Únicas vitoriosas do leilão de reserva de capacidade da sexta-feira passada, 30 de setembro, a Eneva e a Global Participações em Energia têm em comum a experiência com termelétricas a gás natural no Amazonas, e o fato de que usarão, nos projetos, gás natural de origem amazônica.
No total, serão investidos R$ 4,14 bilhões nos projetos, e o preço ficou no teto, de R$ 444/MWh, sem deságio, com receita fixa de R$ 2,47 bilhões. A Eneva venceu com as termelétricas Azulão II (295,43 MW) e Azulão IV (295,43 MW), e a Global Participações em Energia conseguiu contratar a termelétrica Manaus I (162,9 MW). Juntos, os três projetos vão comercializar 669,5 MW médios gerados a partir do gás natural de origem Amazônica.
A favorita
A Eneva era, de saída, a grande aposta do mercado para a disputa, por explorar gás natural na região, onde tem uma termelétrica em operação em Roraima, a Jaguatirica, e outra em construção no Amazonas, a Azulão I. No leilão de agora, a companhia levou as termelétricas Azulão II e IV, com 295 MW cada uma, e que terão as outorgas unidas e vão compor o parque Azulão II, com 590 MW em uma usina a ciclo fechado.
“Os investimentos no Complexo Azulão, considerando os 885 MW, vão totalizar R$ 5,8 bilhões”, disse Marcelo Habibe, diretor financeiro e de relações com investidores da Eneva, considerando dentro do complexo a Azulão I, também de 295 MW de potência, que foi contratada no leilão de reserva de capacidade de dezembro do ano passado.
Os desafios de logística são menos intensos que no caso de Jaguatirica – para a qual a Eneva precisa transportar o gás diariamente por 1.100 km para chegar na usina -, mas ainda assim são complexos, devido à necessidade de transporte de todos os equipamentos para o município de Silves, a 181 km de Manaus.
“Para o gás vamos ter que desenvolver um gasoduto, mas são distâncias curtas ligando o campo de Azulão a termelétrica”, disse Habibe. Hoje, a produção de gás natural da Eneva no campo de Azulão é de pouco mais de 1 milhão de m³ diários para atender Jaguatirica, volume que deve chegar a 5 milhões de m³/dia para atender o novo complexo que será construído.
Como se trata da continuação de um projeto iniciado há quase um ano, a Eneva já estava preparada para ser competitiva neste certame, o último a comportar a contratação de termelétricas neste ano. Segundo Habibe, as turbinas serão fornecidas pela GE, opção que estava na mesa desde a aquisição da primeira máquina. Os investimentos também serão otimizados, devido às sinergias entre as obras.
A solução de financiamento do ativo ainda não está fechada. “Vamos buscar captações da forma mais eficiente possível, possivelmente com financiamento do Banco do Amazonas, temos também conversas com o BNDES”, disse Habibe. Outras opções envolvem acessar o mercado de dívida, debêntures de infraestrutura, e usar caixa que vai começar a ser gerado dos projetos recentemente adquiridos, como os parques Futura, da Focus, a Termofortaleza, e a termelétrica Porto do Sergipe.
“O volume é grande, mas serão quatro anos de investimento. Com a geração de caixa e as linhas de financiamento, vamos pagar os projetos”, disse Habibe.
A companhia tem mais projetos na região e reservas certificadas de gás em Azulão da ordem de 14,8 bilhões de metros cúbicos. A decisão de entrar com 590 MW neste certame foi motivada pela gestão de risco de execução. “Achamos prudente dar esse passo agora, não exceder o volume, porque cairíamos num risco de execução que achamos prudente não correr”, disse.
A mais discreta
Assim como a Eneva, a Global também tem experiência com a operação de ativos de geração no Norte do país. Em operação desde 2006, a termelétrica Manauara, de 73 MW de potência, originalmente era movida a óleo combustível, e foi convertida a gás natural em um processo que teve início em meados de 2020. “Nossa história com o Amazonas é muito antiga”, disse Juliano Matos, diretor de Relações Institucionais da Global.
A companhia, que tem um perfil mais discreto, chamou a atenção do mercado em dezembro do ano passado ao ser uma das vencedoras do leilão de reserva de capacidade com as termelétricas Global I e II, com 258,8 MW, e Potiguar I e III, com 94 MW. As usinas, a óleo combustível, tiveram as habilitações invalidadas por terem Custo Variável Unitário (CVU) superior ao teto do leilão, que era de R$ 600/Wh.
Para o leilão de agora, a companhia concentrou seus esforços em apenas um projeto, da termelétrica Manaus I, também localizada em Manaus, com 163 MW de potência e que usará como combustível gás natural de origem amazônica. A Global afirmou ter um contrato de suprimento do gás, mas decidiu não revelar o parceiro por questão estratégica. O mesmo vale para a solução de financiamento, que está desenhada. A estimativa de investimento no empreendimento é de R$ 783 milhões.
“Estamos satisfeitos com o resultado e bastante motivados com o desafio que temos pela frente. A opção pelo gás amazônico isenta o consumidor do risco de flutuação da commodity, uma regra diferenciada para o certame”, disse Rodrigo Amaral, diretor Regulatório da GPE.
No total, o grupo, que tem sede na Bahia, tem 846 MW em ativos de geração em operação comercial, incluindo usinas a diesel, óleo combustível, e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).