano de ação, as empresas sabiam o que fazer, sabiam quais procedimentos acionar e aparentemente isso foi feito, ou seja, a Defesa Civil foi acionada, os Bombeiros foram acionados, os alarmes de evacuação todos funcionaram, os procedimentos de evacuação funcionaram”, disse o executivo à MegaWhat.

A preparação adequada e a execução correta, entretanto, não deixam de assustar: “A gente percebe a violência do ocorrido lá, e isso chama a atenção de que a gente vai precisar fazer mais para reduzir as emissões de CO2, a gente vai ter que trabalhar muito mais com essas incertezas dentro da operação, especialmente em novos projetos”, disse. Para ele, as empresas já mapeiam os riscos ambientais do ponto de vista operacional, embora ainda não os incluam no planejamento financeiro, como mostrou pesquisa da PwC divulgada em fevereiro.

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Outro desafio é entender a recorrência de eventos extremos, já que a frequência impacta nas ações e no custo a serem planejados. Correia conta que há muitos especialistas em previsão climática debruçados sobre o assunto e, com a tecnologia atual, é possível coletar mais dados e modelar mais cenários. “O problema é você saber qual é o peso de cada cenário”, explica ele. Sem consenso entre os especialistas, Correia avalia que respostas mais assertivas sobre a frequência destes eventos só devem surgir no médio prazo.

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Até lá, a recomendação do executivo é trabalhar com diferentes possibilidades. “Já que você tem um ambiente tão incerto, trabalhe com a modelagem considerando cenários diversos, ou seja, um cenário em que sim, a frequência será maior, um outro cenário em que não. Como é que esses cenários impactam aqui a sua rentabilidade, a sua operação, quais são os efeitos que podem produzir na empresa”, sugere o consultor.

A PwC tem modelos para isso. “São modelos mais simples, mais macro, onde a gente procura estimar perdas, volume de investimentos que seriam necessários, mecanismos que as empresas poderiam utilizar para mitigar esses cenários. É uma estimativa direcional, que dificilmente poderia ser usada num planejamento estratégico de uma empresa, considerando variáveis mais específicas”, disse. Mesmo assim, o interesse do mercado nestes modelos tem sido grande, segundo o executivo.

Renovação de concessões e resiliência de redes

Com tantas incertezas sobre os efeitos do clima, Adriano Correia avalia que seria desaconselhável incluir requisitos desta natureza para a renovação das concessões de distribuidoras de energia, já que ainda não é possível dimensionar o tamanho do investimento necessário nas redes.

“Pode haver alguma coisa [sobre resiliência das redes], mas o tamanho do investimento ou [determinar] que as redes devem suportar qual intensidade de vento, acho que seria prematuro. Óbvio, você pode falar assim: ‘vamos fazer investimentos para suportar vento de 160 km/h’. Dificilmente a gente vai voltar a ter um problema grande, mas como isso conversa com o movimento de redução de tarifa?” questiona.

Assim, para o executivo, o principal ponto para a renovação das concessões de distribuidoras deve estar na qualidade do serviço, com aperfeiçoamento e maior rigor dos padrões existentes.

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