Opinião da Comunidade

Agnes da Costa escreve: O desconforto com o Dia das Mulheres

Por: Agnes da Costa Ontem foi o Dia Internacional da Mulher. Eu, pessoalmente, gosto das felicitações, na maioria das vezes proferida por homens. Mas é óbvio que não sabemos exatamente a motivação da felicitação: se é o reconhecimento de que somos preciosas como as mães e as filhas, algo a ser reconhecido e venerado por sua capacidade de cuidar, ponderar e colaborar; ou se é o reconhecimento da desigualdade de direitos entre homens e mulheres e um sinal de empatia.

Agnes da Costa escreve: O desconforto com o Dia das Mulheres

Por: Agnes da Costa

Ontem foi o Dia Internacional da Mulher. Eu, pessoalmente, gosto das felicitações, na maioria das vezes proferidas por homens. Mas é óbvio que não sabemos exatamente a motivação da felicitação: se é o reconhecimento de que somos preciosas como as mães e as filhas, algo a ser reconhecido e venerado por sua capacidade de cuidar, ponderar e colaborar; ou se é o reconhecimento da desigualdade de direitos entre homens e mulheres e um sinal de empatia.

Acho que o nome do dia não ajuda a resolver essa confusão, na França se chama Dia Internacional do Direito da Mulher. Mas aqui é apenas Dia Internacional da Mulher.

Fato é que eu entendo que está difícil ser homem e ser mulher hoje em dia. Tudo o que a gente faz pode ser mal interpretado. Muito desconforto.

Minha percepção é que os homens querem ser gentis e não ser considerados insensíveis, ou realmente mostrar que se importam com a causa, mas que eles pisam em ovos, porque não sabem como serão recebidos.

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Já as mulheres ficam na dúvida se é para agradecer pela consideração ou se é para vir com um textão ou palestrinha explicando que não adianta felicitar, tem que agir, de forma consciente e intencional, para reduzir as desigualdades de direitos entre homens e mulheres. Porque quem cala consente. A omissão diante de atos desproporcionais e da expressão de direitos desiguais é conivência, e quem é conivente nesse caso está contribuindo com a perpetuação da desigualdade.

Por outro lado, entendo que é positivo que esta data gere desconforto em homens e mulheres. Porque o desconforto nos faz refletir e até agir. Enquanto houver desconforto é porque há coisas a serem melhoradas.

No caso do Dia Internacional das Mulheres, espero apenas que esse desconforto sirva para nos unir. Pensando em nossas filhas, mas também em muitas esposas que se dedicam ao máximo enquanto profissionais esperando um reconhecimento que nunca vem, é que precisamos, pelo menos uma vez ao ano, desejar que as meninas e mulheres tenham acesso às mesmas oportunidades que os meninos e homens.

E, se isso ainda não é uma realidade, essa data é uma ocasião para que reafirmemos nossas convicções e compromisso de nos mantermos conscientes e de atuarmos, sempre que possível, e não só um dia por ano.

Agnes da Costa é diretora da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

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