Por: Guilherme Dantas e Matheus Noronha*
Em função da natureza capital intensiva da indústria eólica offshore, o acesso a recursos financeiros em condições atrativas é fundamental para viabilização de projetos. Nestas bases, dada a relação direta entre nível de risco e custo de capital, é necessária a compreensão da percepção do mundo financeiro dos riscos inerentes ao desenvolvimento de projetos eólicos offshore.
A escolha do local em que o empreendimento será implementado, a realização de estudos de viabilidade, o desenho do projeto e, sobretudo a obtenção das licenças requeridas para a construção e para a operação dos parques, consistem em um conjunto de atividades demorado e com elevado nível de risco. Entretanto, representam uma parcela reduzida na estrutura de custos das usinas eólicas offshore. Tipicamente, são financiadas por meio de recursos corporativos dos empreendedores.
Vencidas estas etapas iniciais, chega o momento da construção dos projetos e aí os montantes financeiros requeridos passam a ser consideravelmente elevados. Como consequência, existe a necessidade de captação de recursos de terceiros, especialmente por meio da adoção da elaboração e adoção de project finance.
A priori, as especificidades da construção e operação de uma usina eólica no ambiente marítimo tendem a resultar na percepção que investimentos em projetos de geração eólica offshore apresentariam elevados níveis de risco. Diante aos desafios existentes, a implementação dos projetos requer a presença de construtores e fornecedores com competências diferentes. Logo, a complexidade da estrutura contratual entre estes agentes acaba por aumentar a percepção de risco dos investidores.
Neste contexto, projetos eólicos offshore acabam por contemplar exaustivos processos de due diligence em que uma infinidade de informações técnicas e econômicas dos projetos precisam ser disponibilizadas. Dentre as questões críticas a serem tratadas, se destacam os custos, previsão de receitas, desempenho da tecnologia, as condicionantes das licenças e a estabilidade do marco regulatório.
Todavia, a experiência internacional em anos recentes indica uma considerável redução da percepção de risco dos investidores em relação a projetos eólicos offshore. Como ilustração, o prêmio de risco exigido pelos mercados de capital do Reino Unido e da Holanda foi reduzido pela metade ao longo da década de 2010, tendo sido verificado tendência semelhante na Alemanha e na Bélgica.
Nestes países, o setor financeiro já considera investimentos na tecnologia eólica offshore como sendo convencionais. Este enquadramento é resultado do cumprimento do cronograma e do orçamento previamente estabelecidos nos projetos já desenvolvidos. Ademais, estes projetos vêm apresentando performance operacional compatível com as premissas consideradas na modelagem financeira do empreendimento.
Em síntese, se constata um grande interesse dos investidores em projetos eólicos offshore em jurisdições onde a indústria já é uma realidade. Efetivamente, projetos bem formatados estão tendo acesso a recursos de terceiros com custo do capital em condições favoráveis e a estruturas de financiamento cada vez mais diversificadas.
No Brasil, em função do caráter introdutório da indústria eólica offshore, algumas ressalvas precisam ser feitas no que tange à percepção de risco por parte dos investidores. Apesar da inexistência de um histórico de projetos, a presença de players internacionais já acostumados a implementar projetos eólicos offshore e a experiência brasileira no setor de óleo e gás offshore tende a contribuir para a mitigação do risco dos projetos. Porém, para que investimentos na tecnologia eólica offshore sejam tidos como seguros, serão precisos avanços que possibilitem o desenvolvimento de um ambiente de negócios favorável, sendo a presença de um marco regulatório bem definido e estável uma condição básica para a construção deste ambiente de negócios.
* Guilherme Dantas é sócio-diretor da Essenz Soluções. Doutor em Planejamento Energético pela Coppe/UFRJ e professor da FGV Energia.
Matheus Noronha é head de Energia Eólica Offshore na Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias. Doutor em Inovação e Negócios Internacionais e Professor da ESPM.
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