* Por Braz Justi, CEO da Esfera Energia
O Brasil enfrenta a pior crise hídrica dos últimos 91 anos e seus reflexos já são percebidos nas tarifas de energia. Com a escassez de chuvas e os baixos níveis dos reservatórios, o governo aciona as termelétricas, que têm um custo mais alto, além de serem mais poluentes, e recorre à importação para atender a demanda. Alguns cálculos preliminares da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), apontam que a previsão é que os reajustes nas contas de luz ultrapassem os 10% ainda em 2021.
A situação pode se agravar, caso o período chuvoso entre novembro e abril frustre as expectativas – o que é bastante preocupante para um país que tem mais de 60% de sua geração proveniente de hidrelétricas. E o momento não poderia ser pior. Vários setores da economia estão sendo reativados e buscam se recuperar dos efeitos da pandemia, o que deve aumentar a demanda.
Fica evidente a urgência de investimentos na geração por meio de outras fontes renováveis, como a eólica e a solar, o que diminuiria a pressão sobre os recursos hídricos, além dos impactos ambientais. O Plano Decenal de Expansão de Energia projeta um crescimento de 32% na capacidade instalada de geração eólica e solar até 2025. Com isso, a participação dessas fontes na matriz energética passaria a ser de 15%, um cenário melhor que o atual.
Além de reforçar a importância de uma maior diversidade da matriz energética, a crise hídrica acelera o debate sobre um Mercado Livre de Energia mais acessível, inclusive aberto aos consumidores residenciais, ainda atrelados ao mercado cativo. O governo vem conduzindo uma abertura gradual desse ambiente de negócios, prevista para ser concluída em 2024.
Contudo, já é bastante positivo que tenhamos mais agentes livres em um futuro breve – o processo de abertura diminui os níveis mínimos de consumo exigidos para a entrada de novos consumidores. Hoje, o Mercado Livre atende 35% do consumo no Brasil e são mais de oito mil agentes livres no país. Esses números tendem a crescer.
Ainda que os consumidores do Mercado Livre também sejam afetados pelas crises hídricas, eles conseguem se proteger melhor desse impacto. Não apenas porque têm liberdade de escolher de quem comprar energia, mas porque podem negociar a compra com antecedência. Quando isso é feito de maneira estratégica, a transação ocorre em condições e momentos mais favoráveis, vantagem que os consumidores do mercado regulado não possuem.
Além disso, no Mercado Livre, o consumidor sabe o preço que pagará pela energia dentro do prazo estipulado em contrato. Essa previsibilidade financeira é outra vantagem que os consumidores do mercado cativo não têm.
Não à toa, tantas empresas têm migrado para o Mercado Livre e contratado consultorias especializadas na compra e venda de energia elétrica, alcançando reduções significativas nas despesas com esse insumo, graças à uma gestão de energia mais estratégica e direcionada.
O país tem o desafio de planejar o atendimento da demanda por energia elétrica com sustentabilidade ambiental e econômica. Crescem, portanto, as expectativas para um horizonte de matriz energética mais diversificada e consumidores mais livres para negociarem a compra da energia que precisam. Um mercado não apenas mais livre, mas mais justo e competitivo.
*CEO da Esfera Energia e especialista no setor de energia há 15 anos. Com experiência em Comercialização de Energia, Consultoria Regulatória e estruturação de negócios, Braz Justi tem passagens pela Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e Ecom Energia. Como empreendedor, fundou em 2012 a Simple Energy, deixando-a como uma das principais empresas prestadoras de serviços do setor elétrico brasileiro.
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