Desembolsos do BNDES devem ter alta de 40% com programas de governo e interesse internacional

Poliana Souto

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Poliana Souto

Publicado

05/Mar/2024 13:04 BRT

Os desembolsos de médio e longo prazo do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) podem chegar a R$ 160 bilhões em 2024 (1,4% do PIB), alta de 40% em relação ao registrado em 2023. Os desembolsos são recursos destinados pelo banco para projetos de diversos setores, incluindo agropecuária, comércio e serviços, indústria e infraestrutura.

Em apresentação dos resultados do banco referentes ao ano de 2023, Nelson Barbosa, diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos do BNDES, afirmou que o aumento dos desembolsos pode ocorrer devido ao aumento da demanda via programas governamentais como o Novo PAC, o Plano de Transição Ecológica e o Nova Indústria Brasil e pela expectativa de crescimento do Brasil.

Além disso, o banco espera uma maior procura de investidores internacionais por ativos sustentáveis, com possibilidade de atração de investimentos externos diretos, mediante promoção da economia verde e de elementos que contribuem para a transição energética.

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A alta da procura internacional pode ser estimulada, conforme o BNDES, pelo dinamismo econômico em baixa, incertezas sobre o suprimento e a logística de energia e de determinados insumos, que sofrem com tensões geopolíticas, e a ocorrência de eventos negativos de ordem climática. Com esse panorama, a instituição financeira prevê um contexto ainda mais desafiador para as economias emergentes, o que incluirá o Brasil, que será “privilegiado” pela sua economia verde.

No âmbito internacional, a instituição espera que o Brasil desenvolva um “relacionamento equilibrado” com China, Estados Unidos e Europa para fortalecer sua posição como exportador de commodities e, principalmente, como destinatário de investimentos desses países. A efetivação do “relacionamento” pode ajudar o banco a captar recursos externos para ajudar nos desembolsos por meio de fundos de coinvestimento com parceiros internacionais.

"Estamos vivendo um cenário internacional extremamente desafiador, a crise de 2008 e o Covid estão deflagando uma mudança geopolítica e um grande deslocamento das cadeias globais de valor. O Brasil pode atrair investimentos relevantes e precisamos entrar nessa disputa, porque nos temos a matriz energética mais limpa do G20 (...). Então, precisamos transformar essa vantagem competitiva em uma vantagem capaz de atrair novos investimentos e agregar valor a cadeia industrial e produtiva", disse Aloizio Mercadante, presidente do BNDES. 

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Além disso, segundo Nelson Barbosa, os desembolsos podem ser viabilizados de outras maneiras, incluindo fontes públicas, entre eles o Fundo Clima; captação interna; e pelo crescimento dos recursos próprios (dividendos).

Em 2023, os desembolsos do BNDES, considerando operações de crédito diretas e indiretas, totalizaram R$ 114,4 bilhões (1,1% do PIB), crescimento de 17% frente a 2022. Do total, 82% foram a taxas de mercado, sem subsídios.

Cerca de R$ 28,4 bilhões do montante foram desembolsados para projetos voltados para economia verde, indicador do banco que compreende setores como eficiência energética, energias renováveis, florestas, gestão de água e esgoto, melhorias agrícolas e transporte público de passageiros.

BNDES em 2023

Em 2023, o banco apresentou alta de 44% nas aprovações de crédito em relação ao ano anterior, saindo de R$ 152 bilhões para R$ 218,5 bilhões. As aprovações aumentaram em todos os setores, com destaque para infraestrutura, com R$ 78,5 bilhões (crescimento de 23%), agropecuária, com R$ 42,5 bilhões (alta de 53%), e indústria, com R$ 31,7 bilhões (elevação de 41%).

No período, a carteira de crédito expandida, que abrange financiamentos, debêntures e outros ativos de crédito, totalizou R$ 515 bilhões, aumento de 17% ante a carteira do ano anterior.

Segundo o diretor Financeiro e de Crédito Digital para Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs) do BNDES, Alexandre Abreu, o montante representa a maior carteira de crédito da instituição dos últimos cinco anos. O aumento é justificado pela influência do crescimento dos desembolsos e pela apropriação de juros e atualização monetária.

A carteira de participações societárias totalizou R$ 79,9 bilhões em 31 de dezembro de 2023. O acréscimo de 28% frente a dezembro de 2022 ocorreu, principalmente, pela valorização dos investimentos já existentes em empresas não coligadas. Petrobras, JBS, Eletrobras e Copel seguem como principais empresas investidas na carteira total, uma vez que não foram realizados desinvestimentos relevantes no ano.

Mercadante, por sua vez, disse que o banco também contribuiu para aliviar as condições adversas do mercado de capitais, tendo subscrito 26% das emissões de debêntures incentivadas em 2023, e vem trabalhando para diversificar seus instrumentos de captação, para seguir viabilizando o apoio a setores estratégicos

O lucro líquido recorrente do BNDES registrou crescimento de 83% no último trimestre de 2023 em relação ao terceiro trimestre do mesmo ano, encerrando o ano com o acumulado de R$ 11,9 bilhões. O resultado foi influenciado pelo aumento das receitas das operações de crédito, a partir da expansão da carteira, e pela redução das despesas gerais, contrabalanceado por um menor saldo em tesouraria.

Carteira de projetos em preparação

Em sua apresentação, Nelson Barbosa, diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos, destacou ainda que o banco possui 131 projetos de estatais, da União, dos estados e de municípios, com expectativa de mobilização de capital de R$ 277 bilhões. Os projetos estão distribuídos entre diversos setores, incluindo gás natural, energia, mobilidade urbana, resíduos sólidos e iluminação pública.