Alessandra Amaral escreve: o impacto da crise climática na distribuição de energia elétrica

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Publicado

24/Nov/2023 17:00 BRT

Por: Alessandra Amaral*

Diante de um cenário de transição energética, todo o setor elétrico deve se reinventar, em especial as distribuidoras, que precisam lidar com uma operação mais complexa, caracterizada pelas micro redes e pelos fluxos de energia bidirecionais.

Sendo assim, entre os macro-desafios da distribuição está elevar a qualidade e a resiliência do serviço de fornecimento de energia elétrica, o que se torna muito mais difícil no cenário da crise climática.

Os eventos climáticos extremos, tais como nevascas, tempestades, inundações, tornados ou incêndios florestais, antes esporádicos e excepcionais, estão se tornando cada vez mais frequentes, intensos e imprevisíveis.

Estudo coordenado pela Eureletric, associação que representa os interesses comuns do setor elétrico na Europa, intitulado: “Connecting the dots: Distribution grid investment to power the energy transition”, mostra que, nos últimos 30 anos, o número de desastres naturais e eventos climáticos extremos na Europa cresceu significativamente.

Em novembro, por exemplo, várias cidades europeias foram castigadas com a tormenta Ciarán, que provocou bloqueios em estradas, destroços na infraestrutura, feridos e mais de 20 mortos, uma delas em Madrid, em decorrência da queda de uma árvore devido ao vento. No Brasil não tem sido diferente. 

No Rio Grande do Sul, a passagem de um ciclone, no final de setembro, provocou mais de 50 vítimas e 250 mil clientes sem eletricidade. No litoral Norte de São Paulo, em fevereiro deste ano, deslizamentos de terra provocados por um temporal histórico causaram mais de 65 mortes e destruição na região.

No início de novembro, o estado de São Paulo foi novamente sacrificado pelo clima. Com rajadas de vento superiores a 100 km/h, houve queda de diversas árvores sobre a rede elétrica, interrompendo o fornecimento de energia.

O combate a tais eventos climáticos extremos envolve não apenas as distribuidoras, mas também as prefeituras, o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil.

Diante dos casos recentes e da evidência de que tais fenômenos se tornarão cada vez mais frequentes, cabe aprimorar os processos e a governança de tais órgãos, visando diminuir o seu impacto sobre a população. Existem boas práticas a nível nacional e internacional que podem ser trocadas e adaptadas à realidade local.

Nos Estados Unidos, membros do Edison Electric Institute (EEI) estabeleceram um programa de parceria cujo objetivo é a assistência mútua entre distribuidoras para enfrentamento de eventos extremos.

Já no estado do Paraná foi publicada uma lei que estabelece limites para o plantio de árvores exóticas e nativas próximas a linhas e redes de distribuição de energia elétrica.

Sugestões de soluções para salvaguardar os interesses dos stakeholders devem passar, por exemplo, pelo desenvolvimento de estudos para viabilizar a constituição de fundos específicos para combate às catástrofes; pelo aprimoramento da governança em casos de declaração de emergência; pela discussão ampla com a sociedade sobre a definição de eventos climáticos extremos e a melhor forma de preveni-los e combatê-los; pela criação de um protocolo de ajuda mútua entre as distribuidoras para mobilização de equipes e recursos adicionais para restabelecimento do serviço em eventos extremos; e pela elaboração de um plano integrado para Mudança Climática, com governança conjunta entre distribuidoras, regulador, governo federal, estadual e municipal.

Trata-se de ideias iniciais para um tema que merece uma discussão ampla envolvendo distribuidoras, consumidores e governo, podendo também agregar experiências exitosas de outros países que vêm enfrentando problemas semelhantes.

*Alessandra Amaral, diretora-executiva da Adelat.

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