Marcos Leone e Paulo Mayon escrevem: Ampliação do mercado livre de energia e a segurança do mercado. Como avançar?

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Publicado

11/Mar/2022 15:00 BRT


Por: Marcos Leone Filho e Paulo Mayon*

Alguém lembra da privatização do setor de telecomunicações? Da chegada dos primeiros celulares? Das fichas de chumbo usadas nos “orelhões” (terminais de uso público)?

Parece coisa muito antiga, mas depois de 25 anos vejam o que esse aparelho representa para o funcionamento da nossa vida pessoal, profissional e até do sistema financeiro, onde milhões de pagamentos são processados por dia através do que antes achávamos que era apenas um telefone.

A digitalização do Setor Elétrico pode promover uma transformação ainda maior e mais rápida do que vimos no setor de telecomunicações. Acreditem! E teremos, por isso, muitas oportunidades e desafios pela frente. 

Começando pelas funcionalidades mais físicas voltadas para a distribuição de energia e eficiência energética, passando pela entrada maciça de veículos elétricos e híbridos, finalmente, chegaremos muito em breve ao efeito mais importante: “cliente-centrismo”. A digitalização como meio levará todo o sistema a se centrar no consumidor e “prosumidor” (aquele que também produz e armazena sua energia). A tecnologia como meio, permitirá ao cliente final, tomar as suas decisões de consumo de forma muito mais independente e autônoma.

Obviamente, essas oportunidades virão da abertura total do mercado livre de energia elétrica e do esforço genuíno em educar, informar, aparelhar e conhecer melhor o consumidor. Entretanto, para que tudo isto funcione em harmonia e segurança será necessário promover uma saudável competição para soluções de fornecimento de energia, perfeitamente ajustadas às características de consumo de cada pessoa ou corporação.

Concomitante com essas oportunidades, os desafios caminharão juntos.

A regulação já está a estudar e entender esse mundo novo, se desvinculando de décadas de foco exclusivo na modicidade tarifária, operação e garantia de fornecimento. Enquanto isso, os agentes do mercado aceleraram nos dois últimos anos suas estratégias comerciais, aumentando os esforços em conhecer os clientes, educá-los sobre o funcionamento do mercado livre e em “prototipar” soluções novas e atraentes.

E é nessa transformação em curso que uma das maiores preocupações surge: a segurança de mercado.

Com a avalanche de consumidores procurando as alternativas de mercado livre e geração distribuída, o setor já vem enfrentando algo inédito. Acostumado com a comercialização concentrada nos leilões de energia nova ou dedicada a grandes consumidores com ratings publicados, a chegada dos clientes de menor porte, sem balanços auditados e de diversos segmentos de atuação, representa um terreno novo a ser desbravado por geradores, distribuidoras e comercializadoras.

Como avaliar o risco de crédito desses novos entrantes? Que prazo máximo deve ser estabelecido nos contratos de compra e venda de energia? Que garantias devem ser requeridas para essas transações? Como processar essas análises de crédito com velocidade, padronização e assertividade, para ganhar negócios e crescer nesse novo ambiente?

O caminho para responder essas perguntas será necessariamente pavimentado pelo uso de soluções que combinem as melhores práticas de risco com muita tecnologia. O estágio atual da ciência de dados permite enorme agilidade e padronização na captura e o processamento de dados e imagens. Só esse passo já oferece um ganho sensacional para a avaliação de risco de crédito.

Geolocalização, taxas de inadimplência passadas, litigâncias, dívidas de impostos, reclamações de clientes e colaboradores, desvios de conduta e práticas ilícitas, são só algumas das possibilidades de captura e processamento cruzado para tornar essas avaliações melhores e mais poderosas. E vem mais por aí! Essa junção de alta tecnologia com ciência de risco tem também a condição de colaborar com análises e enquadramento de compliance, prevenção de fraudes, determinar tipos de garantias e até indicar clientes mais adequados para determinado tipo de fonte de geração, tipo de usina ou contrato de longo prazo.

Com a aplicação da tecnologia correta para cada fase do processo, a gestão de risco de crédito tradicional alçará um novo patamar na concessão de limites para cada novo cliente que se apresenta. Além disso, a aplicação de ferramentas tecnológicas* também permitirá um monitoramento personalizado, inteligente e dinâmico de toda exposição de risco contratada e dos limites de crédito ainda em aberto. Isso sem falar na enorme otimização de processos, redução de custos, e muito mais negócios para todos os participantes do mercado.

Resumindo, as mudanças advindas deste “combo” tecnologia e ciência de risco de crédito serão realmente disruptivas. Os benefícios extensos e tangíveis. E, dado o cenário que se avizinha, a empresa de energia que não colocar a inovação e o cliente no centro de sua estratégia, perderá muito sua competitividade.

O futuro é agora. E como dizia Walt Disney, “é divertido fazer o impossível, pois lá a concorrência é menor”. O Setor Elétrico Brasileiro atual com o arrojo dos seus participantes, muita inovação e menos regulação, se apresentará cada vez mais como ambiente competitivo, fértil e propício para ganhos relevantes e distribuídos. Tanto para os consumidores, cidadãos e empresas, como sobretudo para o meio ambiente.

*A maioria das ferramentas computacionais existentes atualmente, já colaboram com o êxito de iniciativas comerciais. Muitas delas resultantes dos avanços recentes na ciência da computação, como, por exemplo, Big Data e Machine Learning, já bastante difundidas e solidificadas, poderão representar um enorme avanço no controle e monitoramento da tão discutida segurança de mercado.

**Sócios e Fundadores da RISK3

Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e data da publicação.

As opiniões publicadas não refletem necessariamente a opinião da MegaWhat.

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