Com uma nova diplomacia climática estabelecida após a Cúpula de Líderes sobre o Clima, no último mês, o Brasil precisa criar um mercado nacional de carbono. A opinião é de André Clark, diretor geral da Siemens Energy Brasil, para quem a medida será determinante para o desempenho do Brasil na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), marcada para novembro, em Glascow, na Escócia, e que deverá discutir, entre outros pontos, o funcionamento de um mercado global de carbono.
“Esperamos já para a COP-26 que o Brasil coloque na rua o mercado brasileiro de carbono imediatamente, porque ele está caindo de maduro”, afirmou Clark, em entrevista à MegaWhat. “Costumo dizer que a COP-26 pode ser um palco belíssimo para o Brasil ou um muro. Temos que escolher o que essa COP vai ser para nós”.
Segundo Clark, a criação de um mercado nacional de carbono pode, inclusive, ajudar a combater o que ele diz ser o maior problema brasileiro em relação às emissões: as queimadas e o desmatamento ilegal na Amazônia e no Pantanal.
Na visão dele, o encontro de líderes de abril, convocado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, foi o pontapé inicial para a diplomacia do clima. “O jogo começou. Países irão competir por esta bandeira. A diplomacia do clima passa a ter elementos geopolíticos que afetarão inclusive o comércio internacional entre países e o fluxo de capitais”, afirmou ele.
Para o executivo, o Brasil ainda tem posição relevante no cenário climático global, principalmente pela diversidade e participação expressiva de fontes renováveis na matriz energética. “O Brasil é um dos produtores de menor custo marginal de energia renovável do mundo. Nossas usinas eólicas e solares são muito competitivas”, disse.
O processo de descarbonização também é observado, talvez com mais intensidade, entre as empresas. Clark enxerga uma aceleração do interesse das empresas pelo tema, seja por companhias de serviços públicos, indústrias ou por investidores do mercado de capitais. “Não temos um cliente que não tenha esse tema no centro da agenda hoje”.
Nessa linha, a Siemens Energy calcula ter contribuído com seus clientes na redução em mais de 48 milhões de toneladas de dióxido de carbono durante o ano fiscal de 2019, a partir de atividades e ofertas agrupadas nas áreas de eficiência energética, hibridização e descarbonização profunda.
Internamente, a unidade brasileira da companhia criou um fundo de investimentos para projetos de neutralização de CO2, retroalimentado com base na precificação das emissões de suas atividades no país. Do montante arrecadado pelo fundo, cujo saldo supera R$ 700 mil, parte do valor será destinado a projetos definidos pelo comitê interno de neutralização de CO2 e outra parcela em iniciativas indicadas pelos próprios colaboradores da empresa. A meta da Siemens Energy é alcançar a neutralidade em carbono até 2030.
Lucro
A Siemens Energy registrou lucro líquido de 31 milhões de euros no segundo trimestre fiscal de 2021, concluído em 31 de março, revertendo prejuízo observado em igual período do ano fiscal anterior.
“O resultado ‘per se’ foi melhor que o esperado. Tivemos um impacto menor que o esperado da covid-19. Achávamos que a covid-19 fosse impactar muito mais”, concluiu Clark.