Por: Marcos Leone e Paulo Mayon*
Não é incomum ouvir relatos de pessoas que alegam preferirem ter certeza de tudo na vida, ao invés de embarcar em alternativas mais incertas e arriscadas. Ouvimos inclusive com certa frequência expressões populares como “mas vale um pássaro na mão do que dois voando” que concorrem com a lógica dos ditos mais antigos como o “quem não arrisca, não petisca”. Parece estranho para você?
O viés de risco zero é um comportamento cognitivo presente em quase todos nós e busca trazer sempre a resposta mais simples para todos os nossos problemas, por mais complexos que sejam.
Ele é representado simplificadamente, pela opção de eliminar o risco de perda (por pura aversão a este cenário) em troca de uma possibilidade ampliada de ganho. Nosso cérebro se conforta mais com a possibilidade de não perder, do que com as chances de obter ganhos acima do esperado. É de fato um atalho mental, que serve inclusive de proteção natural, sobretudo no ambiente em que vivemos, bombardeados diariamente com tantos dados, informações e incertezas. Para quem deseja se aprofundar nesse tema, Jordan B. Peterson explora o tema em seu livro “12 Regras para a Vida” com muita competência.
O que isso tem a ver com o Setor Elétrico Brasileiro?
No Setor Elétrico, sempre fomos acostumados por muitos anos a vender em leilões regulados para as distribuidoras, ou a realizar negócios entre contrapartes conhecidas. Com exceção de crises cíclicas (associadas à já conhecida volatilidade dos preços de energia elétrica no mercado de curto prazo e outros fatores já discutidos nos artigos anteriores), fomos forjados a operacionalizar nossas transações de compra e venda quase sempre com parceiros comerciais cujo histórico já conhecemos.
Mas isso vem se modificando de forma acelerada nos últimos anos. E de 2023 em diante, por conta da importante Portaria 50 do MME, teremos potencialmente o ingresso de mais 106 mil novos consumidores de energia no ambiente de livre contratação e, portanto, muita competição. Isso, para não mencionar a CP 137/2022 do MME, que poderá adicionar quase 90 milhões de consumidores para esse mercado.
Por esse motivo, uma revolução imperativa já está acontecendo. Cada vez mais as empresas de geração e comercialização de energia se movem de forma a abandonar o conforto que o clube das 50 ou no máximo 100 contrapartes conhecidas representavam. Sim. Trata-se de um mundo novo e em transformação. Chegou a hora de avaliar as alternativas de negociar contratos de energia com essas novas contrapartes, na maior parte não tão conhecidas, mas que podem trazer um nível retorno e liquidez muito mais interessantes.
Marcos Leone é Co-fundador e CEO da RISK3; e Paulo Mayon é Co-fundador da RISK3
Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e data da publicação.
As opiniões publicadas não refletem necessariamente a opinião da MegaWhat.
Leia mais:
TozziniFreire escreve: o que esperar para a geração distribuída em 2023
André Pepitone escreve – Aneel: Aos 25 anos, um patrimônio nacional
Talyta Viana escreve: Silêncio sobre o Proinfa custa caro ao consumidor de energia