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Petrobras poderá ser seu próprio cliente nos investimentos em energias renováveis

Disposta a alcançar 5 GW em potência solar e eólica onshore com investimentos que somam US$ 5,2 bilhões até 2028, a Petrobras deverá usar a própria demanda em PPAs iniciais para os projetos. “A gente quer usar parte da nossa demanda como PPA para dar contrato aos projetos e como maneira de descarbonizar nossas operações”, disse o diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da companhia, Mauricio Tolmasquim, em entrevista à MegaWhat nesta terça-feira, 6 de fevereiro. 

Mauricio Tolmasquim, diretor da Petrobras
Mauricio Tolmasquim, diretor da Petrobras | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Disposta a alcançar 5 GW em potência solar e eólica onshore com investimentos que somam US$ 5,2 bilhões até 2028, a Petrobras deverá usar a própria demanda em PPAs iniciais para os projetos. “A gente quer usar parte da nossa demanda como PPA para dar contrato aos projetos e como maneira de descarbonizar nossas operações”,  disse o diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da companhia, Mauricio Tolmasquim, em entrevista à MegaWhat nesta terça-feira, 6 de fevereiro. 

Outra parte da energia gerada deve ser oferecida no mercado, “prioritariamente para consumidores livres, mas não há impedimento caso haja algum leilão”, disse o executivo.

A opção por vender parte da energia se explica porque a demanda da estatal não é grande o suficiente para absorver todos os projetos e porque não seria sustentável fazer o investimento para atender apenas ao próprio consumo. “E, além disso, não é o nosso objetivo. Queremos atuar no escopo 3, oferecer produtos renováveis no nosso portfólio. O uso da Petrobras em relação à própria energia renovável é considerado um escopo 2. A gente quer mesmo esverdear a nossa carteira de produtos”, disse.

A produção para suprir a própria demanda e o oferecimento de energia ao mercado seriam passos para o curto prazo. A médio prazo, a Petrobras pretende usar a energia renovável que gerar para a fabricação de produtos como hidrogênio e metanol verdes e e-fuels, além de incluí-la na geração de diesel R e combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), cujos processos produtivos também demandam hidrogênio.

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M&As de usinas de fontes renováveis

Tolmasquim confirmou que a empresa pretende focar em fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) de projetos, que podem estar em diferentes estágios. “M&A não quer dizer que você vai fazer com projetos operando. Pode ser com uma empresa que tenha um projeto praticamente greenfield”, disse. Ele também afirmou que os 5 GW devem ser alcançados em geração solar e eólica onshore, que têm tecnologia madura, regulação bem-estabelecida e mercado disponível.

As áreas preferenciais da companhia são o norte de Minas Gerais e a região Nordeste, que apresentam melhores condições de vento e de irradiação solar. Em relação à potência, Tolmasquim diz que a companhia tende a olhar projetos com pelo menos 300 MW. “É o mínimo do mínimo. A Petrobras é muito grande e a nossa governança é muito rigorosa, então você tem um tempo de tramitar todo o processo na empresa. Não se justifica se os projetos forem pequenos”, explicou.

Apesar de ter declarado, em outubro, que os M&As ocorreriam até o início de 2024, desta vez Tolmasquim ampliou o prazo para ao longo do ano, considerando os processos internos de tramitação que uma operação deste porte demanda. “Tem que fazer o due diligence, tem que ter uma oferta não vinculante. Depois você vai para a oferta vinculante. Então, tem uma série de etapas que são demoradas”, justificou.

Mesmo com todo o investimento em renováveis, a Petrobras não planeja se desfazer de seus 5,2 GW em geração térmica. Assim, as usinas solares e eólicas onshore representariam 50% da capacidade de geração da companhia.

Acordo sobre e-fuels

Outro PPA que pode estar prestes a ser finalizado é sobre e-fuels. Segundo Tolmasquim, “uma grande empresa europeia que já tem um PPA” está em negociação com a Petrobras para fornecimento de combustíveis sintéticos.

“O que a gente está investindo eventualmente, e a gente já está com um acordo, é e-fuels. Para produzir, você usa o hidrogênio verde mais o CO2 biogênico, que é produzido, por exemplo, por uma planta de etanol na fermentação. Você produz o hidrogênio verde com a eletricidade renovável, produz o CO2 da planta de etanol, e a partir dali você produz esses combustíveis sintéticos. E esses combustíveis sintéticos, a gente já está com um acordo com uma empresa europeia que já tem um PPA”, disse, sem mencionar o nome da companhia.

Apesar do acordo, o investimento em hidrogênio “ou derivados de hidrogênio” só será feito quando houver PPA garantido, disse Tolmasquim.

Plantas de hidrogênio verde

Ainda que as plantas comerciais não sejam para o curto prazo, Tolmasquim aposta na “revolução” que o hidrogênio verde poderá representar para o Brasil e para as atividades da Petrobras.

Segundo ele, a companhia planeja duas plantas-piloto do combustível no país, com o objetivo de avaliar questões técnicas relacionadas à intermitência das fontes renováveis. “Os eletrolizadores mais competitivos não são muito bem adaptados a energias variáveis. E, para ser competitivo, você tem que funcionar grande parte do dia. Então, tem que ver como vai firmar a sua energia”, explicou Tolmasquim.

De acordo com o executivo, uma das plantas deve ser no Rio de Janeiro. A outra foi detalhada pela companhia nesta quarta-feira, 7 de fevereiro, um dia após a entrevista com o executivo.

Segundo comunicado da Petrobras, serão investidos R$ 90 milhões em parceria com o Instituto Senai de Energias Renováveis (Senai-ER), no Rio Grande do Norte. A usina fotovoltaica existente no local terá sua capacidade ampliada de 1 MWp para 2,5 MWp para suprir a demanda da unidade piloto de eletrólise a ser instalada. O hidrogênio produzido será também utilizado para avaliar misturas com gás natural. O projeto tem duração prevista de três anos.

Apesar dos projetos-piloto, Tolmasquim esclarece que investimentos maiores em hidrogênio verde só devem entrar no planejamento da companhia quando o negócio for competitivo, com PPA firmado com outras empresas. Para ele, apesar de a Petrobras ter grande demanda de hidrogênio em processos como refino, o investimento para autoprodução não se justifica. “Não posso usar na refinaria antes e aumentar o custo do meu processo de refino”, avaliou.

>>> Petrobras volta para fertilizantes por hidrogênio verde e faz fundo bilionário para descarbonização

Geração offshore em águas rasas para fornecimento ao grid

Em geração eólica offshore, Tolmasquim acredita que o mais competitivo seria instalar usinas próximo à costa, em profundidades rasas e estruturas fixas, para abastecimento do grid.

A estatal tem protocolados, junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pedidos para licenciamento ambiental para 23 GW em eólicas offshore, modalidade de geração que ainda não tem regulamentação aprovada no Brasil.

Tramita no Congresso o Projeto de Lei 11.247/2018, que originalmente criava um marco legal para a exploração de energia eólica offshore mas que recebeu diversas emendas e pode passar por revisões no Senado.

Eólicas no pré-sal para descarbonizar produção

A Petrobras também tem projetos de medição de ventos na área do pré-sal. Segundo Tolmasquim, não faz sentido instalar eólicas flutuantes nesta região para oferecer ao grid. O racional da iniciativa está em preparar a companhia para um mercado em que as petroleiras estarão cada vez mais descarbonizadas.

“A demanda de petróleo deve cair. E quem vai ficar no mercado, provavelmente, serão as empresas que produzam ao menor custo e com o menor conteúdo de carbono”, avalia.

Segundo o executivo, já há uma tendência entre as petroleiras de eletrificar sua produção. “Mas as empresas que estão fazendo isso são praticamente onshore ou estão muito próximas à costa. Nosso grande desafio é que nós estamos muito longe. Não tem como você gerar energia renovável e levar até uma plataforma a 300 quilômetros de distância”, diz. Outro fator que poderia viabilizar a geração eólica na área do pré-sal seria um prêmio pelo petróleo de pegada mais baixa – o que não ocorre hoje.

“Pode ser que o conteúdo de carbono do petróleo seja um elemento importante no futuro. E aí a gente vai ter que competir com essas empresas que estão ali próximo da costa ou que estão no onshore e podem se descarbonizar. Nesse contexto eventual, pode até fazer sentido ter uma eólica offshore para descarbonizar a sua produção de petróleo”, avalia o diretor, lembrando que hoje a pegada de carbono do petróleo do pré-sal já é mais baixa que a média do mercado.